13 de novembro de 2020

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15:28

  O Doutor finalmente me deu algo para fazer, mas nunca pensei em um diário. Minha mão depois de algum tempo já começa a doer, pois o Doutor nunca me deu aulas ao longo do cotidiano, eu que tenho que pressioná-lo, por isso não sou acostumado.

  Deixe-me primeiro me apresentar.

  Meu nome é Felipe e tenho 15 anos. O resto não foi revelado por meu atual responsável muitíssimo "querido".

  Bom, conheça minha casa. Se é que uma prisão pode ser chamada de casa.

  Existe a porta principal, sempre trancada, que depois segue em um longo corredor. A primeira porta á esquerda é meu quarto, a segunda o banheiro e a terceira a cozinha, com um fogão imprestável de duas bocas, uma geladeira comum, uma pia, uma mesa pequena com duas cadeiras e uma caixa de ferramentas. O Doutor nunca investiu muito dinheiro na cozinha, nem no banheiro, com uma privada em condições miseráveis, uma pia e um chuveiro, com uma pequena bancada para não escorrer a água para fora, e nem em meu quarto, com apenas uma cama dura e um guarda-roupa cheio de traças.

  Á esquerda existe o quarto do Doutor, que é igual ao meu, um quarto com uma fornalha para construir novos matérias para o laboratório e para queimar o lixo. No teto existe vários furos minúsculos, para saída da fumaça. E também existe o laboratório no fim do corredor, ao qual ele investe todo seu dinheiro, com uma maca com algemas, várias bancadas para aparelhos e descartáveis diversos e uma cestinha de lixo. Esse é o cômodo ao qual sou submetido aos exames.


  Acho que você quer saber exatamente porque e como eu sofro aqui. Bom, para começar, o Doutor é a pior e mais idiota pessoa do mundo. Ele discuti comigo por coisas bestas e soca meu rosto por pensamentos que ele não concorda. Se ele acha que ele bateu com mais força que deveria, ele me algema na maca, me dá anestesia, abri meu fígado e o estuda, para demorar tanto tempo que quando eu acorde a anestesia foi tanta que a dor passou, porém minha boca fica como se eu já tivesse tido um AVC. Ontem, além de tudo, o Doutor me deu um soco na barriga que eu desmaiei. Quando acordei, ele havia dormido em sua cadeira e eu tinha o meu corpo aberto para análise. Com isso, fiquei com uma cicatriz horrível na barriga e está dolorido até agora.

  Ele está me chamando. Depois continuo.

17:02

  O Doutor não fez grandes coisas hoje, só pegou meu sangue e minha saliva e me prendeu em sua sala até terminar de analisar. Não sei porque ele o fez, mas pelo que disse que será uma experiência grande, como ele sempre disse para mim. Ele tem um foco para apenas um caminho em suas pesquisas, que pela explicação "é algo para mudar como a pessoa é, mudar seu rumo. Algo a mais em todos nós." Sempre que lhe pergunto ele sempre diz a mesma coisa. O Doutor é um homem reservado e de poucas palavras.

  Bom, continuando a falar sobre minha amável vida.

  O Doutor me pôs a tarefa de lavar os pratos, limpar a casa, tirar as traças, trocar e reparar todos os aparelhos eletrônicos existentes (fogão e geladeira) e limpar e consertar o encanamento, ou seja, ele só cuida do laboratório.

  Nunca vi ninguém do lado de fora. Ninguém entra nem nunca entrou, mas aposto que se acontecesse, o Doutor não deixaria sair.

  Aí você se pergunta: como é que nós temos comida se para sair obviamente tem que ser pela porta e eu nunca vi a droga do mundo lá fora? Simples: ele sai escondido. Ou seja, quando eu o procuro, ele não está e por segundos fico desnorteado. Afinal, mesmo ele sendo do jeito que é, ele é à quem estou acostumado á ver quando acordo. Não que eu sinta saudades desse velho vagabundo.



Diário de um cobaia ludibriadoOnde histórias criam vida. Descubra agora