Prólogo

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Eu olho ao redor do meu quarto atentamente enquanto penso pela milionésima vez se guardei tudo na mala. Checo minha lista e olho meu closet de novo, assim como banheiro e minhas prateleiras para logo depois respirar fundo e finalmente fechar a minha mala.

Acho que no fundo eu estou enrolando um pouco, por mais que eu esteja animadíssima com a minha vida daqui para frente não tem como simplesmente ir embora da casa em que cresci e dizer adeus aos meus amigos sem sentir pelo menos um aperto no peito.

Penso na minha mãe lá embaixo preparando o jantar enquanto cantarola uma música antiga que só ela conhece (e que depois de tantos anos, acabei aprendendo), passando constantemente as mãos pelo seu avental tentando conter o nervosismo pela minha partida amanhã.

Imagino o meu pai se levantando do sofá, deixando seus programas de esporte de lado para dar-lhe um beijo na bochecha em busca de um pouco de calma, mas sentindo tanta ansiedade quanto ela. O pensamento me faz rir um pouco, mas também deixa meu coração ainda mais acelerado, como sentirei falta deles.

Não sei quanto tempo fico analisando minhas malas fechadas sobre a cama e a muda de roupas que escolhi para a viagem perfeitamente pendurada no cabide ao lado direito do meu closet, mas dou um pulo quando ouço a voz do Scott vinda da porta.

"Minha universitária, como está o coração com sua partida amanhã?" Pergunta sorrindo e sua voz grossa e calorosa me deixa um pouco mais calma.

"Ainda não sei. Por um lado, estou extremamente feliz, mas por outro sinto um aperto enorme no peito por virar essa página da minha vida." Ele me olha de um jeito carinhoso e anda na minha direção, me envolvendo em seus braços fortes.

Scott é meu primo, mas devido à pouca condição financeira da sua mãe e ao sumiço do seu pai acabou morando com os meus pais, o que fez dele um irmão para mim.

Ele fica um tempo comigo em seus braços afagando levemente meu couro cabeludo e quando me dou conta as lágrimas já escorrem pelo meu rosto.

"Já estou chorando, meu Deus!" Eu digo rindo do descontrole das minhas emoções e sinto o seu peito vibrando pela risada.

"Relaxe, Charlie, você vai para faculdade dos seus sonhos, sei que é longe, mas o tio Robert e a tia Judith não poderiam estar mais felizes, sei que vai sentir saudade, mas não é como se você não fosse mais voltar." Ele diz num tom reconfortante e eu dou um sorrisinho.

"Você está certo, Scott, não vou mais chorar." Ele tem toda a razão, estou realizando um sonho e os meus pais estão muito orgulhosos de mim, não há motivos para chorar.

Ele dá uma piscadinha ao ver que suas palavras surtem efeito e nós descemos para jantar. O jantar foi repleto de sorrisos e olhares orgulhosos vindos dos meus pais, isso só me dá ainda mais certeza de que o Scott está certo e o aperto que eu sinto vai diminuindo aos poucos dando espaço apenas para a empolgação.

Acordo no dia seguinte com uma euforia explodindo no meu peito e vou checar as minhas mensagens, decido ler antes de me levantar para ganhar mais uns minutinhos de preguiça.

A primeira é da minha prima Ângela, ela está na faculdade e não pode se despedir de mim, mas sei que mesmo de longe ela me deseja toda sorte do mundo.

Sei que não estamos mais tão próximas, mas espero que você tenha muito sucesso em Londres! PS: não me apareça aqui sem ter um exemplar de inglês maravilhoso sentindo falta da sua cama! - A

Não tem problema, Ang! Obrigado pela força! E pode ficar tranquila que eu não volto de lá sem ter tido pelo menos alguns exemplares de ingleses maravilhosos na minha cama. Sinto sua falta! - C

Olho a próxima mensagem e vejo que é o Tommy, dou um sorriso malicioso para a tela enquanto leio.

Bom dia, C! Boa viagem hoje, vou morrer de saudades de você, principalmente à noite. - T

Digito rapidamente uma resposta e faço o mesmo com as outras que, em sua maioria, são mensagens de boa sorte e boa viagem.

Quando finalmente acabo, resolvo parar de enrolar e me levanto para começar a me arrumar. Tomo um banho, seco os cabelos calmamente deixando-os um pouco mais lisos que o normal, escovo os dentes e passo uma maquiagem leve.

Ando até a minha cama e pego a roupa que escolhi no dia anterior. Não é nada demais, apenas uma calça jeans preta com alguns rasgos na altura dos joelhos, uma blusa rosa sem mangas que deixa um pouquinho da minha cintura a mostra e um sobretudo preto grosso. Por mais que adore usar saltos, acho melhor usar uma sapatilha, ninguém merece passar onze horas em um avião com sapatos desconfortáveis.

Assim que termino de me ajeitar desço para tomar o café da manhã e depois de muitos abraços e palavras de orgulho da minha mãe, recebo um sorriso encorajador do meu pai e quando me dou conta já está na hora de ir. Scott se ofereceu para me levar até o aeroporto já que minha mãe achou que não conseguiria me ver entrando no avião, ela é muito sensível. Meu pai decidiu ficar com ela, para dar apoio, então Scott não teve muita opção no fim das contas.

Subo as escadas, dou uma última olhada no meu quarto, pego o meu celular, meus óculos escuros e com a alegria tomando conta de mim me despeço dos meus pais para partir para minha nova vida.

Entre Desejo e Vaidade || H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora