Capítulo III - Os Lumière

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Ashhar e Aerdor guiaram o jovem novato pelos bosques cheios de vida, muitas árvores, bichos, pássaros, tudo quase natureza pura. Mas existiam as construções élficas, que mais pareciam feitos por anjos, tudo em tons claros e delicados, com monumentos e detalhes em alto relevo.
Logo na entrada da tribo Caranfalas, onde ficaria Alberto, via-se um grande arco, coberto de plantas trepadeiras que davam um ar gracioso com suas flores minúsculas e brancas. Dali para frente, tudo parecia fantasioso demais, de tão belo . Construções mais arredondadas do que retas, plantas e detalhes de coisas da natureza (em geral folhas e frutos) esculpidos em portas, mobílias e torres daquela tribo.

Beto pode ouvir, de vários elfos por quem passou, o nome "Lumière" ser pronunciado, notou isso até mesmo nos homens que conseguia enxergar no caminho, e também nos anões, todos com expressão tensa ao falarem. Tudo ali era fascinante, e afinal, ele não era o único diferente dos elfos. Mais uma vez o tal nome fora pronunciado nas conversas alheias, e mais uma vez, e outra. Então, quando finalmente chegaram a porta do que deveria ser a casa de Ashhar, o elfo resolveu retirar a curiosidade de Alberto. O anfitrião parecia entender cada pergunta de sua visita antes mesmo que ele falasse.

- Ouviu o nome novamente, numa freqüência grande. Ficou com ciriosidade de saber quem são os Lumière?

- Meu caro, ninguém parece gostar muito deles, os tons de vozes e expressões não me pareceram confiáveis. São inimigos?

- Os Lumière, - Ashhar sorriu de leve, um sorriso de sabedoria - são os reis de tudo isso que pode ver. No entanto, o atual Rei não tem agradado muito com suas atitudes. Por isso o trouxe para cá.

- Um rei complicado, certo. Mas o que eu tenho haver com isso?

- Alberto, os Lumière vem pondo seus descendentes aqui geração após geração, e temos sustentado tudo isso para eles. No entanto, Gerard II , o atual Rei, resolveu que sua descendência tem que ser pura, e todos os seus descendentes devem ser os melhores dominadores. Casou-se com Marie Clare, uma jovem de sua mesma nacionalidade e também dominadora, para com ela ter filhos dominadores. O problema, agora, é que ele resolveu que apenas os seus podem ser dominadores.

- Então ele não quer outros que não sejam de sua descendência praticando isso ou resolveu eliminar os que não são de seu sangue?

O tom de voz levemente temorosa de Alberto, fez os olhos de Ashhar parecerem mais escuros do que são na realidade. E um tom amargo brotou na voz do seu novo amigo.

- Ele está perseguindo aqueles que não são seus. Mas não deve temer isso. Em Caranfalas estará seguro. Eu e Aerdor já temos nosso grupo, estamos cuidando de todos os dominadores, a fim de que após preparados possam voltar à sua terra e fugir dos riscos. - Os olhos de Ashhar pousaram sobre a aliança na mão esquerda de Alberto. - e você não pode correr tantos riscos. Tem a quem voltar.

- Vão me ajudar com isso? Digo, tem alguém que entenda o que sou e que poderá me ajudar?

- Você domina o fogo, -ele sorriu - Existem certas técnicas, que precisa aprender. Quando estiver fluindo de você naturalmente, estará proximo para voltar aos seus.

Os dias se seguiram, e os encontros para treinar e dominar o fogo já haviam virado rotina para Alberto, todos oa dias, sem falta, o elfo e ele treinavam em um campo aberto sem construções, para evitar acidentes com fogo.
Aerdor quase nunca aparecia, mas ja havia mudado sua forma de reagir. Nos primeiros dias, não media esforços para guardar e esconder Alberto de olhos indesejáveis. Ja nos últimos dias, quando Ashhar não estava, ele treinava Beto sem nenhum segredo, um sorriso sarcástico brotara no dia anterior. Alberto ja não tinha mais qualquer segurança no elfo da tribo Bain.
Ashhar notara a diferença de comportamento, e resolveu reagir, treinando Alberto sem ajuda de terceiros, faria ele mesmo o trabalho. Mas aquela ruga de preocupação que pintara o cenho de Ashhar naquela manhã, inquietou o brasileiro de tal forma, que ele parou de treinar sem pedir permissão e se aproximou.

- Ashhar. Gostaria de ter duas palavras com você.

O elfo se dispôs a ouvir, focando sua atenção no seu pupilo.

- Noto que seu amigo, Aerdor, não aparece mais em treinos ou até mesmo na tribo. Percebi que anda preocupado demais, não é sempre que uma ruga de expressão pinta o rosto de jovens.

Ashhar, num sorriso sábio, modificou o olhar para aquele dos ensinamentos. Ainda havia algo que e esquecera de contar ao jovem dominador.

- Alberto, acredito que esqueci de contar-lhe um detalhe sobre nós elfos. Somos aparentemente jovens, mas na verdade vivemos muitos anos, eu não tenho sua idade como pensa, tenho 70 anos, minha aparência é nova apenas pelo fato de que vivemos mais de 200 anos.

A expressão de curiosidade e fascínio de Alberto era contagiante,mas deveria ser interrompida.

- Mas o que deve o manter preocupado não é minha idade, mas como você falou, minha preocupação. Aerdor largou a guarda dos dominadores. Ele se vendeu ao Rei por uma nova tribo. - ele parou para pensar- não o julgue. Da tribo verdadeira dele só restaram cinco no total. Gerard II o prometeu seus elfos desconfiança e terras novas para que ele montasse novamente a tribo Bain, como era originalmente, nas terras mais frias de Atlas, em troca de sua lealdade apenas. E por ser um desejo antigo, ele não recusou.

Alberto agora estava pasmo. Como poderia um amigo ser tão traidor assim por tão pouco? Onde ficara a honra e a palavra daquele elfo derradeiro? Não teria palavra?

O fato agora era que, mesmo com Ashhar tão sábio à frente de tudo, restara a preocupação de saberem como se esconder, agora que todos seus esconderijos estavam ao alcance do Rei. E foi ao pensar nisso que Alberto ouviu, ao longe um barulho incomum por ali, barulho de gritos leves e distantes. Ele vira Ashhar se indireitar e se apressar em lhe entregar uma espada e tomar para si um arco e flecha, que pegara na casa mais próxima. E as palavras do elfo os deixaram em choque por alguns segundos.

- Tente se proteger como puder. Estamos sendo invadidos.

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