1- Uma princesa em outro planeta

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Dizem que muita coisa pode acontecer em um verão.

Ou não.

É o primeiro dia do último ano da escola e, pelo que posso perceber, estou exatamente igual ao ano passado.

Assim como minha melhor amiga, Lali.

- Não se esqueça, Bradley: precisamos arranjar namorados este ano - diz ela, dando partida na picape vermelha que herdou de um de seus irmãos mais velhos.

- Saco. - Era pra gente ter arranjado namorado no ano passado e nada. Abro a porta e entro correndo, escondendo a carta dentro do livro de biologia, onde, imagino, não possa causar grandes danos. - Já conhecemos todos os garotos da escola. E...

- Na verdade, não os conhecemos - diz Lali, enquanto muda para marcha a ré, olhando por cima do ombro. De todas as minhas amigas, Lali é a que dirige melhor. Seu pai é policial e insistiu para que ela aprendesse a dirigir quanto tinha 12 anos, para o caso de alguma emergência.

- Ouvi dizer que tem um garoto novo. - sugere ela.

- E daí? - O último garoto novo que entrou na nossa escola acabou se revelando um sequelado que nunca mudava de macacão.

- Jen P disse que ele é bonitinho. Munro bonitinho.

- Ahã. - Jen P era a presidente do fã-clube de Leif Garrett na sexta série - Se ele for realmente bonitinho, Donna LaDonna vai ficar com ele.

- Ele tem um nome esquisito. - observa Lali - Sebastian alguma coisa. Sebastian Little?

- Sebastian Kydd? - Engasgo.

- Isso mesmo. - responde, entrando no estacionamento do colégio. Ela me olha desconfiada. - Conhece ele?

Hesito, meus dedos já procurando a maçaneta.

Meu coração está pulsando até a garganta; se eu abrir a minha boca, tenho medo de que ele pule pra fora.

Sacudi a cabeça.

Já passamos da porta principal da escola quando Lali repara em minhas botas. Sai de vinil branco e têm uma rachadura num dos bicos, mas são autênticas botas go-go do começo dos anos 1970. Imagino que as botas tenham tido uma vida muito mais interessante que a minha.

- Bradley. - Ela diz, olhando as botas com desprezo - Como sua melhor amiga, não posso permitir que use essas botas no primeiro dia do nosso último ano.

- Tarde demais. - digo afetadamente - Além disso, alguém tem que ousar um pouco mais aqui.

- Mas não vá ousar demais. - Lali faz uma mímica de arma com uma das mais, beija a ponta do dedo e aponta para mim antes de virar para ir até seu armário.

- Boa sorte, Pantera. - digo. Ousar demais. Rá. Estou longe disso. Principalmente depois da carta.

"Cara Srta. Bradshaw.", dizia.
Obrigado por se inscrever no Seminário de Verão de Literatura Avançada da New School. Apesar de suas histórias serem promissoras e imaginativas, lamentamos informar-lhe que no momento não podemos lhe oferecer uma vaga no programa.

Recebi a carta na última terça-feira. Li e reli umas 15 vezes, só para ter certeza, e então tive de largá-la. Não que eu me ache muito talentosa nem nada, mas, pela primeira vez na vida, fiquei na expectativa de ser.

Não contei a ninguém sobre ela. Eu Não tinha nem contado a ninguém que havia me inscrito, nem mesmo para meu pai. Ele estudou na Brown e quer que eu também vá para lá. Ele acha que eu seria uma boa cientista. E se eu não me der bem com estruturas moleculares, sempre posso mudar para biologia e estudar insetos.

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