A partida

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  - Você acha que ela vai voltar?  - Elise pensou em voz alta enquanto calçava outro par de sapatos. Achei que aquele par específico tinha sido dado para mim, mas com tantos presentes era difícil controlar. Nós sequer tínhamos nos dados ao trabalho de levá-los da sala que Maxon havia separado para nossa própria comemoração de Natal, apenas ele e a Elite. Quer os sapatos fosse meu ou dela, eu não ia brigar por isso. Esse tipo de coisa era passado.
  - Ela vai voltar - insisti. - Ela não é de desistir.
  Kriss jogou uma echarpe de pele por cima dos ombros, sinal definitivo de que ela estava para sair do palácio, na minha opinião. Por que Maxon lhe daria pele se pensava em mantê-la em Angeles?
  - Não acho que se trata de desistir - ela conjecturou - Tem mais a ver com ser capaz de se reerguer. Vocês viram como ela fico depois da saída de Marlee, e agora é o pai dela. Eu estaria arrasada.
  - Eu também - Elise reconheceu.
  - E eu - concordei.
  Olhei para aquela pilha de presentes, me perguntando se Maxon me daria uma mala extra para levar tudo aquilo para casa. Com certeza eu partiria a qualquer momento. Se alguém colocasse Elise, Kriss, América e eu lado a lado, eu ainda pareceria de longe a escolha mais óbvia para princesa. Eu admitia que parte de mim ainda se apegava à esperança de conseguir de algum jeito. . .
  Mas eu sabia - talvez até antes que o próprio Maxon - que seria América.
  A pouca vaidade que me restava precisava que fosse ela. A ideia de perder para outra pessoa me botava em parafuso. Ela era a única concorrente à minha altura,
  Acho que ela não me chamaria de amiga, não quando tinha suas irmãs e ainda falava de Marlee como se ela estivesse presente. Mas tudo bem. Eu não precisava que ninguém me considerasse uma amiga. Ter uma pessoa para chamar assim já me bastava.
  Talvez eu pudesse trabalhar nisso quando voltasse para casa. Algumas daquelas joias abriram muitas portas.
  - Vamos fazer uma promessa - Kriss disse. - No ano que vem, não importa onde estejamos, vamos todas trocar cartões de Natal pelo correio.
  Abri um sorriso. Eu ia receber cartões no ano seguinte.
  - América ia gostar, eu acho - Elise acrescentou. - Seria algo para distraí-la da tristeza que essa época do ano vai trazer.
  - Muito bem notado, Elise. É uma promessa - afirmei. Nós duas trocamos um olhar. Era pouco provável que algum dia ela me perdoasse de verdade, mas uma conversa amistosa era um passo enorme, mais do que eu merecia.
  - Será que precisamos pedir umas cestas? - Kriss perguntou. - Não faço nem ideia de como começar a levar tudo isso para o quarto.
  - Ele é generoso demais - eu disse, com uma sinceridade do fundo do coração. Maxon Schreave tinha sido bom demais para mim.
  - Quem é generoso demais?
  Todas nós voltamos ao som da voz de Maxon e nos pusemos de pé.
  - Você, claro - Kriss se derreteu. - Ainda estamos explorando as pilhas de presentes.
  Ele deu de ombros.
  - Fico feliz por terem gostado.
  - Tudo muito bem pensado - Elise disse; sua voz soava ainda mais baixa com ele por perto.
  Ele sorrio para cada uma de nós e observou uma a uma com um olhar decidido antes de limpar a garganta.
  - Elise, Kriss, vocês poderiam por favor voltar para o quarto? Preciso falar a sós com Celeste. Logo vou visitar cada uma de vocês.
  Fiquei gelada. Era isso! Tudo tinha chegado ao fim, e ele ia me contar. Eu me perguntei se era essa a sensação pouco antes de um desmaio.
  - Claro - Kriss fez uma reverência e foi em direção à porta, seguida por Elise.
  Maxon e eu a observamos esgueirar-se para fora, o rosto coberto pelo cabelo negro brilhante como se não a fôssemos notar se não a olhássemos nos olhos. Assim que saiu, soltei uma risadinha, ao passo que Maxon sacudiu a cabeça.
  - Acho que eu a deixo nervosa.
  Revirei os olhos.
  - Tudo a deixa nervosa, mas você com certeza a deixa ainda mais.
  Ele estreitou os olhos.
  - Mas eu nunca deixei você nervosa. Nem no começo.
  Abri um sorriso.
  - Não sou do tipo que se intimida fácil.
  - Eu sei - ele disse, para em seguida dar a volta e sentar no sofá em que eu estava sentada antes. - Sente-se por favor.
  Me juntei a ele e passei a mão pela saia do vestido. Maxon continuou:
  - Essa é uma das coisas que mais gosto em você, na verdade. Admiro sua tenacidade, sua tenacidade, sua garra para viver. Acho que vai ser bem útil.
  - Depois que eu sair do palácio, você quer dizer?
  O sorriso dele diminuiu.
  - Sim. Depois que você sair do palácio - ele confirmou, balançando a cabeça - Não dá para esconder nada de você, dá?
  Apertei os lábios, me esforçando muito para não chorar. Parte de mim se sentia aliviada, mas a maior parte de sentia destruída.
  Eu perdi.
  - Eu pretendia explicar tudo antes de dizer isso. Ainda posso explicar se você quiser.
  Ouvir uma lista dos meus defeitos em voz alta? Nao, obrigada.
  - Tudo bem - respondi com a voz mais animada que conseguir produzir - Espere, então é Kriss? Quer dizer, Ametis está fora, e você ja percebeu como Elise é frágil.
  Maxon endireitou o corpo.
  - Não tenho liberdade de fazer comentários sobre a possível vencedora. Mas América está voltando ao palácio.
  - Está? - perguntei, quase sem ar. Fiquei entusiasmada. Porque eu sabia que o retorno dela era um sinal de sua vitória. Se ele não a quisesse, não seria cruel a ponto de fazê-la voltar ao palácio só para ser rejeitada.
  - Sim, ela deve chegar amanhã.
  - Será. . . Será que preciso sair agora, ou posso ficar para vê-lá?

Cenas de Celeste - Kiera CassOnde histórias criam vida. Descubra agora