Pior dia da minha vida

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Depois de algum tempo eu tava aprendendo a me virar sozinha, tudo bem, as vezes é até bom ficar só. Passei o resto do ano sem me relacionar com ninguém, nada de amizades novas, de pessoas novas, era apenas eu e Deus. Tudo bem, eu não tava feliz, mas o que eu poderia fazer, era melhor eu está só, do que roeada de pessoas que fingiam se importar comigo.

Janeiro de 2014

Mas um ano tinha se acabado, acreditava que seria um ano melhor pra mim, eu poderia até me apaixonar quem sabe, mas eu me enganei. Passei as férias em casa, assistia, comia, ficava nas redes sociais, apenas.
Quando as aulas voltaram, tive que voltar a ver a cara dos meus antigos "amigos", eles pareciam feliz sem mim, enquanto eu ficava apenas calada na minha. Eu vi Diogo também, ele como sempre tava arrodiado de mulher, ele passou por mim com os amigos dele e riu, aquele ridículo, deu uma vontade de pular no pescoço dele, não suportava mais ver ele, pra a minha sorte esse ano ele caiu numa sala diferente da minha, amei.
As coisas tavam indo normais, ninguém tava me enchendo mais e eu tava numa boa, o ano tava indo bem, já estava no meio do ano, não crie expectativas por isso não tive decepções, mas um dia na aula, eu estava sentada fazendo uma tarefa, e comecei a ver uma movimentação estranha lá fora, achei muito estranho, fiquei desconfiada, mas deixei pra lá.
Só que em um momento a coordenadora da escola foi na sala e me chamou, fiquei sem entender, ela então me pediu pra ir na secretaria com ela e todo mundo na sala ficou me olhando, ela tava estranha, fiquei com medo, eu não tinha feito nada o que será que teria acontecido.

- Emilly eu preciso que você fique calma, eu não sei como te contar isso... Falou a coordenadora.

Eu fiquei fora de mim e já fui gritando e perguntando:

-O que aconteceu? Me fala por favor, fala logo, cadê meus pais eu quero, meus pais, foi com meus irmãos, me responde logoo.

-Calma, Emilly, tome essa água logo.

-EU NÃO QUERO ÁGUA, diga logo pelo amor de Deus.

-É que... Eu não sei como te dizer, mas seu pai..

Não deixei nem ela terminar de falar e comecei a chorar e gritar.

- O que tem meu pai? O que aconteceu com ele, ai eu vou passar mal.

-Tente ficar calma, por favor, é que ele bebeu de novo e saiu dirigindo, e acabou que ele teve um grave acidente.

-Me diz que ele não morreu, me diz, fala que ele ta bem, meu pai não.

-Eu não sei te dizer, só sei disso, desculpa.

Eu sair descontrolada da escola, não sabia o que fazer, eu só chorava, Diogo viu e foi atrás de mim, eu empurrei ele e mandei ficar longe de mim e corri o mais rápido possível.
Quando cheguei em casa tava todo mundo chorando, eu fui logo perguntando cadê meu pai, falei que queria ele, e todo mundo calado, cheguei perto da minha mãe e perguntei:

-Mãe em qual hospital ele tá? Me diz mãe, eu quero ver ele.

Ela só chorava, e me abraçou forte e falou pra mim:

-Filha, eu te amo viu e você precisa ser forte, o seu pai morreu na hora, o carro capotou várias vezes e ele tava sem cinto.

-NÃO ISSO É MENTIRAA, PARA DE BRINCAR COMIGO, MEU PAI NÃO MÃE.

Eu desmaiei, e quando acordei tava na cama, imaginei que tivesse sido um pesadelo, mas quando vi minha casa tava cheia de gente, aquilo tudo não poderia ser real, eu não podia aceitar aquilo, a vida realmente é cruel, eu não tinha forças e nem lágrimas mais para chorar, todo mundo que estudava comigo tava lá. Alguns foram no quarto falar comigo e eu só conseguia olhar fixamente pra parede e imaginar como seria minha vida sem meu pai, ele podia beber, as vezes agir errado, mas ele sempre nos amou, e acima de tudo eu semprei o amei.
Ouvir uma voz no fundo do quarto falando que se eu precisasse poderia contar com ele, era o Diogo, eu só agradeci. Vinheram me chamar falando pra eu me arrumar pro velório, eu ainda não tinha caido na real, com pouco tempo o corpo do meu pai, do MEU, eu não conseguia olhar, era horrível, aquele homem ali não poderia ser ele, todo mundo chorando, e eu gritava, gritava, pedia pra ele voltar, pra ele me levar, eu pedia PAIIIII NÃO ME DEIXA AQUI, por que tinha que ser ele? Por que? Não poderia ser eu? Por que ele tinha que beber e ainda sair por ai dirigindo, por que você fez isso comigo, por que, minha mãe não me deixou ir pro enterro, me doparam, o que foi pior, eu dormir de novo. Acordei no outro dia sem saber de nada, o que realmente tava acontecendo com minha vida, por que Deus quis que meu pai se fosse. Por que de novo me deixaram.

Eu não sabia como seria minha vida agora, com que cara eu iria sair na rua, como eu iria encarar as pessoas, eu pensei em me matar, mas não poderia causar mais dor para minha mãe e meus irmãos, eles precisavam de mim tanto quanto eu deles.

Sentamos a mesa para almoçamos e foi estranho, todo mundo muito quieto, um silêncio perturbador, até que minha mãe começa a falar.

-Meus filhos eu sei que é difícil pra vocês, eu os amo muito, e eu sei que o que estamos passando é muito difícil, mas estamos juntos nessa.

Eu fiquei algumas semanas sem ir pra escola e quando voltei todo mundo ficava me olhando com cara de pena, aquilo me matava, eu não suportava aquilo. Eu tava mal e não conseguia estudar, eu só imaginava eu chegando em casa e vendo meu pai, ele brigando, me abraçando, tanto faz, eu só queria ele.

Quando perdemos alguém, também perdemos uma parte de nós, parece que ta faltando um pedaço do meu coração, ele ta incompleto e pra sempre vai ficar, é uma dor imensa e impossível de explicar. Tudo que eu queria era sumir, desaparecer.

O ano estava acabando e eu não via a hora de sair daquela escola, eu já iria entrar no ensino médio, se eu desse sorte iria ficar em uma turma diferente do pessoal da minha sala. Continuei na minha, tava deprimida, mas eu tinha que seguir minha vida e tinha prometido pra mim que o próximo ano eu ia ser diferente e iria fazer diferente.

Minha vida não era a mesma e eu também, as pessoas tentavam se aproximar de mim e eu tentava as afastar, não queria me apegar a ninguém pra ver depois partir. O Ano tava acabando e eu continuava sem saber o que fazer da minha vida, apenas sabia que eu devia continuar tentando viver.

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