Capítulo 8

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Estou em um beco escuro, em um bairro que não conheço. Estou correndo desde que consegui golpear o Marcos com uma luminária. Me abaixo e sento em um concreto, encosto minha cabeça na parede, está tão frio, deve ser o medo. Fazia seis anos que não via o Marcos, cheguei a pensar que estivesse morto, e seria melhor que estivesse. Ele continua do mesmo jeito, barbudo, dentes grandes e amarelos por causa do tabaco, sobrancelhas grossas, e aquela cara que me dá enjoou.

Olho meu celular e já são 23h24min, preciso ir embora antes que ele me ache. Tenho que passar por uma rua onde vários homens fumam e bebem. Os caras me observam de longe, atravesso a rua e continuo andando rápido pelo outro lado da calçada. Dois homens se levantam e atravessam a rua em minha direção, apresso o passo, mas um deles entra em minha frente.

- O que vocês querem?!- pergunto assustada.

- Não queremos dinheiro, nem celular, nada de valor... Sabe faz tempo que não pegamos uma mocinha linda assim.- diz o homem que está impedindo a minha passagem.

- Deixe eu passar, agora!- grito tentando empurrar ele.

O outro homem segura meus braços e me empurra contra a fachada de um prédio, sinto o concreto gelado em meu rosto.

- Por favor, me soltem! Podem ficar com a bolsa, tem dinheiro aí. Me soltem, por favor!- suplico.

Algum deles me empurra para baixo, arranhando meus joelhos na calçada. Eles cochicha algo entre si, e depois vem até onde estou e puxa meus cabelos fazendo eu ficar em pé, depois sai em rumo ao grupo de homens. Olho em volta e vejo minha bolsa no chão, intacta, e eles distraídos dando gargalhadas. Lentamente puxo minha bolsa para próximo a meu corpo, e a coloco em meu ombro. Em um rápido movimento me ponho a correr, uma coisa muito difícil de fazer por causa dos saltos, mas por ser a segunda vez que corro já acostumei, se soubesse que ia acontecer tudo isso tinha posto coturno e não esse scarpin.

- Volta aqui sua vadia!- ouço os caras gritando e brigando entre si. Me arrisco a olhar pra trás e os dois que me encurralaram correm em alta velocidade.

Viro em algumas esquinas tentando despista-los, mas é em vão. Atravessando uma rua piso em um desnível e caio, sinto meus joelhos voltando a sangram e meu tornozelo pulsando de dor. Ouço os passos dos caras mais próximo, e tento levantar, mas não consigo, estou esgotada. Não vou mais resistir, vou me entregar, já estou acabada mesmo.

O farol de um carro ilumina meu rosto, o motorista para no mesmo instante que me vê jogada na rua, e desce do carro. Suas mãos estão no meus ombros tentando me levantar, gemo de dor, então ele me vira e me pega no colo, sinto seu cheiro que me lembra Fernando. Não consigo mais abrir os olhos, nem fazer qualquer outra ação, só escuto... Uma voz sussurando "vai ficar tudo bem".
Abro meus olhos e estou em um ambiente claro, limpo, é um hospital. Olho em volta e não vejo ninguém, é claro que não ia ver ninguém além de médicos e enfermeiras. O homem que me salvou poderia esperar eu acordar, queria agradecer ele.

Uma enfermeira entra no quarto, e me dá um sorriso simpático.

- Acordou lindinha?! E o tornozelo como está? - forço o pescoço para ver meu tornozelo que está enfachado.

- A sério que machucou?

- É, uma torção, mas ainda bem que seu namorado te trouxe a tempo.

- Namorado? Não, não tenho namorado, nem me lembro quem me trouxe. Até queria que a pessoa esperasse eu acordar para agradecer. - digo, um pouco decepcionada.

- Mas ele não arredou o pé daqui, olha que já tem quarenta e oito horas que você deu entrada no hospital.- olho perplexa para ela. - Daqui uma hora você recebe alta e pode ir para casa, tá?!

- Está bem, obrigada. - vejo ela saindo e fechando a porta.

Por que o homem não foi embora? Ficar uma, duas horas num hospital tudo bem, mas quarenta e oito horas é demais.

A porta abre me tirando dos meus desvaneios. Eu conheço essa cabeleira preta... O olhar de Fernando se cruza com o meu, e aquele sorriso branco estampa seu rosto.

- O que você está fazendo aqui? - indago, boquiaberta com sua presença.

- Queria que eu estivesse ido embora? - ele pergunta, sorrindo.

- Não, não. Espera aí, você está aqui desde quando?

- Desde que te trouxe pra cá.
- não acredito que ele me salvou, por isso não reclamei, não senti medo ao contrário, me senti segura, protegida.

- Como sabia que eu estava lá?

- Não sabia, apenas encontrei alguém que estava machucado e esse alguém era você.

- Obrigada Fernando, nem sei o que aconteceria se você não aparecesse. - digo, grata por ele ter me ajudado, pois se ele não aparecesse nesse momento talvez não estivesse viva.

- Se eu não aparecesse, provavelmente você seria esmagada por uma carreta, porque aquele bairro onde você estava é um centro industrial ilegal. - ele responde com um risinho amargo.

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