UTOPIA: UM CONTO DE HALLOWEEN, por Juliana Arruda

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"Ele dizia 'lar é onde seu coração está'

Mas que vergonha

Porque o coração de cada um

Não bate da mesma maneira"

Jesus of Suburbia, Green Day




Se Ian Valadares pudesse descrever a beleza em apenas uma palavra, aquela seria "Ada". Ele ainda não acreditava que estava naquele lugar, em uma festa de Halloween, somente para ter a chance de vê-la. Ele devia estar na Mansão planejando novas maneiras de acabar com o Clã de Azira, mas estava ali, sentado em um banco do bar da boate bebericando um whisky, sem planos do que faria naquela noite.

Na verdade, ele sabia o que realmente queria fazer, mas não ousaria. Tudo iria por água abaixo se ele não controlasse seus impulsos. As vidas de pessoas corriam perigo e ele não podia arriscar. Não aquelas vidas. E, mesmo tendo total consciência dos perigos que causaria, Ian não se conteve ao sentir aquele cheiro impregnar o seu nariz. Foi apenas questão de segundos para notar que ela havia chegado.

Ada estava usando um vestido branco que era curto na frente e longo atrás, formando uma cauda que se arrastava pelo chão. Havia asas da cor roxa nas costas dela e um pequeno chapéu em forma de cone na cabeça. Uma varinha, com uma estrela na ponta, completava a fantasia. Então tudo o que ele fez de início foi observá-la atentamente.

Ian não perdeu o momento em que ela olhou ao redor, admirando a decoração com morcegos de plásticos pendurados no teto, abóboras em alguns cantos, aranhas de papel grudadas nas paredes, velas e mais velas por todos os lugares da entrada que faziam com que Ada direcionasse os seus olhos para dentro da boate. A mesma boate mantinha as luzes piscantes na pista de dança que não paravam de seguir o ritmo da música que tocava. Ian sequer perdeu o instante em que um pequeno sorriso nascia nos lábios dela, iluminando todo o rosto que até algumas horas atrás permanecia triste. E, por mais que evitasse admitir, ele sabia que ela era a garota mais linda dali.

Ele bebeu o whisky em um único gole e foi em direção a garota.

— Para onde o Chefinho acha que vai? — Bina cantarolou todo feliz, surgindo na frente de Ian.

Claro que era de se esperar que Ian encontrasse aquele rapaz alto e preto, fantasiado de Chapeleiro Maluco, afinal, ele era o organizador da festa. Ian só não esperava que fosse tão cedo.

— Acho que eu não lhe devo satisfações — Ian respondeu seriamente, passando por Bina, sem diminuir os passos.

— Pois eu acho que você está exatamente como uma mariposa indo em direção à luz. Uma pena que essa luz seja uma Fada que não está nenhum pouco a fim de falar com você. — Naquele momento Ian parou de andar. Bina suspirou e continuou. — Não sei exatamente o que aconteceu, Lorde, mas sei que o culpado é você. Ada está sofrendo e você não está ajudando vindo aqui. O que você está fazendo aqui, aliás? Você nunca vem às minhas festas!

Ian se virou com a Ira estampada em seus olhos.

— Acha que sou algum estúpido? — Bina encolheu os ombros como se tivesse sendo espancado. Ian deu alguns passos adiante — Sei exatamente o motivo para você ter comprado aquele vestido e trazê-la até aqui.

Chefinho — Bina começou —, você tem que entender que ela merece um pouco de...

Chega — Ian interrompeu. — Você está suspenso de suas atividades essa semana.

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