PUMPKIN_JACK, por Lídia Rayanne

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Entrei no salão de festas do prédio, olhando de um lado para o outro.

Não sabia exatamente o que esperar da decoração, mas não era nada como aquilo. Havia cabeças de manequim cobertas com lençóis, suspensas por fios de nylon, iluminados pela luz bruxuleante de velas brancas salpicadas de tinta vermelha. Morcegos de papel balançavam no ventilador de teto, chocando-se vez ou outra nos convidados com alguma teia de aranha postiça, ou roçando nos convidados que praticamente se chocavam no ambiente apertado, ao som de uma batida eletrônica da moda.

É. A Larissa havia se superado dessa vez.

Larissa era minha colega da faculdade, e todo ano ela fazia festas como aquela por motivos de achar cool e não haver nada do tipo nas redondezas. Ela vivia reclamando que nunca havia comemorado o Halloween de verdade quando criança (nem vendido limonada numa barraquinha, ou ter feito uma casa da árvore com o pai, ou ter tido armários de metal na escola). E como uma forma de compensar toda essa frustração, ela gastava o dinheiro tentando ter uma festa de fazer inveja a qualquer gringo.

Ninguém reclamava, claro. Todos os nossos colegas compareciam àquelas festas sem questionar, e ainda levavam gente desconhecida pra ir junto. Mas eu não. Eu era mais o tipo de cara que preferia passar minhas horas livres em casa zerando algum jogo ou colocando minha interminável lista de séries de Tokusatsu em dia. Festas não eram pra mim — nem bebida, nem música eletrônica, nem interação social ou qualquer coisa do tipo.

Mas havia um motivo para eu estar ali, enfrentando todos os meus mais desprezíveis receios. Eu só não fazia ideia de onde ela estava ou como encontrá-la, não com todo mundo fantasiado da cabeça aos pés e aquela fumaça de gelo seco (que já estava irritando o meu nariz) enevoando tudo.

Mesmo assim, mesmo que não houvesse nenhum daqueles empecilhos para atrapalhar minha investigação, sabia que não conseguiria distingui-la de todos aquelas garotas que se balançavam na pista de dança. Tudo por causa daquela abóbora sorridente.

Suspirei, me encostando na parede mais próxima do balcão para pegar meu celular. Enquanto deslizava o polegar pela tela touchscreen, percebi que os cupcakes ao meu lado tinham a cobertura num formato de um chapéu cônico. Sorri antes de me voltar para tela, que mostrava uma série de mensagens datadas do dia anterior. Digitei:

Ei, onde você está?

Cheguei agora. xD

Peguei um dos cupcakes, sentindo pena de destruir o chapéu com uma mordida. Mas fazer o quê? Eu estava com fome! Não havia conseguido comer praticamente nada o dia inteiro, porque estava me preparando para aquela festa. Ou melhor, para a pessoa que eu encontraria lá.

Esperei pelo que pareceu uma eternidade antes de minha mensagem ser visualizada. Senti o corante do cupcake revirando meu estômago quando ela começou a digitar:

Mas já? :o

Ainda estou no meio do caminho.

Sorry >_<

Suspirei outra vez, tentando fazer meu estômago voltar ao normal.

Sem problemas.

Quando chegar me avisa, tá?

;)

Ela respondeu com uma carinha feliz antes de ficar off-line novamente. Perguntei-me se ela estaria mesmo sorrindo, onde quer que estivesse. E se sorria de mim, por mim, ou comigo. Mas a pergunta que não queria calar era como era seu sorriso.

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