O quanto algo simples pode ser complicado

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Fiquei mais dois dias num estado de torpor angustiado.

Gina havia voltado para a Toca, para avisar a família do que havia acontecido, e, até então, ainda não havia voltado.

Dois dias. Dois dias aflitivos, sem saber o que aconteceria com Rony.

Encolhi-me na coberta, sentindo meu estômago voltar a se encolher de medo.

Quando o telefone tocou, desci tão rapidamente da cama que quase terminei de quebrar o meu tornozelo já lesionado.

Agarrei-me ao fone como se fosse um colete salva-vidas, com o coração saltando dento do peito.

- A-alô? – gaguejei, aflita.

- Srta. Granger?

- Sou eu – guinchei.

- É o Dr. Shower – engoli em seco ao reconhecer a voz do veterinário – lhe disse que iria avisar sobre qualquer coisa no quadro de recuperação do seu cão.

- Sim... sim – arfei, apertando o gancho – e então..?

Achei que meu corpo ia explodir de tanto desespero.

- Bem, fizemos exames adicionais nele hoje de manhã, e já temos o diagnóstico definitivo...

- Qual?

A voz dele ficou baixa, mas, para minha surpresa, estava indisfarçavelmente satisfeita.

- Seu cãozinho já está recuperado, Srta. Granger. Pode leva-lo para casa.

Senti meus joelhos cederem, e caí ao lado do criado-mudo, baixando a cabeça e rindo histericamente.

Ele estava bem. Rony ia ficar bem.

- Graças aos céus... – ofeguei, abraçando o telefone – finalmente... – voltei a pousar o fone em meu rosto, mal conseguindo falar direito de tanta felicidade – obrigado, Dr. Shower.

- Não há de quê, Srta. Granger. Irei libera-lo em meia hora. Pode vir busca-lo assim que quiser.

- Obrigada mesmo, doutor – solucei, sorrindo.

- Até breve, senhorita – o veterinário se despediu, desligando em seguida.

Levantei-me, sentindo a euforia dominar meu corpo.

Mamãe e papai pareceram pasmos ao me verem descer a escada com uma animação surpreendente.

Mas algo em meu rosto pareceu dispensar explicações do que havia acontecido, já que mamãe foi me abraçar, sorrindo carinhosamente.

- Ele está bem! Ele está bem! – cantarolei, apertando as mãos da minha mãe e pulando de tanta empolgação.

- Querida, se acalme – papai riu – vai machucar a outra perna!

- Ah, dá um tempo, papai – dei risada, empurrando-o de brincadeira e saltitando desengonçadamente em direção á porta da frente – vou busca-lo agora mesmo.

- Quer uma carona? – mamãe lançou um olhar realmente preocupado para minha perna enfaixada. Talvez pensasse que fora com semelhante despedida que, há dias atrás, nos acontecera aquele terrível incidente.

Mas naquele momento, a última coisa que me incomodaria seria aquele detalhe bobo. Não sentia nada, á não ser um alívio e uma alegria imensuráveis.

- Não precisa... posso pedir carona para Isabella – acenei, saindo calmamente em direção á varanda – volto logo.

Quando cheguei á murada, vi Isabella cuidando do jardim de sua casa.

Paws - Um Amor de CãoOnde histórias criam vida. Descubra agora