Parte III

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I don't believe that anybody 

Feels the way I do about you now. 

Because maybe, you're gonna be the one that saves me 

And after all, you're my wonderwall.

29 de Dezembro, quinta-feira. 20:00. – Casa da Charlotte.

Assim que estacionou o carro em frente a casa dela, Max bateu sua porta e correu para o lado do carona para ajudar Char a descer. Ela reclamou dizendo estar boa o suficiente para andar, mas ele não acreditava em nada do que ela dizia, por isso insistiu. Depois de muitas reclamações, ela aceitou e o esperou trancar o carro para ser empurrada até a porta da frente. Já fazia um dia que a garota tinha saído do hospital e ainda seguia com a fisioterapia. Os avanços tinham sido tão positivos que ela tinha voltado a andar – ainda precisava de apoio – mas estava tão radiante que ninguém estranharia se ela pedisse para ir até o Rockfeller Center patinar antes do Ano Novo.
- Você sabe que está exagerando. – Ela murmurou emburrada. Odiava ser tratada feito uma criança mesmo em circunstâncias especiais como aquela, queria que todos vissem como ela era independente e forte para não precisar de ajuda e estava prestes a aclamar por isso quando as mãos de Max envolveram sua cintura em prol de mantê-la em pé.
Sim, ela poderia se acostumar com aquilo... E talvez pudesse deixar a independência para outros momentos.
- Sim, eu também exagerei naquela hora em que você quase caiu das escadas no cinema. – Ele resmungou enquanto deixava sua mão pousada nas costas dela, esperando pacientemente ela subir os degraus até a porta da frente.
Ele tinha feito uma promessa que nada aconteceria com ela e isso incluía até mesmo o tropeço em um degrau. Não importava quão milagrosa a fisioterapia era. Ele sempre ouvira sua mãe dizer que era melhor prevenir do que remediar. Ele sabia muito bem disso agora.
- Estava escuro! Qualquer um cairia ali, você sabe disso! – Charlotte protestou trazendo Max de volta ao mundo real. O tom de indignação dela o fez soltar uma risada baixa e rouca. Ela rolou os olhos e parou no último degrau, esperando ele fazer o mesmo. Mesmo fazendo zero grau ali do lado de fora, ela não se enfiou para dentro de casa e nem ousou procurar as chaves no bolso do casaco. Só cruzou os braços e olhou para ele. – Obrigada por me levar no cinema, eu me diverti muito. – Ela sorriu mais tímida do que o normal, trazendo um ínfimo brilho no seu olhar que seu pai costumava dizer que fazia qualquer homem se render. Mas seu pai não estava mais ali e o único de quem ela queria redenção era o único que parecia ter uma bolha em volta de si, à prova de seduções. E afinal, o que ela estava fazendo? Ela sabia como as coisas eram, não podia continuar tendo esperanças em algo que nunca aconteceria, mas ainda assim estava ali bancando uma garota de quinze anos no primeiro encontro. E o pior: estava escondendo a verdade do seu melhor amigo. Não apenas sobre a parte dos sentimentos, mas também sobre a decisão que tinha feito assim que saiu do hospital. Privar Max dessa verdade era uma das coisas mais horríveis que ela já havia feito, mas ela precisava pensar em si mesma antes de qualquer pessoa e se isso envolvia Max ser o último a saber, era assim que seriam as coisas. Não era difícil de qualquer forma concluir que se ele soubesse, a faria ficar. E ficar significava continuar sofrendo.
- Fazia um bom tempo que não fazíamos isso, já era hora. – Ele respondeu dando de ombros e inconscientemente brincando com o gorro de tricô na cabeça dela. Ela sentiu um bolo se formar em sua garganta ao saber que tudo aquilo estava prestes a acabar. – O que vai fazer agora? – Perguntou puxando assunto quando se lembrou de que Char estava sozinha em casa até a véspera de Ano Novo. A mãe dela tinha ido naquela manhã visitar a avó paterna que estava doente e Will estava passando alguns dias com a namorada na casa dos pais dela na Filadélfia. Max estava encarregado de mantê-la viva e leva-la para a fisioterapia nesses dias. Ambos sabiam que isso não era nenhum sacrifício.
- Eu não sei, as garotas ficaram de vir passar a noite comigo, mas acho que elas mudaram de planos porque não me ligaram mais. – Ela disse interessada apenas na cor dos olhos dele que parecia dançar com o reflexo da luz externa. O fato é que ela não tinha mais ligado para elas, mas Max não precisava saber disso se o fizesse ficar no lugar delas. Ela aproveitaria com muito gosto o cheiro dele na hora de dormir.
- Por que a gente não entra e resolve isso? – Ele perguntou indicando a porta com a cabeça. Ela concordou, internamente contente por ele querer entrar, e correu abrir a porta com a chave retirada do bolso. Assim que acendeu a luz, teve um mini ataque cardíaco.
- SURPRESA! – Todos gritaram pulando de trás do sofá e das cadeiras da sala assim que a luz acendeu. Charlotte teve que se segurar em Max para não cair no chão com o susto tomado ao ver os amigos ali.
Max trancou a porta aos risos e a arrastou para o sofá. Todo mundo começou a rir enquanto ela se recuperava e só depois teve tempo para perceber que além de Melany, Jessica e Eve, os garotos estavam ali também.
- Droga, vocês querem me matar?! – Ela reclamou e eles riram mais ainda. – Como vocês chegaram aqui? – Perguntou, chocada com toda aquela situação, tentando entender como eles tinham entrado e arrumado tudo aquilo sem que ela desconfiasse.
- A chave extra do Max ajudou um pouco, sabe. – Harry assoviou. Ela então procurou entre os amigos até que viu Max encostado na parede a olhando e rindo ainda.
- Você sabia! – Exclamou exaltada e ele concordou. Se aproximando, Eve a entregou um copo e ela virou crédula de que era água. Tarde demais, mal conseguiu cuspir de volta o conteúdo. – O que você colocou aqui?! – Ela berrou.
- Vodka com suco de maçã e mais umas coisas desconhecidas que o Zach trouxe. – Ela gargalhou quando Charlotte arregalou os olhos.
- Surpresa Charzinha! O que você achou? – Zach apareceu saltitando até parar de frente para ela. – Achamos que você merecia uma festa de boas-vindas depois de ficar tanto tempo naquele lugar triste e gelado. Aqui todo mundo tá feliz e bem quente! – Ele piscou para ela até que Eve o estapeou.
- Vocês são impossíveis mesmo! – Ela reclamou de brincadeira, agradecida de verdade por dentro ao saber que seus amigos se importavam com ela a esse ponto. Por mais que Max fosse sua primeira opção, ela não recusaria os outros de forma alguma.
Depois de cumprimentar todos, ela teve conhecimento de que pizzas caseiras estavam sendo assadas e por sorte tinha sobrado um pouco de refrigerante não-batizado. Ainda estava tomando um coquetel de remédios por dia, pelo menos até ter alta da fisioterapia e, por mais que quisesse, não podia beber. Os amigos não reclamaram ao saber que tinha mais bebida de sobra, logo não demorou muito para Landon e Zach começarem a dançar e cantar alto algum tipo estranho de música irlandesa por causa dos efeitos do álcool. Eve e Jess reclamavam do barulho porque não conseguiam prestar atenção no jogo de tabuleiro que Mel tinha levado e depois de três rodadas, desistiram e foram jogar twister.
O tempo voa quando se está em presença de amigos e quando o relógio anunciou meia-noite, Charlotte se espantou. Estava assistindo as garotas se enroscarem no tapete de twister  enquanto os garotos assoviavam e faziam palhaçadas bem a tempo de Max reaparecer na sala depois de uma escapada misteriosa para o lado de fora. Depois de uma troca de olhares, ele a chamou discretamente para ir até o quarto dela. Não hesitou em levantar e o seguir pelo corredor até seu ambiente favorito. Ninguém perceberia sua ausência de qualquer forma.
Era uma sensação estranha toda vez que entrava no seu quarto depois de tanto tempo longe dele. Apesar de arrumado, ela tinha encontrado a maioria das coisas da mesma forma que tinha deixado. Isso fez parecer que o tempo não tinha passado. Mas ele tinha e, dispondo da sua condição física, quase nada tinha mudado.
- O que foi? – Ela perguntou curiosa quando o garoto fechou a porta atrás de si. Seu estômago deu uma cambalhota e as borboletas alojadas ali começaram a se remexer com certo desespero. E ela ainda não tinha contado a verdade.
- Você vai para Vermont. – Ele falou cruzando os braços e instantaneamente todas as borboletas explodiram. Ela não tinha contado a verdade e agora ele sabia da verdade antes dela contar. – Quando é que você ia me contar? – Perguntou a fitando e Charlotte agradeceu por ele não ter um tom de voz irritadiço.
Ela respirou fundo algumas vezes antes de conseguir responder.
- Depois do Ano Novo. – Murmurou evitando os olhos dele. Se sentia extremamente ridícula só de imaginar que durante o tempo todo que passaram juntos naquele dia, ele sabia da verdade. Se perguntou quem tinha contado. Melany era a mais cogitada. Aquela fofoqueira.
- Por quê? – Ele perguntou de novo.
- Por que o quê? Por que Vermont ou por que só depois do Ano Novo? – Ela continuou, mas se arrependeu de dar tantas opções para ele.
- Eu gostaria de saber ambas as respostas. – Ele murmurou. 
Ela se virou de volta e o olhou. Não queria que ele soubesse exatamente por isso. Respostas. Ele queria respostas e existiam algumas que ela nunca poderia dar. As respostas verdadeiras.
- Eu preciso de um tempo só pra mim, para eu pensar em tudo o que aconteceu e ficar em Nova York não vai me ajudar com isso. Se eu te dissesse antes de eu ir, você me faria ficar. E eu não posso ficar. – Por mais curta que aquela resposta fosse, Charlotte foi sincera.
Ela precisava de um tempo para ela. Porque estar com ele a sufocava a ponto de fazê-la perder o ar. Estar com ele, mas não estar com ele de verdade, a fazia sofrer e ela estava cheia de sofrer. Quando sua tia a ofereceu uma temporada em sua casa em Vermont, ela decidiu que aquela oferta era um sinal e que ela tinha que aceitar. Seis meses em Vermont a faria deixar Max partir como ela precisava ter feito há muito tempo.
- Isso é por minha causa, não é? – Ele insistiu. Ela não pôde evitar e desviou o olhar de novo.
- Max, eu não... Não quero falar sobre isso. É uma decisão que já está tomada. – Ela gaguejou.
- Uma decisão que você tomou sem pensar em mim antes! Sem pensar em qualquer um de nós. A gente quase te perdeu Charlotte e de repente você quer ir para longe de nós? Não é justo! – Ele elevou o tom de voz, atraindo a atenção e o olhar dela.
- Não é justo eu só tomar decisões pensando no que vocês querem. Na verdade, no que você quer, porque todo mundo entendeu e concordou comigo. – Ela respondeu sem se preocupar em manter o mesmo tom que ele.
- Sim. E todo mundo sabia. Menos eu. O que nos leva de volta a: isso é sobre mim, não é? – Ele murmurou de repente.
Sim, é sobre você. É sobre o jeito que você anda com as mãos nos bolsos e com a cabeça erguida porque nada, nem ninguém, te impedem de ser feliz. É sobre o jeito que você toca violão com tanta dedicação que parece se esquecer do mundo ao seu redor. É sobre o jeito que você sorri e seus olhos se apertam, me deixando sem ar. É sobre todas as garotas que já passaram pela sua cama e o fato de que nenhuma delas significou nada para você. É sobre o momento em que você falou que me amava pela primeira vez, mas não foi da forma como eu sonhei em ouvir. É sobre o tempo em que ficamos separados mesmo acreditando que estávamos juntos. É sobre como eu não consigo seguir em frente porque você está sempre bloqueando o meu caminho. É sobre a necessidade que eu tenho da sua presença e do mal que isso me faz porque você não se sente da mesma forma. É sobre você. E você nem tem ideia do quanto.
- São só seis meses, Max. Podemos nos ver nos fins de semana. Eu só preciso... Pensar em mim. Da mesma forma que vocês quase me perderam, eu acabei me perdendo. Preciso me encontrar. – Ela sussurrou. – Eu vou voltar.
- Quando você vai? – Ele perguntou tentando esconder a irritação e a tristeza que tomavam conta dele só de pensar no que seriam seus dias sem sua melhor amiga.
- Dia primeiro. – Ela suspirou.
- Você ia me contar só quando fosse embora. – Ele concluiu e ela acenou com a cabeça, tentando esconder com a cortina de cabelo as lágrimas se formando em seus olhos. Não queria perde-lo. Não queria ir. Mas estava sendo forçada apenas pela necessidade de aprender a viver sem ele. Deixou um soluço escapar e seu rosto logo estava lavado pelas gotas salgadas.
- Era preciso. – Sussurrou.
- Eu também preciso de você. Mas acho que não consegui te mostrar o suficiente para te impedir de tomar essa decisão. – Ele falou antes de dar as costas e sair batendo a porta com força.
Desabando em lágrimas, Charlotte se jogou na sua cama certa de que seu coração antes partido, agora nunca se reconstruiria.

December 17thOnde histórias criam vida. Descubra agora