Fria...
É a palavra que me defini. Não sei explicar os sentimentos que surgem dentro de min, é como se eu tivesse me transformando em outro alguém.
Que não se importa com nada e nem ninguém.
É como se meus demônios que até então se mantinham camuflados dentro de min resolvessem se libertar.
O pensamento de que eu não sei quem realmente sou me assusta, até porque na verdade nunca soube! Sempre quis ter coisas que para outros pareciam extremamente assustadoras, sentia coisas que os outros não sentiam, via coisas que os outros já mais poderiam ver.
Essa é minha realidade, só não queria admitir a min mesma que sou mais uma estranha em meio aos demais normais.
Mas quem disse que eu queria ser normal ?
Ai que tá, sempre soube que não era e nunca fiz questão de fingir ser ou querer ser como os outros. Soube isso quando vi Morgan que agora sei que na verdade se chama Annabelle pela primeira vez, no auge dos meus quasse sete anos, a áurea que exalava dela era um tanto quanto estranha para min, que era apenas uma criança. Ela me olhava como se eu fosse seu fascínio e ela o meu, no fundo sabia que suas aparições eram um preságio para o que iria acontecer futuramente.
Cada lágrima que deixei escapar hoje me fizeram congelar por dentro, acho que foi até elas quem acabaram de me transformar. Em toda minha vida nunca fui uma pessoa carinhosa exceto claro, com meus pais.
Não vou negar que pouco depois de seu desaparecimento eu pensei em ir procura -los na esperança de encontra - los e tirar esse peso e frieza que sinto apertar meu coração. Mas desisti depois de ganhar vários motivos para me achar uma aberração, como por exemplo; depois de ver todas as coisas que já vi, todos os fantasmas que um dia me rodearam quando eles sumiram, coisas que acredito eu serem coisas demoníacas, incluindo um ceifador ou morte, como quiser chamar. Não que eu já os estivesse visto antes daquele dia, até porque quando o vi nem surpresa fiquei, era apenas uma criança de oito anos que avia acabado de perder os pais, uma criança que eu diria até um tanto quanto corajosa. Só fui notar semelhanças alguns anos depois já com 15 anos, enquanto assistia filmes de terror com meus únicos amigos que na época eram Tessa e Tadeu, que acabaram se afastando de min assim como todos os outros quando eu confessei já ter visto um daqueles antes. Naquele meio tempo já não os via mais, na verdade deixei de velos quando estava prestes a completar meus 10 anos. Obviamente nunca contei nada a minha tia Itália, até porquê assim como os outros, tenho a certeza de que me acharia uma louca e iria me por em um manicômio...
Fala sério ??! Como chegaria na cara da minha tia que já vi de tudo na minha curta vida, inclusive lobisomens e ceifadores ? Óbvio que ela iria surta comigo.
Sim, é verdade já vi um lobisomem antes, ou pelo menos acho que era um. Não podia ser outra coisa, ou era um cachorro muito grande mesmo, eu diria até que era quasse do meu tamanho e olha que tenho 1,64 de altura. Tão lindo e imponente, seu pelo era negro como a noite, seus olhos da mesma cor, mas porem com um brilho que podia ser visto a quilômetros. E estava lá, do outro lado da rua quando eu acabara de chegar em casa depois da minha corridinha diária ; até tentei me aproximar, mas acho que se assustou e fugiu, só pude ouvir seus uivos desesperados, parecia que algo o machucava. Mas enfim, nunca mais o vi...
Agora saindo dos meu devaneios um pouco que percebo que Daemon ainda dorme, digamos que agarrado a min. Não posso deixar de observar que ele é realmente lindo, seus cabelos tão pretos e revoltados, seus músculos, pele e até mesmo os olhos que agora se encontram fechados devido ao sono profundo, tudo é tão Daemon Cabul.
O observo atentamente, tem algo nele que me intriga, algo que me parece tão familiar e tão estranho ao mesmo tempo, como se ele realmente tivesse algo a esconder.
Fazia muito tempo que não o via, fomos colegas no colegial e ele já me intrigava desde aquele tempo. Vivia falando sozinho, nunca andava acompanhado de ninguém, nem mesmo de algum familiar, nada. As vezes o flagrava me olhando de longe, com os olhos curiosos. Ele me fascinava pelo simples fato de ser ainda mais estranha do que eu, por ser tão intruso naquele lugar quanto eu.
Enquanto continuo a observa -lo lembro de hoje mais sedo, da cicatriz em seu braço.
Lentamente me movo na cama, tomando o maior cuidado para não acorda - lo. Levanto sua fina camiseta até que fique resposta a marca em seu pulso e atentamente a observo ; se parece muito com uma mordida, mas uma mordida de algo muito grande pois e de lado a lado de seu pulso.
- O que esta fazendo ? - pergunta com a voz ainda mais rouca que o normal.
Quasse tive um troço ! Ele me olhava tão intensamente que um tremor percorreu meu corpo todo.
- Er...nada...er. - tento não parecer nervosa e ter sido pega no flagra mas é impossível com ele me olhando daquele jeito e com uma sombrancelhas arqueada. - Eu só estava olhando sua cicatriz mesmo - digo por fim encontrando minha voz.
- Curiosa você ein, Lia - diz sorrindo de lado. Bastardo !
- Eu einn... Claro que não só...só... Aaah, quer saber, tava curiosa sim - digo por fim derrotada por não ter uma desculpa.
- Hum, que bom que admite... - diz levantando- se da cama - Que horas são ?
- 04:45 da manhã - respondo após olhar no relógio que ficava no criado mudo ao lado da cama.
Ele bufa e logo depois fica me encarando de um modo estranho, seus olhos brilhavam para min, eu diria que quasse da mesma forma em que o lobo me observava naquele dia.
- O que foi ? - pergunto já envergonha e olha do para baixo, devido o olhar dele sobre min.
- Não vou conseguir dormir mais e creio que você também né Lia, então você...er... Quer dar uma volta pelo Campos comigo ? - pergunta meio receoso.
Pera ai, ele ta nervoso ?
- Claro! - respondo depois de pensar por alguns segundos.
O Campos era mais grande do que eu avia imaginado, avia muitos corredores por entre os vários prédios, vários lugares para lazer e algo que antes não avia percebido. É rodeado de matos, eles ficam por toda parte.
Como não avia visto antes ?
Daemon e eu andávamos lado a lado e o silêncio entre nos já estava constrangedor. Ele avia me convidado para passear em plena as 04:45 da manhã e não iria trocar se quer uma palavra ?
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Corações Entrelaçados
RomanceMeu nome é Lira, mas todos sempre me chamavam de Lia, a dois meses completei meus 18 anos. E sinceramente preferia que esse dia nunca tivesse chegado, se soubesse que minha vida iria se tornar o que é hoje... É muito triste a realidade em que vivo...