Capítulo 1

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Sobre as montanhas ocultas pela névoa eterna, erguia-se um casarão. Com suas colunas, torres, e entalhes góticos, a edificação parecia uma provocação das cidades à natureza selvagem, como um câncer deixando bem claro ao corpo que dali não sairia.

As janelas, sempre meio cobertas pela neblina, pareciam olhos cegos, alheios. As escadas intermináveis riscavam a selva como uma cicatriz. Eram o único elo com a civilização milhas abaixo, e eram tão abandonadas que mais pareciam um obstáculo do que um acesso.

A vegetação escura e trepadeira cobria parte das paredes e telhados enegrecidos pelo tempo incalculável, como se a natureza tentasse apagar a existência infame daquele prédio invasor. Separando a colina do pavimento que conduzia à entrada do casarão, um arco dizia em letras góticas forjados em ferro: “Manicômio Para Damas Lunáticas”. E da torre mais alta e mais distante, saíam os gritos.

Por favor, não! NÃO!!!”

Ela era pequena, esguia e gritava enquanto era facilmente manipulada pelas mãos grosseiras e gigantes. Era conhecida por seu espírito indomável, motivo, aliás, de estar ali. Mas já não tinha a mesma bravura dos seus primeiros dias de terror no manicômio. As humilhações, noite após noite, quebram a resistência de qualquer uma, até reduzi-la a menos que uma marionete sexual.

A luz a gás fazia sombras bizarras sobre as manchas de sangue seco nas pedras que formavam as paredes da torre. Correntes, chicotes, agulhas e todo tipo de instrumentos perversos eram dispostos como uma espécie de mobília de mau gosto. Mas Apolo, o guarda de quase dois metros de altura e um de largura, não usava nenhum deles. Achava que apenas baitolas precisavam de tais artifícios para conseguir algum prazer. Apolo precisava apenas de uma mocinha bem fresca, de preferência que chorasse muito. Tinha fetiche por lágrimas. Tinha que vê-las chorar até molhar o chão.

Quanto mais ela reclamava, mais frenéticos eram os movimentos do agressor, e mais rapidamente as peças de suas roupas, outrora tão belas, eram arrancadas. Ainda podia se lembrar do dia em que as ganhou de seu pai, como presente de aniversário. Parecia mais um vestido de rainha, dissera com brilho nos olhos. O pai sorriu e disse: “não passam de roupas comuns de uma donzela europeia”. Agora que pensava nisso, a única coisa que se lembrava com clareza era a melancolia no olhar do pai. Agarrou-se a essa memória, pois talvez a ajudasse perdoá-lo algum dia.

Agora aquele vestido, rasgado e imundo, era a única vestimenta que possuía, exceto em dias de visita, quando lhe metiam uma camisola branca e limpa. Depois lhe deixavam novamente com as velhas roupas, como se fizesse parte do ritual o estupro de uma imagem da própria deturpação daquilo que é puro e belo. O vestido estava tão desgastado que parecia um trapo. Uma donzela vadia de uma corte dos esgotos. Uma donzela vadia e fodida como uma cadela de pedigree abandonada na sarjeta.

Os tapas trouxeram sua mente de volta para o momento presente que vivia. O cheiro de cerveja escura a deixava tonta e com ânsias de vômito. Quase agradeceu quando as mãos a virou de costas, com o rosto esmagado contra a parede, a sentir o odor bem-vindo de umidade. Quando percebeu-se completamente nua, enrijeceu o corpo. Mais bofetadas nas nádegas e nos seios ainda em formação a fizeram gemer, um prazer para Apolo, que ela ainda treinava não conceder. Sabia que gritar não apenas era inútil, como aumentava ainda mais os risos de satisfação do estuprador.

Foi jogada de bruços contra o chão, como se fosse um saco de estrume. Sentiu o cheiro de sangue escorrendo pelo nariz e boca. O homem puxou seus cabelos loiros e mordeu-lhe o pescoço, a orelha, até arrancar-lhe sangue, lambendo-o. Golpeou a cabeça contra o piso. Jogou seu o enorme peso em suas costas e ainda em processo de ereção procurou por onde invadi-la. Ela prendeu-o entre as coxas, truque que desejava jamais ter tido necessidade de aprender. O homem não percebeu, embriagado demais, afoito demais, excitado demais, esfregando demais nas coxas macias demais, apertadas demais…

Manicômio Celeste Para Damas LunáticasOnde histórias criam vida. Descubra agora