Capítulo Dois

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Entrando no hospital, nem mesmo tive tempo de me trocar. Alguns colegas cirurgiões e enfermeiras me empurraram para a entrada de emergência. Um enfermeiro pegou minha bolsa e outra pessoa me ajudou com a roupa estéreo.

— O que aconteceu? — perguntei a médica, que também era minha amiga.

— Acidente de carro, se chocaram de frente — contou. — O que aconteceu com você? Está mancando?

— Sim — gemi. — Levei um tombo daqueles, Emily.

— Tombo? — Scott, um dos médicos perguntou. — Está bem?

— Estou bem.

— Por que Swan não estaria bem? — A voz de Brown se aproximou.

Revirei os olhos, nada era segredo naquele hospital. As paredes, literalmente, tinham ouvidos naquele local.

— Ela teve um caso com o asfalto. — Emily contou. — Ou seria a calçada? — Me perguntou.

— Calçada — resmunguei.

— Caiu? Deveria ter me dito, não precisava vir. — Brown disse em tom de repreensão.

— Estou bem — digo firme. — Só algumas dores musculares e um ralado no braço — contei. — E você disse que precisava de mais um par de mãos por aqui, é o meu trabalho.

— Não quando se machuca. — Brown retrucou.

O ignorei, não iria embora. Já estava ali mesmo, agora iria trabalhar.

— Bateu o cotovelo? Isto dói demais. — Scott disse fazendo uma careta. — Mês passado caí no jogo de basquete e bati o cotovelo na quadra, puta merda, doeu demais.

— Vamos trabalhar? — perguntei tomando frente.

Eles riram desvendando que meu tombo tinha sido mais constrangedor do que eu estava contando.

Quem eu queria enganar? Éramos médicos, descobrir coisas era algo que fazíamos muito bem e com grande frequência.

Ignorei meus amigos e me apressei em direção as ambulâncias que tinha acabado de chegar. Uma vítima fatal e mais três em estado grave. Tinha muito trabalho pela frente, mas isto não mantinha os médicos de boca fechada por muito tempo.

Ficaram o tempo todo perguntando sobre a minha queda, não era tão fácil ignorá-los, mas eu me esforcei bastante focando no trabalho.

Assim que saí da cirurgia, descansei por meia hora na sala dos médicos e voltei para o Pronto Socorro. O que eu não esperava era que um dos meus pacientes estaria em choque anafilático por usar camisinha com látex.

Não sei como, mas ainda me surpreendia com alguns casos.

O casal jovem, onde o rapaz passava muito mal, não sabiam explicar o que estava acontecendo. O bom é que nós médicos somos ótimos investigadores. O triste é que a maioria dos preservativos contém látex, mas já existem produtos sem. Ele gastaria um pouco mais, no entanto, teria uma vida sexual saudável e protegida.

O rapaz ficou envergonhado, mais do que imaginei ser possível. Foi aí que imaginei que esta seria uma primeira vez para ele, ou melhor, duas primeiras vezes. A primeira para o sexo e a segunda para sua descoberta a tolerância ao látex.

Depois de medicá-lo, tive que ter aquela pequena conversinha em que os pais deveriam ser os únicos responsáveis. O bom é que não me constranjo com facilidade e o mais importante, pude ajudá-lo.

— Já teve alguma reação assim antes? — perguntei.

— Acho que não — suspirou. — Tem certeza que é alergia? Eu não tenho alergia a nada.

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