Máquina

54 5 0
                                    

Fico olhando pelo vidro do quarto.
O médico tenta de todas as formas reanimá-lo, mas vejo seu semblante denso, vindo em minha direção.

- Doutor, ele está bem? - Começo a chorar, e para minha surpresa de verdade.

- Desculpe...

- Não! - Caio de joelhos com a mão no rosto.

- Se acalme - se ajoelha na minha frente, e passa a mão por meus braços.

Instantaneamente, puxo meu braço.

- O que vai acontecer agora? - Pergunto me levantando.

- Ele será encaminhado para fazer a autópsia, para descobrirmos o que de fato aconteceu.

- Esse exame sai em quanto tempo?

- Dois dias, três dias no máximo. É melhor a você ir para casa, aquela senhora que estava com você, deixou o número na recepção, para contato.

- Tudo bem. - Passo a mão no rosto, enxugando uma lágrima que insiste em cair.

Vou em direção ao carro, e sigo direto para o meu apartamento.

Chego,e vou direto pro meu quarto. Pego três malas grandes, e enfio dentro delas minhas roupas, coisas de higiene pessoal, jóias, documentos. Pego também a minha mala com dinheiro.
Subo em cima da minha cama, e tiro o quadro que fica na frente do fundo falso, onde guardo minhas armas.

- Droga, como vou descer com todas elas?!

Pego uma bolsa de lado grande, e coloco as pistolas e as facas. Resolvo deixar as maiores pra trás.

Ponho um óculo escuro,coloco a bolsa com as armas apoiadas na mala de rodinhas.
Interfono para o porteiro, para que peça para Quim, me ajudar com as malas.
Enquanto espero Quim, escrevo um pequeno bilhete, para minha amiguinha Clara.

Vadia, faz muito tempo que queria sair deste inferno, onde você reside, e para minha imensa alegria é isto que estou fazendo agora.
Eu espero do fundo do meu coração, que você morra de forma lenta e dolorosa.
Mas eu tenho um bom coração, deixei o dinheiro das contas e do apartamento embaixo do caixa do som.
Que tenha um péssimo dia.

Vívian Sintra.

Quando termino de escrever, ponho o bilhete em cima da mesa, e coloco o dinheiro em baixo da caixa do som.

Coloco todas as malas na sala, e escuto o barulho da campainha.
Abro a porta e Quim entra, indo em direção à mala onde estão as armas.

- Não!

- Que susto, dona Vívian!

- É... Pega aquelas duas.

- Tudo bem...

Pego a mala e a bolsa que estava em cima dela e a mala com o dinheiro e Quim pega as outras duas.
Então ele vai primeiro em direção ao elevador e eu vou logo em seguida, após fechar a porta.

Vamos para o meu carro onde coloco as duas que Quim trouxe, no porta-malas, e as que eu trouxe, ponho no banco de trás.

- Tchau, Quim!

- A senhora vai demorar?

- Não sei. - Falo ligando o carro.

- Boa viagem.

- Obrigada.

Saio com o carro, e me preparo para a longa viagem que vou fazer.

- Paraguai, aí vou eu.

Dirijo por aproximadamente oito horas apenas com o intervalo para encher o tanque, até meus olhos começarem a fechar sozinhos.

- Droga! - bato com a mão no volante - Não queria parar agora.
Dirijo por mais uma hora, até encontrar um hotel de beira de estrada.

Estaciono o carro e olho para para o relógio do meu celular, onde marca: 19:30hrs.

Pego a mala com o dinheiro, as com roupas e a bolsa das armas. Vou até a recepção, onde uma mulher esquesitamente magra, com um óculos fundo de garrafa, me fita.

- Boa noite - Falo gentilmente.

- Boa noite - continua a me fitar.

- Tem algum quarto disponível?

- Só tem um.

- Bom, eu estou só, então...

- Olha aqui a chave do quarto. - fala com um timbre de voz grave.

- Obrigada - pego a chave.

- Segundo quarto no primeira andar, à direita.
Subo as escadas com dificuldades, por causa das malas, mas consigo chegar ao meu quarto.

Entro, coloco as malas no canto do quarto e fecho a porta.

- Pelo menos é limpo.

O quarto só tem uma cama de casal, uma estante branca, uma cortina vinho na única janela do quarto, e um banheiro que não dá pra abrir os braços.

Abro a mala, pego uma toalha, o sabonete e vou tomar banho.

Me vem a cena, enquanto estou embaixo do chuveiro, de Li me beijando, da forma que ele me pegava pela cintura.

- Droga! - Soco a parede. - Por que minha vida é tão errada?
Quando finalmente descubro que minha mãe está viva, me afasto sem pensar duas vezes. Realmente eu sou uma máquina, sem sentimentos.

Olho para meu ferimento, que ainda está com os pontos. Vou até minha mala, coloco a calcinha e o sutiã.
Vou até a mala das armas, pego minha amiguinha, Ron Lake Folder, e sento na cama.
Começo a cortar os pontos do corte, e puxar o fio com as unhas.

- Essa é minha primeira cicatriz profunda no corpo, dentre várias na minha alma.














Atraente PerigoOnde histórias criam vida. Descubra agora