× Quarta-Feira, 08 de Novembro
Toquei na maçaneta, ela parecia ser de prata e brilhava como se tivesse sido recém polida. Coloquei a chave na fechadura e abri a porta, esperando que algo me surpreendesse naquele maldito lugar. Mas não, não tinha nada de diferente no quarto: paredes brancas, duas camas arrumadas, duas cômodas de madeira negra, uma enorme janela branca também e o banheiro. Joguei minha mochila no chão, dei uma volta pelo lugar e abri a maldita janela, que parecia nunca ter sido aberta. A janela estava emperrada e precisei de muito mais força para abrir do que eu achei que seria necessário.
A viagem tinha sido uma merda, ficar horas dentro de um carro com o meu pai não é era o melhor programa para se fazer em uma noite fria. Decido tomar um banho, conhecer o banheiro pelo menos. Tiro minha roupa e a jogo no canto. O banheiro é grande e o chuveiro, agradável. Fico lá deixando a água cair pelo meu corpo cerca de quinze minutos, mesmo tendo dormindo todo o percurso da viagem, estou exausto. Decido dormir algumas horas e esperar meu pai.
Acordo assustado com alguém tentando abrir a porta. É meu pai, já são quase três horas da tarde.
--- Victor ? Está ai ? --- Diz ele batendo mais forte na maldita porta.
--- Estou aqui --- digo --- Abro em um minuto, vou me vestir.
Visto minha roupa novamente e abro a porta sem demora, ele parece um pouco impaciente e cansado. Ele entra deixando sua bolsa no chão, que aparenta estar mais vazia agora, e deita na cama ao lado a minha.
--- O que houve ? --- pergunto. --- Você parece mais exausto do que o normal.
--- Nada --- ele responde --- Foi um dia corrido. Apenas.
--- Esse lugar é legal --- digo puxando assunto --- Parece como um museu, só que feito por adolescentes.
--- Conheço o Purgatório da Felicidade a anos --- disse ele de maneira sonolenta. --- Costumava me hospedar aqui com sua mãe antes de você nascer.
--- E vocês vinham para esse inferno fazer o que ? --- pergunto abismado com a resposta dele.
--- Sua mãe morou aqui por algum tempo e ela vinha para ver os amigos. --- Responde ele quase dormindo.
--- Por que vocês nunca me contaram isso ? --- pergunto furioso esperando uma boa resposta.
E ele dorme acho que sem nem ter ouvido minha pergunta.
Deixar ele dormindo parece o certo a se fazer já que ele dormiu tão facilmente. Noto que sua bolsa parece realmente mais vazia e que por alguma razão, o casaco dele está rasgado atrás, como se tivesse desviado de algo muito afiado. Sem mais, deixo ele dormindo e vou dar uma volta na rua. Como sempre pego meu anel e a foto de May, coloco tudo no meu bolso e saio.
O corredor do nosso quarto dava direto para o balcão onde Meggie fica. Assim que abro a porta percebo o seu olhar em mim sem nem mesmo tentar disfarçar. Fui direto ao seu encontro, já que ela me olhava tão intensamente. Antes dela perceber que ia falar com ela, eu já estava lá, percebi o quanto ficou envergonhada quando a dei boa tarde, já que ela estava totalmente vermelha, da cor do vestido que usava, que por sinal lhe caia muito bem.--- Olá Meggie, como vai ? --- Perguntei tentando ser simpático --- Como anda as coisas por aqui ?
--- Ah, olá Victor --- Respondeu ela parecendo surpresa por eu ter parado novamente para falar com ela --- Aqui está tudo tranquilo, nada demais aconteceu.
--- Você quer dar uma volta ? --- Perguntado casualmente, ela é linda e não tenho amigo nenhum aqui, me parece uma boa ter ela por perto já que não sei quanto tempo vou ficar aqui --- Talvez um milkshake na lanchonete aqui do lado ?
--- Tenho tantas coisas para fazer, pode ser de noite? --- pergunta ela --- E conheço um lugar bem melhor que a lanchonete ao lado para um encontro.
--- Isso não é um encontro --- respondo rapidamente --- Só quero dar uma volta. Eu não conheço nada aqui, achei que seria uma boa ter você comigo.
--- Relaxa, estou só brincando --- responde ela, fazendo uma careta com a língua de fora.
--- Tudo bem --- digo --- Eu te encontro as vinte horas então ?
--- Certo. --- responde ela, ficando bem mais vermelha que o normal. --- Estarei te esperando.
Após a responda dela, saio pela porta da frente, ainda quero comer alguma coisa. Vou seguindo até o fim da rua, já são 15:30, vejo um parquinho para crianças com balanços e escorregadores vazios, decido sentar lá nos bancos por alguns minutos. Por alguma razão meu anel agora estava mais pesado do que o normal, ele havia adquirido um brilho meio azulado, mas será por causa do tempo? Ele ficava assim nesses dias depressivos, talvez fosse pela lembrança de minha mãe, já que ela havia morrido em um dia importante pra mim e chuvoso. O dia de ensolarado começa a ficar cinzento pela lembrança dela, como o começo de uma tempestade. O vento começa a soprar mais forte do que o habitual, e por algum motivo, o balanço começa a balançar cada vez mais forte como se houvesse realmente alguém brincando lá. Vejo a tempestade se formando no céu, que agora era evidente. Todas as pessoas que estavam na rua, começam a se abrigar, se preparando para a chuva que parecia vir com força total. Percebo que é melhor voltar para a estalagem, por que se eu ficar aqui, serei pego em cheio pela tempestade. Antes de pensar em levantar, vejo tudo a minha volta desacelerar, os carros, pessoas e até mesmo os pingos de chuva que haviam começado a cair, param no ar. Tudo de repente ficou cinza, não como um dia chuvoso, mas realmente sem cor, somente sombras e mais nada. Por alguma razão só eu via o que estava acontecendo, e um segundo depois ouço gargalhadas, como de uma crianças rindo de uma piada muito engraçada. Três silhuetas aparecem nos brinquedos: dois garotos no balanço, com cabelos bem aparados, ambos brancos, um ruivo e olhos azuis como o céu e o outro moreno de olhos negros como carvão, aparentavam ter no máximo doze anos cada e eram idênticos, gêmeos melhor dizendo; e a garota no escorregador, com longos cabelos loiros e lisos, ao contrário dos outros, essa garota tinha penetrantes olhos verde esmeralda e aparentava ser um ou dois anos mais velha que os outros. Três crianças rindo insanamente, vestindo roupas de gala, os meninos usavam smoking preto e a garota usava um longo vestido azul celeste, pareciam estar prontos para um baile real. Aquilo não podia ser verdade, com certeza era um sonho, não havia como crianças aparecerem do nada nos brinquedos.
Eles pararam de brincar e se juntaram, vindo em minha direção. Agora percebo o que estava acontecendo: eu estava preso, não conseguia me mover, ainda estava sentado no banco de frente ao parque. Quando dou por mim, as três crianças já estavam me encarando, de frente comigo. Eles se entre olhavam, talvez decidindo quem fosse falar primeiro. A garota faz uma menção a mim, como um cumprimento que os antigos nobres da realeza Inglesa faziam quando se encontravam em eventos importantes.--- Garoto, o que faz aqui andando sozinho na parte esquecida do Limbo ? --- pergunta ela sorrindo de de orelha a orelha como se tivesse acabado de ouvir uma piada muito engraçada --- Você não está um pouco longe da sua casa ?

VOCÊ ESTÁ LENDO
O Primeiro - Entre âmbar e prata {Livro 1}
Adventure" Após perder sua mãe a oito anos em um acidente absurdo, Victor virou um problema, afastou se de tudo e de todos e se afundou em livros estudando todo tipo de coisa estranha procurando algo que explicasse o acidente de sua mãe, desde Runas de magia...