02 - Purgatório da Felicidade

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× Quarta- Feira, 08 de Novembro

Já são 10:40. Acordo com meu pai me chamando.

---- Victor acorde --- Disse ele --- Vamos tomar café. Acabamos de chegar em Santa Fé capital do Novo México.

A luz do dia ofusca minha visão. Não consigo ver nada. Abro os olhos aos poucos. Olho pela janela e vejo uma praça, um cruzamento, muitos carros e pessoas na rua. Pessoas felizes, pessoas correndo e rindo. Garotos jogando futebol e garotos mais velhos andando de skate, rindo e esbarrando propositalmente em todas as pessoas que passam por eles.

--- Que merda de lugar é esse? - pergunto --- Tem algo de errado com essas pessoas, não tem ? --- Pergunto novamente, assustado com toda aquela felicidade.

--- Foram longas 6 horas de viagem de Denver até aqui --- Diz meu pai.

--- Não vamos morar aqui não é ? --- Pergunto olhando diretamente nos olhos dele.

Ele apenas me ignorou.

--- Preciso encontrar uma pessoa que nos ajudará agora a arranjar outro lugar para morarmos --- Diz ele pegando sua bolsa cheia daquelas tranqueiras.

--- Que pessoa ? O que estamos fazendo aqui ? E porque tivemos que sair correndo como se estivéssemos fugindo ? --- pergunto confuso --- Ainda não consigo entender o motivo de termos fugido.

--- Estou com pressa Victor, não me faça perder tempo agora --- Ele diz, me ignorando novamente. --- Volto no máximo em 2 horas. Não se preocupe, estou com meu celular, se precisar me ligue.

--- Sim --- Digo, fechando os olhos e me aninhando no banco do carona novamente.

--- Levante e vá tomar café --- Ele diz com pressa --- A uma quadra daqui há uma lanchonete, tome café lá. E ao lado tem uma casa que aluga quartos. A chave do quarto está no porta luvas. O nosso quarto é o número 7. --- ele diz saindo do carro --- Tome cuidado.

Mais ou menos meia hora se passou, eu estava morto de fome. Decidi fazer o que meu pai disse. Me olhei no espelho, estava uma droga, cabelo amassado de um lado, olhos fundos, roupa toda amassada, decidi tirar meu moletom, estava um dia muito quente para um dia qualquer de Outono. Melhor assim, minha camisa vermelha me deixava um pouco mais vivo, fora o simples contraste com meus olhos cor de âmbar. Revirei meus bolsos em busca de meu celular, e logo tive uma surpresa: no meio de todo aquele alvoroço para "fugir" eu não o peguei, nem me preocupei pois tinha de cabeça o número de May e do meu pai. O resto dos meus contatos, depois eu me preocupava em tentar recuperar. Peguei no porta luvas a chave do tal quarto e o dinheiro para tomar café. O chaveiro da tal chave era diferente, era uma pedra mal cortada e cheia de pontas mas não me importei, peguei tudo que precisa e coloquei no bolso da calça jeans. Arrumei o cabelo o máximo possível e sem mais, fui logo saindo do carro, eu estava começando a cozinhar lá dentro já que havia passado das 11:00 da manhã. Dei uma boa olhada em volta, o carro estava estacionado em frente a uma espécie de casa abandonada. Do outro lado da calçada havia um parque, nada demais, só alguns brinquedos velhos e muitas folhas espalhadas pelo chão , algo normal no Outono. Havia muitas pessoas na rua, parecia até final de semana. Percebi que mais a frente desta rua, havia no mínimo 4 restaurantes 3 estrelas. Percebi que devíamos estar perto do centro e que haviam muitas empresas por essas bandas, havia muitas pessoas usando terno ou algum tipo de roupa social. Fechei os vidros e tirei a chave do carro do contato, peguei a mochila com minhas coisas e tranquei o carro. Fui rumo a tal lanchonete que meu pai mencionou, aparentemente pela decoração de fora, parecia um lugar bem legal e tranquilo, entrei e me deparei com uma coisa que eu não esperava. O lugar estava simplesmente vazio, somente mesa vazia e o chão branco, que parecia mais um espelho. Sentei, acomodei minha mochila ao meu lado, e aguardei que a garçonete viesse me atender. Ela veio logo, e me atendeu com muita atenção, pedi uma xícara de café, e algumas panquecas e manteiga. Logo chegaram e as devorei como se não visse comida a dias. Após terminar meu café fiquei ainda algum tempo lá sentado, aproveitando o ventilador que parecia ter sido feito só para ser usado naquele dia. Finalmente me levantei e me dirigi ao balcão para pagar a conta com a mesma garçonete que havia feito meu pedido.

--- Por favor, quanto deu o meu pedido? --- Disse a ela, que parecia nem ter me notado.

--- Não custou nada --- Disse ela --- O café da manhã é de graça de quarta feira.

--- Esse lugar é bem animado não é? Parece uma biblioteca vazia. --- Disse a ela.

Vi seu mal humor, e achei melhor não continuar nosso diálogo. Agradeci pela refeição mesmo sendo de graça, dei tchau a ela, e me despedi da lanchonete, eu havia simpatizado com o lugar que apesar de estar vazio, era realmente muito agradável.

Sai da lanchonete e logo avistei o tal lugar onde alugava quartos, parecia um grande casarão, grandes janelas brancas novas e uma pintura azul celeste feita recentemente. Aquele lugar parecia o céu em forma de casa, o azul em contraste com o branco das janelas, era realmente um lugar bonito .
Passei pela porta da Estalagem e logo avistei uma grande placa: "Bem vindo ao Purgatório da Felicidade, fique a vontade para ficar ou ir". Havia um grande corredor e o segui. Fiquei meio perturbado pelo nome do local, mas após ver a pintura, percebi o porque do nome, as paredes estavam em chamas, digo não literalmente mas a pintura que estava ali era bem mais que um simples desenho. Quem quer que fosse o dono desse maldito lugar, ele com certeza era algum tipo de sociopata obcecado pelo inferno. Fui andando e olhando a decoração, mas por algum motivo eu estava familiarizado com o lugar, podia ser o inferno, mas a decoração interna me agradava ainda mais que a externa. Olhei os quadros e as estátuas por alguns minutos, até que avistei o balcão de check in, no final do corredor, e que havia um corredor de cada lado do balcão, me dirigi a ele. Vi uma garota de longos cabelos ruivos , usando um vestido vermelho escarlate, ela parecia já ter 18, enquanto eu ainda tinha 17. Ela estava de costas, então bati no balcão. Ela ficou imóvel por alguns segundos até perceber minha presença, notei que ela não havia percebido que eu havia batido no balcão e que estava com fones de ouvido, escutando algum tipo de música altamente psicodélica.

--- Olá --- Disse ela sorrindo falsamente --- No que lhe posso ser útil ?

--- Olá, sou Victor Ashera Monteal, meu pai alugou o quarto 7 para nós essa manhã. --- Disse eu tentando usar o mesmo nível de simpatia que ela havia usado ao falar comigo.

--- Eai, sou Morganna mas pode me chamar de Meggie. O sétimo quarto fica no final do corredor --- Disse ela apontando para minha direita.

--- Obrigado. --- Disse eu me dirigindo ao corredor onde estava o tal quarto.

--- Ah Victor, não fique acordado até tarde OK ? --- Disse ela, fazendo garras e abrindo a boca como se tivesse presas lá dentro. --- O bicho papão pode vim te dar boa noite --- Disse ela abrindo um largo sorrido branco.

--- OK --- Eu disse sem entender bem a brincadeira.

Peguei a direita e fui andando até o final do corredor, analisando todas as portas e paredes. A pintura das paredes agora era diferente, as paredes eram totalmente negras, a pintura, parecia ter sido feita recentemente também. Haviam muitas estátuas nesse corredor e alguns potes com muitas pedras velhas, igual aquelas que meu pai colecionava. As portas dos quartos estavam demarcadas com os seus respectivos números, haviam desenhos entalhados nas portas: flores, animais e até mesmo alguns desenhos tribais. Durante o percurso até o quarto, ouvi muitos sons distintos, gargalhadas, pessoas conversando e ouvi alguém chorando também, mas não consegui saber em qual quarto era. Cheguei até a porta do meu quarto, nela havia uma espécie de frase entalhada em dourado na madeira negra, tentei ao máximo descobrir o que estava escrito lá, mas meu esforço de nada valeu, parecia que tudo estava borrado.

O Primeiro - Entre âmbar e prata {Livro 1}Onde histórias criam vida. Descubra agora