04 - Um arremesso celeste.

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× Quarta-feira, 08 de Novembro

Sinto o cheiro que paira no ar e tenho somente uma palavra em mente para descrever o que sinto; odor que entra pelas minhas narinas e entorpece meus sentidos: PODRIDÃO. Era como se tivesse algo morto e podre bem a minha frente, eu podia sentir as ondas do maldito odor vindo na minha direção.

Ouço a voz da garota, falando algo de frente a mim, mas não fui capaz de entender o que estava saindo de sua boca. Apenas notei que ela sorria enquanto me olhava. Então ela novamente fala, sua voz era distorcida, como se estivesse falando através de algum objeto cilíndrico.

--- Maldito seja garoto, trate logo de me dizer de uma vez o que faz neste lugar amaldiçoado! --- Parecia irritada, seu rosto estava corado e brava, talvez com a minha demora para responder, ou não.

Sinto frio, ouço e sinto os batimentos do meu coração mas não posso ficar em silêncio. Aquela garota está ficando cada vez mais agressiva, sem nem pensar direito começo a falar:

--- Que merda de Limbo é esse ? Aqui ainda é aquele parque bizarro, só que mais bizarro agora com tudo em cinza. --- Digo de uma forma serena, daquela forma calma que se fala com crianças para que elas possam fazer o que você quer.

--- Está claro que é você que está me prendendo não é? Será que rola me soltar? Não tenho tempo para ficar brincando com vocês criançinhas aqui. Ainda tenho que me arrumar, tenho um encontro mais tarde. --- Acho que ela entendeu bem, pois ficou estática, prestando atenção em tudo que eu dizia.

Vejo a reação da garota, e não é das melhores. Ela estava vermelha agora e posso jurar que estava me xingando em outra língua que eu não faço ideia de qual era.

Agora a garota estava possessa, berrando cada vez mais alto. Chamas verdes brotam de suas mãos, bocas e narinas de uma forma que eu nunca havia visto antes em qualquer lugar ou em qualquer pessoa acontecer. Tinha certeza de que eu não estava mais no parque e que essa garota, não era uma simples criança. Sinto o calor de amana dela, as chamas verdes brilham como neon e tudo se tinge de verde fluorescente. Aquelas chamas eram lindas, porém em minha atual situação, eu sabia que aquilo seria morta e aquela garota não pararia a menos que algo muito importante a parasse.

--- Como ousa falar assim comigo ? Eu Amabell, Guardiã Demoníaca da área Central do Novo Limbo, irei extinguir a existência de sua alma com apenas uma rajada de minhas chamas incandescentes --- Ela indaga como se já tivesse feito isso milhares e milhares de vezes, como um texto decorado para um espetáculo, sorrindo com orgulho de dizer aquelas palavras.

--- Proteja-se garoto ou fuja, soltarei seus movimentos para que a caça pela sua alma seja mais divertida --- Diz ela fazendo um movimento de cima para baixo com a mão direita

--- Corra e me divirta --- então ela grita.

Posso me mover novamente, sinto cada parte do meu corpo agora. O campo a nosso redor ainda está totalmente tingido de verde neon, ouço a grito da garota, vejo bolas de fogo incandescente do tamanho de bolas de futebol vindo em minha direção, não sei o que fazer então me jogo pra direita. As chamas atingem o chão, criando três buracos. Caio em frente ao balanço e ouço as gargalhadas das malditas crianças, que estão se divertindo com tudo isso.

Antes que eu pudesse tomar fôlego e levantar, mais duas bolas vem em minha direção. Só tive tempo de pensar em rolar mais alguns passos para direita antes que as chamas atingirem o chão e criarem mais duas crateras e novamente ouço as gargalhadas.

Pego algumas pedras no chão e levanto rapidamente, não vou fugir mais, já me cansei disso.

--- Já fugi demais dos meus problemas --- resmungo baixo --- Agora é a hora de ser eu mesmo.

Vejo que as crianças ainda estão próximas a mim e que não estou muito longe da onde estava quando estava preso pelo magia da garota. Sinto o olhar fixo das três crianças. Eles estavam me observando intensamente, mesmo ainda gargalhando, ainda estavam olhando fixamente para mim.

A garota agora estava com as mãos em chamas, como se tivesse segurando um pequeno sol em cada mão. Sentia seus olhos mirando em mim, esperando um movimento meu para disparar.

Vejo seu enorme sorriso. Ela está se divertindo com isso, me fazendo correr como um rato de laboratório. Tenho três pedras do tamanho de nozes nas mãos. A garota estava a cerca de dois ou três metros de distância de mim, eu sentia que podia acertá-la com pelo menos uma das pedras e ainda desviar de seus ataques.

Entro em posição de ataque, perna direita para trás de apoio e braço direito para cima da cabeça para dar o impulso. Miro diretamente na testa da garota e sinto minha mão direita queimando, meu anel pesado como chumbo. Me lembro das aulas de beisebol que já tive na escola. Lembro do sorriso lindo da minha mãe e de como ela sempre estava feliz, como me apoiava quando eu estava triste ou desanimado, me lembrando de que estaria sempre comigo me guiando, cuidando de mim e do meu pai. Concentro toda a minha atenção naquele arremesso. O brilho azulado agora estava evidente, era como se houvesse uma luz emanando diretamente dele.

Por um segundo o ar se prende em meus pulmões com a concentração do arremesso. Vejo que a garota também esta pronta para disparar e que agora as bolas de fogo tem três vezes o tamanho das anteriores.

A garota arremessa suas chamas, três enormes bolas e as vejo vindo em minha direção. Então arremesso a pedra com todo a minha energia e concentração, já esperando receber o ataque; já não me importando mais em desviar e fugir pra sobreviver. Um brilho azul sinistro envolve a pedra, como se também estivesse em chamas, deixando um rastro fino de luz no ar.

A minha pedra transpassa uma das bolas de fogo a fazendo explodir no ar. A pedra ainda segue a toda velocidade atinguindo a garota diretamente no ombro, um pouco diferente de onde eu queria.

Mas algo deu errado, as chamas sumiram e uma explosão azul celeste tingue o ar. Sinto meu corpo fraco, caio de joelhos no chão do parque, minha consciência se esvai.

Então desabo no chão, desacordado.

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⏰ Última atualização: Nov 23, 2015 ⏰

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