- Valeu! Agora sim eu me sinto mais confiante. Conclui que a Marcela era a ovelha negra da família, a Melissa era tão comportada, e os pais dela pareciam muito sérios. Marcela fugia à regra, me contava confusões da escola e tinha opiniões mais radicais.
A família era de Porto Alegre. Tanto Marcela quanto Melissa eram muito bonitas, mas a Marcela chamava mais a atenção. Seus traços eram mais contrastantes, e os olhos dela pareciam pedras de safira. Acabamos falando de relacionamentos de novo, mas dessa vez ela fez algumas perguntas estranhas. Não dei importância por já ter percebido que a Marcela tinha um jeito bem mais descontraído de ser.
- E os garotos da sua escola? Ficam muito em cima de você? - perguntei.
- De mim e de todo o mundo. Vocês não prestam.
- Eu presto - me senti atingido.
- Você é uma rara exceção. - concordou Marcela, provocando ligeira surpresa.
- Ah! Então você concorda que sou um cara decente?
- Até que você me prove o contrário, sim. Ou você ach a que eu deixaria qualquer um usar meu travesseiro? - falou apontando para o travesseiro no qual eu apoiava as costas.
- Ninguém mandou trazer seu travesseiro para a sala, agora é meu.
- Até parece, me dá ele aqui que eu quero deitar.
- Não - desafiei.
- Me dá.
- Perdeu - continuei em tom de desafio.
Ela me encarou por um momento, estreitou os olhos e de supetão tentou tirar à força o travesseiro, quase pulando em cima de mim.
- Tá bom, tá bom. Eu te dou o travesseiro - não reagi e entreguei o travesseiro para ela. A última coisa que eu queria era que a Melissa entrasse e me visse abraçado com a irmã dela de pijamas. - Você ataca os meninos da sua escola também?
- Não.
- Eles que atacam você então?
- Ninguém ataca ninguém - respondeu, me fazendo rir.
- Fala sério. Os meninos devem cair matando em cima de você
- E por que você acha isso?
- Eu sei que você sabe a resposta, e tá falando isso só para me ouvir dizer, né?
- Se você for falar que é porque eu tenho olhos azuis, bunda e peito, e melhor não sair nada da sua boca mesmo.
Não consegui não rir, era a primeira menina que falou comigo como se ela fosse outro garoto. Ela dizia as coisas sem timidez e sem ser vulgar, era até engraçado. Depois do espaço para a risada, continuei.
- Eu não usaria essas palavras, mas é por aí.
- E que palavras você usaria?
- Eu falaria que é porque você é uma garota muito bonita.
- Só isso? Credo.
- O que foi?
- Você não é uma pessoa de muitas palavras. "Garota muito bonita?" Que coisa de gay - respondeu, me causando risos de novo.
- Decepcionada? Achou que eu te colocaria em um altar?
- Você que devia ficar decepcionado consigo mesmo, esse é o melhor que pode fazer? Você não é muito bom com as palavras não é? Melhor praticar um pouco mais se quiser conquistar a minha irmã.
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O preço de uma lição.
RomanceOs meninos são, sim, capazes de amar. "Tem um ditado que diz que o amor é cego. É justamente o contrário. Quando você ama de verdade, é capaz de ver coisas que ninguém consegue. Falam que você não consegue enxergar os defeitos, pura mentira também...