Capítulo 2

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Aquele momento ainda estava gravado em minha mente, era mais um dia comum de faculdade e lembro de ter recebido uma ligação da minha mãe, com a respiração acelerada e com mil pensamentos em mente, tentei permanecer calma enquanto estava ao volante. Nada estava definido, ainda teríamos outra chance, certo? Podíamos mudar o que estava por vir.

— Boa noite, gostaria de saber onde está o paciente Leonard Blake? Ele deu entrada tem pouco tempo, é o meu pai. — Minha fala saiu mais rápida do que gostaria, minhas mãos estavam trêmulas e estava ofegante.

— Calma, tente se acalmar. Verei em qual quarto ele está. — A recepcionista diz enquanto pega sua prancheta, ela procura em suas folhas e coloca a prancheta no mesmo lugar depois de alguns segundos. —Venha por aqui. — Sigo a mulher que andava com a maior tranquilidade até o elevador, provavelmente por passar pelas mesmas situações constantemente, isso nem a afetava mais. Assim que as portas se abrem, entramos e ela aperta as teclas para o nono andar. A espera por vê-lo estava me matando, tudo o que queria ouvir é que ele estava bem e que não passou de um susto. Eu nunca tive alguma crença, mas naquele momento eu rezava em minha mente para que tudo estivesse bem.

Saímos do elevador e não sabia se era porque estava com uma mistura de sentimentos naquele momento, mas o silêncio daquele longo corredor chegava a ser perturbador. Enquanto andávamos até o fim do corredor, pude ouvir o som da voz de meu pai vindo de um dos quartos e apressei meus passos ainda mais.

— Pai? — Abri a porta sem nem ao menos ter a certeza se era o quarto certo, mas tinha certeza que sua voz tinha vindo daquele qaurto. Minha mãe andava de um lado para outro, visivelmente nervosa. Meu pai estava deitado na cama, de longe podia vê que estava abatido, seus olhos estavam pesados como se tivesse chorado e aquilo fez meu coração doer.

— Minha pequena flor. — Ele diz em um tom baixo, poderia dizer com certeza que se o quarto não estivesse totalmente silencioso não escutaria suas palavras.

— Pai. — Minha voz saiu mais arrastada do que desejava, como se um nó estivesse preso em minha garganta. Me aproximo da cama em que ele estava deitado e o abraço. Não pude conter algumas lágrimas insistentes naquele momento.

— Vai ficar tudo bem, pequena. Tudo ficará bem. — Eu gostaria de dizer que suas palavras me tranquilizaram um pouco naquele momento, que após aquilo as coisas melhoraram ou que tudo aquilo não passou de um pesadelo. Mas aquela se tornou nossa realidade.

Eu sempre achei que fosse o tipo de mulher forte, que não me abalava facilmente mas após isso pude conhecer uma nova versão minha. A verdade é que ter meu pai comigo me trazia essa sensação de bravura e me sentia assustada só por achar que poderia perdê-lo. E essa se tornou nossa atual realidade. A doença de meu pai estava evoluindo rapidamente e estávamos por um fio de perder a empresa.

— Querida, você recebeu outro telefonema de Andrew, ele parece preocupado. — Ela diz parada na porta de meu quarto e não tenho reação alguma. Eu não pretendia me afastar de todos os meus amigos, na verdade num momento tão difícil seria o ideal tê-los por perto mas tive medo. Andrew era meu melhor amigo a muito tempo, mas não sabia se conseguiria olhar em seus olhos e mentir sobre tudo o que estava acontecendo.  — Talvez fosse bom para você encontrá-lo, conversar e distrair um pouco a mente. - Ela diz e permaneço igual. Sabia que estava preocupada, mas agora preferia ficar sozinha.

— Obrigada, mãe, mas eu realmente preciso de um tempo sozinha. Só para pensar um pouco, sabe?. — Finalmente me viro para sua direção e dou um rápido sorriso. Eu sabia que não podia esconder nada dela mas não precisava que ela se preocupasse com mais uma coisa. —Eu prometo que ligarei para ele.

— Tudo bem, me chame de precisar de algo. — Novamente sozinha volto a minha atenção as malas no canto de meu quarto, eu sempre odiei ter que fazer malas mas tinha esperança que isso me distraísse um pouco.

Enquanto retiro peça por peça do meu guarda roupa me deparo com um moletom de time do colégio, me lembro de ter recebido de Tyler, meu primeiro namorado. Naquela época eu achava que éramos almas gêmeas, destinados como nos filmes de romances que eu tanto amava. Mas foi total perda de tempo, éramos tão diferentes. Tyler parecia morar em uma bolha de puro egocentrismo, na sua mente todos queriam ser ou ter ele. Até hoje quando me lembro dou risada e me pergunto como aguentei tanto tempo, definitivamente não tínhamos nada em comum e tudo o que fazíamos era discutir. 

— Acho que não preciso mais disso. — Digo sorrindo enquanto jogava o moletom em qualquer canto do quarto e pegando as últimas peças para finalizar a primeira mala. — Uma mala feita em três horas? Meu novo recorde.

— Kathe? — Me viro assustada assim que escuto uma voz masculina familiar me chamando.

— O que está fazendo aqui? — Digo assim que vejo meu melhor amigo parado na porta de meu quarto. A expressão em seu rosto demonstrava que ele estava confuso e seus olhos denunciavam o porquê.

— Por que está fazendo as malas? — Ele pergunta ainda sem retirar os olhos da mala. Talvez fosse a oportunidade que precisava para lhe contar a verdade mas o medo pareceu me engolir.

— São só roupas que irei doar, nada demais. — Fecho o zíper da mala, a colocando próximo ao guarda roupa e pelo rosto do meu amigo, ele pareceu aceitar minha desculpa. — Por que está aqui?

— Você não me atende mais, pelo menos deveria me dizer o porquê está me evitando. — Foram poucas as vezes que o vi irritado assim. Nada tirava Andrew do sério, estava sempre com um sorriso no rosto e adorava isso nele. — Estou esperando.

— Não é nada, Andrew. Eu só precisava de um tempo sozinha.

— Ao menos minta melhor, Katherine. Ou acha que vim até aqui para escutar isso? — Ele diz e em seu tom de voz eu pude perceber que estava determinado. — Por que não me conta o que está acontecendo? Sabe que pode confiar em mim.

— Meu pai está doente, está internado. Está com leucemia. — Digo enquanto me sentava em minha cama.

— Kathe, por que não me falou? — Ele diz se aproximando e se sentando ao meu lado. — O que os médicos disseram?

— A forma mais eficaz é um transplante de medula óssea, mas não achamos nenhum doador compatível ainda.  

— Você deveria ter me falado, não deixaria vocês enfrentarem isso tudo sozinhas. — Andrew segura minha mão e olho para ele que não desviou seu olhar por um segundo.

— Eu sei e agradeço por isso, mas só quis organizar minha mente. — Digo escondendo o fato que em menos de uma semana minha vida mudaria completamente.

— Eu imagino, mas queria ter ficado ao seu lado nesse momento. Não só por você, sabe o quanto gosto dos seus pais. — Ele diz e permaneço quieta, sabia que suas palavras eram verdadeiras. — Jessica não para de me ligar perguntando se você deu sinal de vida, ficamos realmente preocupados.

— Eu não quis preocupar vocês e também senti saudades. — Olho para meu amigo e dou um sorriso rápido. Me lembrava o quanto tudo parecia mais fácil na época do colégio, sempre tive Andrew ao meu lado. Na verdade não me lembro de uma fase de minha vida em que ele não estivesse presente. Sempre estivemos ali um para o outro e depois de algum anos, Jessica se juntou a nós dois. 

Continuamos a conversar por alguns minutos e talvez minha mãe estivesse certa, passar um tempo com Andrew me fez bem. Ele sabia como me fazer esquecer os problemas mesmo que fosse uma solução temporária, de algum modo ele me fazia bem.

— Eu tenho que ir, se não vou chegar atrasado na aula. — Ele diz enquanto se levantava e o levo até a porta de casa. — Podemos nos encontrar amanhã? Quero me certificar que não vai mais fugir.

— Eu não vou fugir, mas sim, podemos nos encontrar. — Dou um sorriso e ele me abraça, por um segundo me senti acolhida novamente. O sentimento de medo e incerteza por alguns segundos parecia tão pequeno perto de tudo o que estava acontecendo. — Agora vai, não quero te atrasar.

Vejo Andrew se afastar calmamente até seu carro, ele olha para trás mais uma vez antes de entrar no carro, talvez se certificando que não iria desaparecer ou algo do tipo, dou um sorriso e aceno uma última vez. Meu melhor amigo dá partida e espero até que esteja distante para entrar em casa. O tempo que passamos juntos, apesar de poucos minutos, tinha sido bom. Andrew tinha um jeito único de tornar as coisas simples, me lembro de como me sentia que ao lado de Andrew e Jessica, tudo era fácil e calmo, todos os problemas pareciam minúsculos. 

O Acordo PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora