Fiquei a observar o tempo, acabei me sentando em uma das mesas perto da janela, ventava e chovia fino, olhava através dos vidros para madeireira, até alguém abri a porta e chamar minha atenção para ela, era um garoto alto e branco com os cabelos negros e olhos definitivamente claros, sua jaqueta de couro e sua jeans apertadas deixava um ar de cara malvado, voltei minha atenção para a janela, e logo depois de 10min Ty apareceu com minha comida, paguei e sai.
Chegando perto do carro percebi que o garoto me olhava, com aquele oceano profundo, entrei dentro do carro, e fui em direção à reserva, tia Nora morava em uma das cabanas de lá, parei o carro e desci, ela estava sentada em uma cadeira de balanço, se levantou quando me viu e correu para um abraço, ficamos conversando até Megan aparecer enrolada numa toalha.
- Eu não acredito que é você, está tão crescida, tão linda.
- sou eu sim, mas não mudei absolutamente nada.
- Mudou sim, minha flor. (Tia Nora)
- Cadê o Marcos?
As duas perguntaram em coro..
- Ele ficou em casa, prefere muito mais a namorada do que a vovó, ele esqueceu o que é família. Só se importa com ele mesmo. (Disse em algumas lágrimas) Vovó não merecia isso, ainda mais ela que fez tanto por ele quanto menos mereceu.
- Não fica assim minha sobrinha, vou preparar uns cookies e um chocolate quente.
Megan já havia entrado, e provavelmente já haveria dormido novamente.
- Tia Nora, vou dar uma volta pela trilha.
- Ok, mas não demora.
Coloquei meus fones, e segui andando, chutei algumas pedras, o vento estava forte, batia nos meus cabelos loiros jogando os para trás, após uns trinta minutos caminhando a trilha escura e fria da reserva, finalmente cheguei onde vinha quando era criança, ao olhar melhor para o lugar percebi que aquele mesmo cara do bar, se encontrava ali, fui simpática.
- Olá.
Mas ele sequer mexeu os lábios, estava concentrado demais em alguma coisa, fui até ele e observei junto a ele, era um desenho de um coração, o meu coração com dois nomes, Matt e Kat.
Foi nesse ponto que a ficha caiu, eu não acredito que era ele, éramos crianças naquela época, mas a família dele precisou mudar por motivos pessoais e essa foi a última lembrança que tivemos depois do último encontro.
- Matt, como você mudou...
- Aquele momento que te vi no bar, eu achei que era loucura da minha cabeça, minha Kat, achei que jamais poderia te ver novamente.
Lágrimas rolavam no meu rosto naquele momento, ele me envolveu num abraço acolhedor e quente, ficamos alguns minutos naquele estado, até nos afastar.
-Vai voltar a morar aqui? Ele perguntou.
- Não, vovó morreu.
- Eu sinto muito, muito mesmo.
Ele me abraçou de novo.
- Me mudei novamente para cá, confesso que a cidade está uma merda sem você.
- Eu estou morando com meus pais, numa cidade há umas 3 horas daqui, acho que vai ficar mais fácil nos ver.
- com certeza.
Ao acabarmos de nos falar, ouvi tia Nora gritar meu nome, dizendo que meu avô estava no telefone, me despedi de Matt, e desci correndo pela mata.. Cheguei e me deparei com Tia Nora com lágrimas nos olhos, me desesperei de primeira.
- Kat? ( a voz de choro do meu avô, fez com que derramasse algumas lágrimas)
- Diz vovô, o que aconteceu?
- Aconteceu um acidente,com seus pais.
- Mas eles estão bem? e o Marcos?
- Eles não sobreviveram querida, o carro pegou fogo.Marcos ficou vivo, pois estava na casa da namorada.
- ....
Deixei o telefone cair, aquilo não seria possível, corri o mais rápido que pude, quase derrubei Megan, subi aquela trilha o mais rápido, corri mais para cima, avistei o Matt ali ainda pensando, mas mesmo assim continuei a subir.
- O que aconteceu Kat? Ele me perguntou com uma cara confusa.
Até começar a correr atrás de mim, e me puxar para um abraço.
O que aconteceu? Ele me perguntou depois de uns vinte minutos assim.
- Meus pais, respondi em lágrimas.
Eles morreram..
Ele não disse nada, apenas continuamos abraçados, não sei o que seria de mim agora, apenas eu e vovô e Marcos. Me soltei do abraço.
- Matt me acompanha até em casa?
- Sim, querida.
Descemos a trilha, nem sequer passei na casa de tia Nora, segui direto para o carro, Matt iria dirigir, sentei e fiquei olhando pela janela, como se aquilo tudo fosse um pesadelo do qual eu ainda iria acordar, mas para minha desgraça aquilo era verdade, primeiro a vovó Noah, agora mamãe e papai, não terá enterro, pois como o carro pegou fogo, eles foram cremados. A última lembrança que eu me lembro, é de mamãe e papai me levando para a casa do vovô hoje de manhã, uma lágrima rolou sobre minha face. Finalmente chegamos na cabana do vovô, ele tirava algumas caixas do carro de Tia Jenny, eram minhas coisas, todas elas, corri até eles, Matt veio logo atrás ajudando Jenny a colocar as coisas dentro da cabana, abracei vovô e me despedi de Matt.
Subi para o meu novo quarto, antigo de quando era criança, o chão de madeira, e minha cama de ferro branco, uma cortina branca ainda estavam lá, fui até o guarda-roupa e tirei tudo de lá, abri minhas malas, e fui organizando enquanto minha banheira enchia, coloquei uma bolsa com meus produtos em cima da cama, fui arrumando tudo certinho, até alguém bater na porta.
- Kat? É sua tia Jenny, posso entrar?
- Claro.
- Vim trazer suas coisas, seu avô me pediu há umas 5horas antes, seus pais já estavam com a intenção de te mandarem pra cá mesmo antes desse acontecimento, seu irmão chega amanhã, trouxe as coisas dele também, seu avô vai ficar com a sua guarda, vai tomar seu banho que a tia da uma arrumada aqui, vai relaxar um pouco.
Peguei minha bolsa, e uma toalha e fechei a porta. Me despi e fiz um coque, entrei naquela água quente e fiquei por uns 50 minutos, colocando a vida em ordem, decidi não ficar triste, por mais que sejam meus pais, preciso levar a vida ainda, eles ficaram feliz por mim.
Levantei e me enxuguei, soltei a água da banheira e coloquei um pijama. Ao sair da porta tia Jenny já tinha arrumado tudo, colocou até coisas novas de escola em cima da escrivaninha, deitei na cama e apaguei.