NAQUELE DIA, quando entrei em sua sala de aula, eu estava uma pilha de nervos. Talvez seja clichê ficar nervoso ao começar em um colégio novo, mas não era um colégio novo qualquer. Era a faculdade. Eu me sentia uma criança. E a parte triste disso tudo é que, de acordo com a polícia, é isso mesmo que sou. Então, talvez eu devesse ter dado ouvidos a meus instintos. Se tivesse agido da forma como me sentia, você saberia a verdade. Teria percebido a um quilômetro de distância e ficaria mexendo em seu MacBook sem me olhar nos olhos e sorrir daquele jeito que faz seus calorosos olhos verdes se apertarem. Mas não agi da forma como me sentia. Ergui a cabeça, estiquei a coluna, passei pela porta e entrei na sala. Já estava nervoso antes, e, quando nossos olhos se encontraram, o frio na barriga se tornou uma nevasca.
Eu me virei e fui até a fileira de trás para que você não me visse enrubescer. Encontrei um lugar ao lado de um garoto alto e bonito, cujos olhos castanhos e exóticos pareciam naturalmente ardentes e sensuais. Nunca vou entender por que você reparou em mim, com uma garoto como aquele sentado a meu lado. Passei a vida toda sendo invisível por causa de garotos assim. Garotos que destilam o tipo de sensualidade que não consigo fingir nem em frente ao espelho do banheiro. Mas talvez o mundo real seja diferente. Não vi o bastante para ter certeza. Com certeza parecia diferente quando estávamos juntos. A aula era de biologia, mas você já sabe disso. Acho que preciso escrever também esse tipo de coisa para eles, para que saibam a verdade. Você terá que me perdoar por eu dizer o que já sabe. Eu era bom em biologia. Muito bom.
Não gostava da matéria tanto quanto de leituras como O morro dos ventos uivantes e Shakespeare, mas, para mim, era fácil como escovar os dentes. Matemática também. Sabia que fiz prova de cálculo sem nunca ter cumprido os pré- requisitos? Pulei pré-cálculo. Acho que por isso meus pais confiavam tanto em mim na época. É fácil confiar em um garoto inteligente.
Garotos inteligentes não deveriam fazer coisas estúpidas.
O dia estava lindo. O sol do fim de setembro atravessava a folhagem das árvores enormes do campus e tingia a superfície de minha nova carteira quando me joguei no assento e peguei um caderno de espiral novinho. Minha mãe não ficou muito feliz ao descobrir que o material escolar e os livros custaram mais de trezentos dólares, mas pelo menos não tínhamos que pagar a mensalidade. Isso ficava por conta da Enumclaw High School, como parte do programa Running Start. Eles bancavam todas as minhas aulas na Green River Community College, que é uma faculdade que você frequenta antes de entrar na universidade propriamente, e eu só precisava manter a média C. Conseguiria créditos da faculdade e do ensino médio ao mesmo tempo.
Talvez alguém já tenha lhe explicado tudo isso agora. Provavelmente já mencionaram, mas talvez você não tenha prestado atenção, não tenha parado para pensar no assunto. Aposto que agora pensa. Enquanto eu destampava minha caneta roxa fofa — algo que parece tão imaturo agora —, você se levantou da cadeira de couro e foi até o centro da sala dando apenas alguns passos com essas suas longas pernas. De cara, gostei da organização da turma; as carteiras estavam distribuídas em um semicírculo, de forma que você podia ir até o centro, e todos ficávamos ao redor enquanto você falava, sorria e gesticulava com suas mãos perfeitas, ásperas só o suficiente para serem masculinas.
— Bem-vindos à Biologia 1 — disse você, e, apesar de não haver nada de especial nas palavras, a forma como falou fez diferença. Era como se nos dissesse que estávamos sendo convidados para algo extraordinário.
Não sei se foi amor à primeira vista. Você acredita nisso, em amor à primeira vista? Queria ter feito essa pergunta semanas atrás, quando tive oportunidade. Queria ter feito essa pergunta dias atrás, quando estávamos um nos braços do outro.
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The Truth About You and Me\ Larry Stylinson
Roman d'amourQuerido Harry, É possível que você não leia isto, mas talvez eles leiam, o que pode ajudá-lo. Esta carta não pode fazer nada por nós, porque não existe nós… não mais. Só em dizer isso fico sem ar. Espero que, de alguma forma, você encontre força...