Discovery

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Eu o beijei. Eu deixei ele me beijar. Porque eu fiz isso?

Deitei na minha cama com roupa e tudo, cansada e perturbada demais para realizar qualquer que fosse a mais simples ação. Encarei o teto por alguns instantes, tentando pensar de forma racional, mas meus pensamentos eram um turbilhão de coisas que não conseguiam se organizar.

Comecei a brincar com o zíper da minha jaqueta, puxando ele para cima e para baixo, tentando me distrair um pouco.

Foi quando eu notei que eu ainda estava usando a jaqueta do Harry.

- Droga! - xinguei alto, me levantando e tirando o casaco o mais rápido possível, como se fosse um movimento automático.

Joguei-a na cama e fiquei a encarando por alguns instantes.

Sentei-me na beirada da cama e coloquei as mãos no cabelo, extremamente frustrada.

- O que está acontecendo com a minha vida? - perguntei baixinho, esperando que magicamente alguém aparecesse e desse a resposta para todos os meus problemas.

Eu não queria um potencial megalomaníaco atrás de mim, não importava se ele fosse lindo ou não, sexy ou não, interessante ou não. Eu apenas queria voltar ao normal, sem a provável perseguição, sem ficar preocupada cem por cento do meu tempo... Mas era claro que se aquilo tudo tinha começado, só ia terminar quando Harry conseguisse o que ele tanto queria. Obviamente eu tinha uma hipótese de qual seria a resposta, mas decidi não pensar muito nela.

Fiquei alguns instantes encarando a jaqueta jogada ao meu lado.

Não consegui impedir a minha curiosidade e peguei o casaco, avaliando-o melhor.

Enfiei a mão nos dois bolsos de fora e não encontrei absolutamente nada. Eu sentia que o que eu estava fazendo não era correto, mas contando tudo que Harry já tinha me feito passar, olhar as coisas dele não me parecia algo tão ruim a se fazer. Enfim, olhei o último bolso, que ficava na parte de dentro, na altura do peito.

Encontrei um pequeno papel, dobrado em três.

Forcei meus dedos a desdobrarem, eu simplesmente não entendia porque eu estava com medo de abrir um pedaço estúpido de papel. Depois de uma luta mental contra mim mesma, me convenci a abrir.

"Emergências: 08457 90 90 90"

"Julianne: 08673 21 90 90"

Franzi as sobrancelhas ao ler aquilo. Olhei o verso da pequena folha para ter certeza que não havia mais alguma coisa escrita, mas não havia. Fitei os números sem entender absolutamente nada. "Emergência"? Que tipo de emergência? Aquele não era o número dos bombeiros, polícia ou ambulância. Por que ele tinha aquela droga de número no bolso? Quem era Julianne?

As perguntas se embolavam na minha cabeça e aumentavam ainda mais a confusão. Eu não conseguiria fazer mais nada, nem ao menos dormir, se eu não descobrisse do que aquilo tudo se tratava.

Peguei meu celular, que estava no bolso da minha calça. Mordi o lábio, pensando se eu queria mesmo descobrir os segredos dele.

Eu queria.

Disquei o número da Julianne primeiro, sem hesitar e cliquei em "chamar". Escutei dois toques antes de uma mensagem eletrônica começar:

"Obrigada pela sua ligação! No momento, a clínica não está em funcionamento. Tente ligar para nós entre nove da manhã e seis da tarde. Mas se preferir deixar um recado ou tentar marcar hora com a doutora Dawson, aguarde na linha e deixe sua mensagem...".

Desliguei o celular rapidamente.

"Doutora Dawson", "clínica". Aquelas palavras não paravam de se repetir na minha cabeça.

Harry tinha problemas de saúde? Ou talvez aquela fosse uma clínica para dependentes químicos?

Hesitei um pouco antes de ligar para o outro número, mas não resisti a minha curiosidade.

Nem houveram dois toques quando atenderam.

"Alô?" uma voz calmante perguntou do outro lado da linha.

Não respondi.

"Você quer conversar?"

Estranhei o convite.

"Hum, quem fala?" perguntei.

"Alicia, Linha de Suicídios".

"Oh Meu Deus! E-Eu..." a surpresa me invadiu.

"Não! Vamos conversar... É normal pensar nesse tipo de coisa quando se está passando por uma situação difícil... Ter crises é normal. Mas suicídio nunca é a resp...".

Antes que ela conseguisse terminar, desliguei o telefone.

Minhas mãos começaram a suar e eu senti o meu estômago se embrulhar com os meus próprios pensamentos.

Ele carregava dois números no bolso.

1) Dra. Julianne Dawson. Psiquiatra.

2) Linha de Suicídios do Reino Unido.

Deitei-me na cama com o bilhete ainda na minha mão. Agarrei-me na jaqueta, abraçando ela e deixando-a próxima ao meu rosto. Inspirei o perfume de Harry que estava impregnado nela. Fechei os olhos e tudo que eu pude pensar foi:

"O garoto tão autoconfiante... Potencial suicida e maníaco".

[...]


Born To Die //H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora