1.4- Ao acordar

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*PEDRO*
Por sorte, tinha posto a chave no bolso fechado do casaco e assim pega nela e abre a porta. Embora ainda seja cedo para acabar o baile, é já tarde para a sua mãe e irmã mais nova, que dormem sossegadas no andar de cima. Ainda em choque e com a cabeça às rodas, não se sente capaz de gritar ou de alertar a família. Pensa apenas em tomar banho e ir deitar-se, ver se esquece tudo isto, pode ser que seja tudo um sonho.

*EVA*
Tinha saído para um curto passeio na floresta, então não tinha levado nada. Assim que chega à porta de casa, bate nela até que esta se abra enquanto grita para que a deixem entrar, como se ainda alguém estivesse atrás dela. Ninguém vem. Recua uns passos e olha para as janelas, a ver se vê alguma com luz. Quando saiu, o pai estava a ver televisão na sala, mas agora tudo está apagado. Olha então para a barraquinha no jardim e aí sim, nota diversas sombras lá dentro e distingue risos. O pai tinha chamado amigos e estavam lá dentro. Voltando à realidade, a Eva sabe exatamente o que fazer quando isto acontece. Quando o pai vai para a barraca, deixa sempre a chave debaixo do vaso da entrada, pois não gosta de ser incomodado. Ela procura a chave, entra e corre escadas a cima. Dá por si exausta e aterra na cama.

*PEDRO*

O despertador toca: 10h.
Acorda, ajeita os lençóis, afasta a franja dos olhos e vai meio às cegas lavar a cara. Desce e prepara os cereais de sempre. A mãe e a irmã ainda estão a dormir. É sábado de manhã. Enquanto come, sente algo estranho na boca. Algo diferente, dói-lhe. Vem-lhe à cabeça a noite passada e sente uma súbita dor de cabeça. Sobe para lavar os dentes, desta vez mais acordado. A dor de dentes é estranha e, ao levar a mão à boca, sente os caninos mais longos e bicudos. Em pânico, olha-se ao espelho e aí sim, dá um salto, quando se apercebe que NÃO aparece no espelho!! "O que é que está a acontecer? O que foi aquilo ontem? No que é que me tornei???" pensa. "Oh meu deus... E agora o que é qu... - repara na sua roupa do baile que tinha deixado no chão. - Oh não... Não, não, não..." lembra-se da da Mafalda e, somando um mais um, percebe que está é vampira e que o transformou a ele e à Eva em vampiros também. Ao lembrar-se da Eva, sente uma gratidão enorme por esta o ter tentado salvar em vez de fugir, e arrepende-se de ter sentido medo dela e de ter corrido para casa sem lhe dizer nada, nem sequer perguntar o nome. Agora nem sabe se a vai ver outra vez. E a Mafalda? Vai vê-la de novo?

*EVA*
O despertador toca: 08h.
Acorda, no mesmo estado com que adormeceu. Mesmas roupas, mesmas dores, mesma confusão na sua cabeça. Abre a janela, deixa entra alguma luz solar e sente ar fresco. De certa forma isto trás-lhe tranquilidade e sente-se segura. Para além de segura, sente-se suja e essa é a única coisa que a faz acreditar que tudo na noite passada não passou de um sonho. "Au! Dói-me tudo... O que raio foi aquilo ontem à noite?!" pensa. Dirige-se para a casa de banho e despe-se. Põe a água o mais quente que consegue aguentar e deita-se na banheira. Fecha os olhos e tenta processar tudo o que lhe passa pela cabeça. "O que era aquela miúda? E quem era aquele rapaz? Porque é que ela nos atacou? Com aqueles aspeto e se nos mordeu o pescoço, só podia ser uma vampira! Mas essas creaturas não existem! Parece tudo tão irreal..." pensa. Ao lembrar-se do aspeto da Mafalda, sente os seus próprios dentes diferentes, e faz o mesmo que o Pedro, leva a mão à boca e apanha o susto da sua vida. Tenta também ver-se ao espelho mas tal como ele, ela não aparece. Está tudo cada vez pior e o pânico instala-se de novo. Enrola-se na toalha e convence-se de que ficou maluca. Põe na cabeça que a única coisa a fazer agora é vestir-se e agir como se nada fosse, uma vez que isto é tudo fruto da sua imaginação. Dirige-se à cozinha e encontra os armários abertos. Com isto sim, ela está familiar. Vira-se para a sala e, já sabendo o que vai encontrar, vê o pai a dormir no sofá. A típica garrafa vazia ainda no seu braço descaído. Normalmente, acordá-lo-ia. Mas hoje, comparado com tudo o que se passa com ela própria, os problemas do pai parecem-se insignificantes.

A Família VampiroOnde histórias criam vida. Descubra agora