Os primos Rodrigues inspiraram o ar úmido do cômodo sombrio. Eles deixaram de sentir o cheiro de esterco da outra sala para sentir o cheiro de mofo dessa.
- Caraca, velho. Eu nem fazia ideia de que existia esse lugar aqui - disse Victor.
- Nenhum de nós sabia - respondeu Daniel sem sair do lugar e olhando em volta, como os outros, para o pouco que a luz da outra sala permitia que seus olhos vissem.
- Sipá nem a vovó nem o vovô sabiam...
- Não, eles não sabiam - disse Mariel. Ela andou alguns poucos passos à frente, sem se afastar demais dos primos. - Aquele fantasma disse que eles não faziam ideia do que aconteceu aqui antes deles comprarem a casa.
- É mas, se a gente for pensar. Foi o tio Júnior que falou pra eles comprarem a casa... - comentou Bia.
- Ah, fala sério, Bia! Você acha mesmo que o tio ia mandar o vovô compra essa bagaça cheia de fantasma!? - Victor se virou rispidamente para a irmã.
- Querem parar você dois! Se a gente continuar assim, não vai dá pra ouvir o barulho.
Os primos ficaram em silêncio, mas desde que todos entraram no cômodo escuro, o som havia cessado.
Daniel pigarreou.
- Então, vamo logo acabar com isso. Eu e o Victor vamo na frente. Bia e Mariel ficam aqui com o Luca.
- A-hã, nada disso. Vamos todos juntos - disse Mariel e Bia concordou enfaticamente.
- Eu é que não vou ser filha única tão cedo, Victor!
- Ah, tá, tá - Daniel fez um sinal com o braço já cansado daquele velho drama familiar.
Os meninos foram na frente, andando devagar e olhando para os lados. As meninas e o primo mais novo seguiam os mesmos passos, mas a escuridão não os deixava ver nada. Eles seguiram adiante poucos passos e Daniel bateu em algo. Ele se assustou o suficiente para dar um grito e caiu para trás, em cima de Bia que esbarrou em Mariel, fazendo-a cair.
O som de caixas caindo no chão e se espalhando em pedaços preencheu cada centímetro cúbico do recinto.
- Que que foi isso?! - guinchou Victor assustado.
- Bosta! É só uma parede... Eu acho - respondeu Daniel depois de recuperar o fôlego.
- E um bando de caixas - emendou Mariel. - Droga, acho que machuquei o braço.
- E eu quebrei uma costela... Daniel, sai de cima de mim!
- É, eu tô tentando, Bia. E fica mais fácil se você pará de se mexer!
Enquanto Victor e Luca ajudavam os outros dois a se levantarem, Mariel jogava os restos de caixa quebrada para os lados e se levantava. Quando apoiou o braço no chão, ela sentiu uma forte dor no ombro direito e sentiu um líquido quente escorrer pelo braço. Ela tinha uma vaga ideia de que tinha se machucado feio em uma das caixas quando caiu, mas depois de sentir um cheiro pútrido quase extinto, ela se esqueceu da dor, e como se tomasse uma dose extra de adrenalina, Mariel deu pulo e foi para junto dos outros primos.
- Acho que ele voltou - ela disse com voz estremecida.
- Onde? - perguntou Daniel.
- Ali, perto das caixas.
Daniel caminhou até onde Mariel apontava e apesar da referência ele nada via, então se abaixou e começou a tatear o chão, sentindo as caixas quebradas e lascas. Victor e Bia se juntaram ao primo, depois que viram não haver nenhum perigo naquele canto. Apesar do cheiro, nenhum fantasma apareceu para eles, mas apenas quando Bia deu um grito que machucou os tímpanos de todos, foi que Mariel sabia que aquilo não tinha terminado.
Bia correu para junto da prima e começou a chorar.
- Eu toquei nele! Toquei no fantasma!
- Como assim, onde? - perguntou o irmão.
- Ali - ela apontou novamente para as caixas.
- Mas como assim você tocou no fantasma, Bia? Não dá pra tocar nele...
- Como assim, não dá? Eu acabei de tocar no braço de alguém - e ela voltou a desatar no choro.
Victor voltou para as caixas, vasculhou e jogou algumas das tábuas e caixas para os lados. Mariel tentava acalmar a prima enquanto olhava os meninos agachados. Até que Victor parou de se mexer.
- Péra, Dani. Acho que achei.
Ele puxou alguma coisa leve de debaixo de algumas caixas e arrastou a coisa para a luz que adentrava o cômodo.
Bastou a luz amarela trôpega delinear os traços moribundos do cadáver da criança, que Victor soltou o braço com nojo, conteve um grito e acabou por tropeçar nas próprias pernas, tentando se afastar da ossada. Daniel puxou o primo para perto do grupo. Luca chorou e escondeu o rosto nas roupas da prima mais velha.
Mariel não acreditava. Aquele fantasma fedido falava a verdade. Havia uma criança e ela havia sido morta, ou melhor, assassinada pelo pai quando ele trancafiou o pobre coitadinho no porão da casa. "Mas espera um pouco. Não foi o pai quem matou a criança", e ao pensar nessas últimas palavras, Mariel sentiu uma corrente de ar em sua nuca e ouviu uma risada de criança bem perto do seu ouvido. Ela conteve um grito e puxou para mais perto Luca e Bia, olhando para trás, tentando achar o fantasma.
- O que você quer? - ela falou alto, sem se importar em deixar o terror sair com suas palavras. - Você queria mostrar o corpo dele, é isso? Queria que alguém achasse o corpo?
Os primos ouviam apenas o silêncio, que por vezes era entrecortado pelos soluços de Bia. Até que Mariel ouviu a risada de criança novamente e ela percebeu que os outros também. A risada aumentava em um ritmo alarmante e insano. Mariel sentiu espasmos de medo e ansiedade percorrerem seu corpo e o de Luca, que se agarrava a ela. Mariel pensou que o primo chorava, mas ela não ouvia o som do choro. Olhando mais fixamente para ele, acostumando os olhos para que rompessem com a escuridão, ela enxergou os olhos do primo, que encaravam os dela e brilhavam na escuridão.
Luca não estava chorando, ele estava rindo.
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A Casa Maldita
HorrorQuando os primos Rodrigues são deixados sozinhos na casa de seus avós para passar as férias de verão e a prima mais velha conta uma história sobre a casa, coisas estranhas começam a acontecer. Que fim terão os primos Rodrigues? Capa por: http://imxa...