No. 1

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*Camila*

Eu não gosto muito de sair de casa. Essas coisas de festas, animação, agitação, bebedeira realmente não é comigo, mas era aniversário de Ally e ela queria comemorar da forma como ela gostava. Pra não ficar parecendo chata, preferi fazer a vontade dela.

Apesar de minha preferência sexual ser completamente definida eu não gosto de freqüentar lugares GLS. Acho maior besteira pelo simples fato das pessoas irem lá para se agarrar e pronto. Não que eu não goste, mas é que eu prefiro uma coisa mais séria.

Chegamos ao lugar e me surpreendi! Era totalmente diferente do que eu pensei; o ambiente era muito bom, música boa - apesar de alta - e muitos, mas muitos casais heterossexuais, tanto que cheguei a pensar que não era uma boate destinada ao público homossexual, mas sim, aberta para todos que quisessem chegar.

Fui apresentada aos amigos de Ally como uma amiga dela. Eu não gostava de acompanhá-la nos lugares quando ela encontraria com os amigos. Era difícil, sabe? Não sei como ela consegue esconder nossa relação. Mentia como ninguém! Eu ficava chateada por ela não me assumir, até um namorado que estava viajando para Portugal ela inventou.

Sabe como é a mentira... No decorrer da conversa os amigos dela me perguntavam sobre meu suposto namorado, no início eu fiquei sem saber o que falar, mas depois de alguns drinques eu embarquei na conversa falando que meu namorado estava em tratamento de uma grave e raríssima doença. Até chorei para dar mais ênfase no drama todo.

As horas se passavam e eu comecei a ficar agoniada com o horário, olhei no relógio várias vezes, queria ir embora, mas Ally não dava o mínimo sinal de vontade de querer ir. Fiquei por lá, nessa hora eu já não interagia mais como antes. Queria mesmo ir embora, deitar e dormir. Precisava descansar!

Em dado momento, Ally disse que precisava ir ao banheiro. Eu concordei com a esperança de que quando ela voltasse fôssemos embora. E lá foi ela.

Estranhamente ela demorou mais que o previsto, esperei por mais alguns dez ou quinze minutos e nada da Ally aparecer. Já não tinha mais assunto com os amigos dela, eles me excluíram do papo e já estavam falando sobre sei lá o quê que não me interessava.

Resolvi ir à procura de Ally, ela estava demorando muito. Levantei da cadeira, pedi licença e saí andando entre aquele monte de gente se agarrando na pista de dança. Quase nem cheguei ao banheiro, não foi preciso muito para ver Ally encostada na parede, sendo agarrada e beijada por um homem. Parecia estar gostando bastante.

Fiquei ali paralisada olhando aquela cena que me deu nojo, uma ânsia de vômito. Uma mulher esbarrou em mim com tanta força que quase caí em cima de outras pessoas, mas nem liguei. Não estava disposta a ficar olhando aquela cena. Que falta de vergonha na cara! Que falta de consideração!

Saí de lá quase correndo, não falei nada para Ally, deixei ela lá com o carinha. Também não me despedi dos amigos dela, não queria criar caso ou dar satisfação do que estava acontecendo. Precisava só sair de lá e respirar um ar diferente.

Cheguei ao píer que dava uma vista linda para uma lagoa, as luzes da cidade reluziam na água, o ar parecia mais, puro, o som era mais calmo; sendo cortado apenas por um choro de uma mulher.

Cheguei perto e perguntei:

- Noite difícil?

- Que nada! - a mulher respondeu limpando as últimas lágrimas - A noite está ótima para quem pegou o namorado agarrado com outra.

- Você também? - fiquei surpresa.

A mulher me olhou com um olhar enigmático. Não sabia realmente se estava com raiva ou triste, mas pude atentar o quanto ela era linda.

R U MineOnde histórias criam vida. Descubra agora