ARIZONA
No dia seguinte Jonas desembarcava no Sky Harbor, Aeroporto Internacional de Phoenix, conhecido como o mais amistoso da América. Mas, não é bem assim. Talvez a cara de cucaracha tenha influenciado, o fato é que Jonas não conseguiu se desembaraçar dos agentes de imigração, alguma coisa errada com o seu passaporte o fez mofar por horas numa sala.
O absoluto silêncio do agente que o vigia, deixa Jonas mais intrigado ainda! Às vezes nada é mais aflitivo que o silêncio, a desinformação, não saber o que os próximos segundos nos reservam pode ser torturante. “O que essa gente quer comigo?” – Pensava. “Ah, se ainda tivesse o poder de ler as mentes das pessoas.” Infelizmente, para ele, esse poder se dissipou tão rapidamente como surgiu. Ao término de uma semana ele já não era capaz sequer de soletrar.
Duas horas depois, um outro agente entrou na sala acompanhado de uma bela jovem. O homem que parecia se o chefe, sorriu amistosamente e explicou a Jonas que ele tinha sido confundido com outra pessoa. Um lamentável engano pelo qual ele solicitava escusas. A jovem se apresentou como Cristina Gutierrez, e o que mais ela ressaltava era sua beleza agressiva, selvagem. As roupas bem cortadas, elegantes e sóbrias, no melhor estilo executiva, não conseguiam disfarçar as belas formas. Informou que era a funcionária da Rabbit Run, encarregada de guiar o brasileiro no território do Arizona. Na saída do aeroporto embarcaram num Land Rover, onde esperavam dois homens em trajes iguais: terno preto e óculos escuros. Devem ser nossos seguranças, pensou Jonas. Ele e a mulher, sentaram-se no banco de trás do veículo. A senhorita Gutierrez não se deu ao trabalho de apresentar os dois homens, muito objetiva, ela disse num português carregado de sotaque:
– Lamentar a recepção péssima! – Observando a dificuldade da moça em articular suas frases em português, Jonas respondeu num inglês impecável.
– São sinais do tempo! Depois do 11 de setembro, qualquer sujeito que não seja caucasiano é suspeito. Mas relaxe! Só o que peço é que me leve para o hotel. Preciso descansar! – Gutierrez, esticou os lábios minimamente, deixando escapar uma discreta intenção de riso, e agora em inglês, respondeu ao rapaz.
– Lamento novamente, mas, descansar não é uma opção! Temos trabalho a fazer.
– Sério?
– Eu pareço ser do tipo que conta piadas?
– Ops! – Quem é essa sargenta? Pensou o rapaz e perguntou: “E aonde vamos?”
– A Rabbit Run está desenvolvendo novas linhas de produtos, estamos diversificando. Vamos investir fortemente na área de tecnologias de comunicação.
– Telefonia?
– Telefonia é coisa do passado! Esqueça os satélites, as ondas de rádio, as microondas… A luz seria a resposta óbvia e foi objeto de longas pesquisas! Afinal, o que conhecíamos que fosse mais rápido que a luz? – Aqui ela faz uma pausa dramática, para depois continuar: – Pois, nós, descobrimos particulas que são alguns nanosegundo mais rápidas! Hojé é até possível pensar em viagem no tempo! – A excitação da moça foi crescendo enquanto ela discorria os avanços e descobertas da Rabbit Run. Gutierrez era sem dúvida uma funcionária que vestia a camisa da empresa com muito entusiasmo. – Com essa tecnologia… continuou a moça – Será possível a comunicação com o espaço. Poderemos enfim, descobrir se estamos sós e se quem nos acompanha nesse Universo é tão avançado quanto nós!
– Deduzo que a senhorita considere que somos o que de mais evoluído existe no Universo?
– Não tenho dúvidas disso, somos nós que estamos fazendo a busca! Somos nós que estamos criando as condições para esse encontro. Se houvesse civilização mais desenvolvida não seria natural que eles já nos tivessem encontrado? E não me diga que acredita nas alucinações coletivas inspiradas por Hollywood!
Enquanto a conversa seguia animada o carro atravessou a cidade e entrou numa auto-estrada reta e longa, a South Mountain Road em Pecos.
– Outra planta que deverá ser construída… - A moça interrompeu sua fala e olhou com desconfiança para Jonas em seguida o advertiu. “Isso é muito confidencial! Essa planta irá produzir armamento.”
Jonas deu pulo de susto. – O quê? Armamentos? A Rabbit Run vai produzir armas?
– Acabei de citar que desenvolvemos uma tecnologia capaz de explorar o universo. Estamos contruindo uma parede de vidro! Da mesma forma que vamos poder enxergá-los do outro lado, “eles” também, poderão nos ver! E quem garante que “eles” serão dóceis?
– E onde eu entro? Onde me encaixo?
– O senhor segundo me informaram foi contratado para trabalhar no desenvolvimento dessa planta específica.
– E para onde estamos indo?
– Para o local onde pretendemos construir nossas instalações.
– Isso aqui parece um deserto!
De fato a escuridão da noite e as margens desocupadas davam a nítida sensação de um road-movie. Cerca de uma hora depois o carro deixou a auto-estrada e se embrenhou para dentro do terrítório desabitado. Após quinze minutos ou menos carro estaciona.
– É aqui?
Gutierrez desce do carro e Jonas a segue. Não existe construção iniciada. Só o terreno virgem! Ela faz algumas considerações de onde, como e porque cada coisa, cada detalhe é necessário.
– Nossa está tudo muito no início! Eu imaginei que…
– Espere! O que é aquilo?
A moça caminha em direção ao que parece ser um tronco de árvore, ou um amontoado de lixo. Ambos se aproximam e descobrem que se trata de um corpo que foi incendiado. Perto desse corpo, estão os restos, também queimados, de um animal de médio porte e mais adiante, é possível imaginar o que foi uma pequena construção.
– Alguém andou brincando com fogo! – Fala Jonas.