Capítulo Dois: "A canção da despedida"

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- Eu temia que algo do tipo acontecesse. -Carrie sussurrou para Alice na cozinha. - Eu só achei que não era assunto meu, então não quis me intrometer...
- Carrie, relaxa. - Lice disse baixo ao tirar o pote de sorvete do freezer. - Não é como se ele fosse me esperar pra sempre.
- Mas, Lice... - Carrie passou a mão pelos cabelos, olhando nervosamente para a porta.
- Baby, sem stress! - Alice sorriu e segurou a mão da melhor amiga. - Não vou negar que foi um choque... Thom e Cathie?!
- Eles começaram a sair há uns quatro meses... - o desconforto de Carrie era de dar pena. - Eu não achei que fosse dar em alguma coisa, mas agora...
- A minha chegada adiantou as coisas, eu imagino. - Lice sorriu mais uma vez, ainda falando baixinho.
- Mamãe? - a voz de Penny preencheu o ambiente, assustando as meninas, que logo riram.
- Na cozinha, princesa. - Alice disse alto e logo a menininha surgiu com um celular nas mãos. - O que o meu bebê quer?
- A madrinha tava me mostrando o parquinho que tem perto da casa dela... - Penn esticou o celular para a mãe ver as fotos do parque conhecido pelas meninas. - Ela disse que se eu dormir na casa dela, a gente pode ir lá amanhã.
- Dormir lá, Penny? - Alice colocou a filha sentada na bancada para ficarem da mesma altura. - Não acho uma boa ideia...
- Por favooor. - a menininha juntou as mãozinhas em súplica e fez bico.
- Se você chorar ou não conseguir dormir... Como é que vai ser? - Lice levantou a sobrancelha e esperou a resposta da filha.Carrie somente observava o incrível nível de entendimento que a amiga tinha com a pequena.
- Eu sou grande, não vou chorar... - Penn segurou o rosto da mãe entre suas mãozinhas e falou fazendo biquinho. - Eu vou dormir com a minha madriiiinha... Não vou chorar...
- Promete se comportar?
- Prometo! - o sorrisão que a menininha abriu fez Alice e Carrie rirem. Quando a mãe a colocou no chão, Penny saiu correndo e logo esbarrou nas pernas de Thom, que entrava na cozinha.
- Ai, desculpa, tio. - ela disse entre risinhos, olhando para cima, porém Thom não retribuiu o olhar e nem respondeu, somente desviou da criança e foi até a geladeira.
- Carrie, mamãe pediu para você levar a mousse que está na geladeira. - ele disse sem desviar os olhos das garrafinhas de cerveja que tirava do freezer e logo saiu da cozinha.
- E acabamos de voltar uns oito anos no tempo. - Alice narrou, fazendo graça, e logo completou ao ver a cara da amiga. - Na época em que ele me ignorava completamente.
- Vocês precisam conversar... - Carrie também se apoiou na bancada e abraçou Alice pelos ombros.
- Nah, já é quase impossível que ele me olhe, até parece que vai falar comigo. - Lice deu de ombros e riu.
- Não entendo como você consegue rir disso! -Carrie bateu o quadril contra o da amiga e riu junto. - Se fosse eu estaria num canto escuro, chorando e gritando... Ou então já teria puxado meu irmão pelos cabelos e o obrigado a resolver todas as merdas pendentes.
- Eu fiz uma escolha, baby, preciso arcar com as consequências... Se seu irmão quiser falar comigo, que bom... Se ele nunca mais quiser olhar na minha cara, é um direito dele... - ela deu de ombros e respirou fundo. - Agora deixa eu ver o que eu tenho de roupas da Penny no carro.

Depois de uma rápida e desconfortável conversa, Alice entregou uma mochilinha com as coisas da filha aos cuidados de Cathie e o número de seu novo celular, com a promessa de que a amiga ligaria para ela caso Penny não conseguisse dormir ou estranhasse a casa.
Durante todo o tempo em que permaneceram sob o mesmo teto, Thom conversou com os amigos e a mãe, porém evitou sequer olhar na direção de Alice ou Penelope.

***

- The big, big bang... The reason I'm alive... When all the stars collide... - Alice cantarolava por seu apartamento novo na manhã seguinte.
Na noite anterior, após se despedir da filha e dos amigos, voltou sozinha para seu novo lar, que estava um verdadeiro caos. Passou horas e mais horas desempacotando, organizando e arrumando. Quando o cansaço e o fuso horário falaram mais alto, ela finalmente foi dormir, por volta das quatro da manhã... Porém, às oito já estava de pé.
- Sometimes I feel so isolated, I wanna die... - a garota se sentia bem. Era uma típica manhã chuvosa londrina e Alice se sentia em casa. Continuou cantando por mais algum tempo, imaginando se a filha já teria acordado, quando ouviu a campainha. Ao abrir a porta, se deparou com Thom e a filha adormecida nos braços.
- Thom?! - ela nem ao menos tentou disfarçar o espanto ao dar espaço para que o rapaz entrasse na sala. - O quê...?
- Cathie teve uma emergência no escritório, então me pediu para te trazer a Penelope, já que não vai rolar parquinho com esse tempo. -Thom segurava a menininha, ainda vestindo seu pijama rosa e amarelo, em um dos braços e carregava a pequena mochila roxa com estampa de coroas douradas na outra mão e, quando Alice fez menção de pegar a filha, ele completou sem olhá-la nos olhos. - Eu a coloco na cama, só me mostra onde é.
- Por aqui... A segunda porta à esquerda. - Lice apontou o corredor, mas logo baixou a mão ao perceber que tremia. Thom caminhou até a porta lilás com inscrições em amarelo ouro"catch a falling star and put it in you pocket, never let if fade away...", entrou e colocou a mochila sobre a pequena mesa no canto do quarto, então desvencilhou as mãozinhas que rodeavam seu pescoço e colocou a menina na cama. Alice logo estava ao seu lado para cobrir a filha com o edredom colorido. Ambos pararam para observar Penelope dormir... As bochechas coradas pelo sono contrastavam ainda mais com sua pele branca, seu cabelo extremamente negro e liso, a boca que formava um constante biquinho avermelhado e, quando estava acordada, seus grandes e expressivos olhos de um tom que beirava o azul elétrico.
- Ela é a cara do pai. - Thom disse com a mandíbula travada e logo saiu do cômodo.
- Thom... - Alice foi atrás dele, após fechar a porta do quarto da filha, e o encontrou prestes a sair do apartamento. - Você... Você quer conversar?
- Não, eu não quero, Alice. - o rapaz parou antes de fechar a porta e olhou a garota nos olhos, pela primeira vez desde que ele pôs os pés de volta na Inglaterra, e ela pôde ver que toda a mágoa e raiva ainda estavam lá. - Ou melhor, eu não tenho nada para falar... E acredito que você não tenha se tornado estúpida, a ponto de achar que eu perderia meu tempo te ouvindo.

A Garota da Porta Vermelha 2Onde histórias criam vida. Descubra agora