Capítulo 1

1.7K 72 10
                                    


     O novo professor de Educação Física finalmente havia calado a boca e toda a sala se levantou para ir à quadra esportiva da escola. Bem, quase todo mundo. Um pessoal permaneceu sentado, rindo das piadas uns dos outros. São meus colegas de sala, mas eu não me lembro do nome da metade deles. Duas garotas e cinco caras, reunidos ao redor de uma das mesas onde uma caneta rodava. Ah. Estavam jogando aquela babaquice chamada Verdade ou desafio, o jogo em que te obrigam a fazer ou contar coisas embaraçosas. É claro que eu já estive em rodinhas como essa e já joguei esse tipo de coisa, mas ultimamente prefiro ficar sossegada cuidando da minha vida ou lendo qualquer coisa.

     - Mas isso é mentira! – grita Mara, uma das garotas da roda. Ela é uma daquelas pessoas que dizem o que querem sem se preocupar com o que as pessoas vão pensar. É irritante na maior parte das vezes, mas também mostra que a menina tem coragem. 

     Inicia-se, então, um debate para decidir se o que Mara disse que é ou não, de fato, mentira. A outra garota, loira e cheia das frescuras que eu não suporto, defende Mara sem desgrudar do namorado, um tal de Hector, que é o cara mais convencido que eu já tive o desprazer de encontrar. O grupo discute, ri, xinga e continua jogando enquanto eu me debruço em minha carteira e tento bloquear os sons ao meu redor.
     Meu nome é Briana e eu sou o que pode-se chamar de delinquente juvenil. Todos aqui são. Estudamos na Escola Estadual da Justiça, onde fomos colocados para que nos "melhorem". Aqui tem todo tipo de futuros criminosos: viciados em armas de fogo, psicopatas, manipuladores e ladrões de rua. Mas nem sempre quem acaba aqui realmente fez algo errado. É como dizem: um criminoso sabe identificar o outro. Um dos garotos da roda é órfão e foi despejado aqui, acusado de roubo. Nós, porém, sabemos que o cara não fez nada. A loirinha esnobe é outra que só está aqui porque os pais não sabem lidar com a rebeldia da menina. Então nem sempre a coisa é séria.
     Abro os olhos e espio o grupo por entre as dobras do meu casaco. Três deles são bem altos e um é tão pálido que parece a própria morte. Ele é o que mais preocupa a direção do Justiça, porque dizem que é um psicopata pervertido sem salvação.
Ao lado do Cara De Morte está o tal de Rodrick, o filho perturbado de um militar morto em combate. Não sei muita coisa sobre ele, mas seu gosto por armas é muito famoso e até dizem que no lugar do coração ele tem uma granada pulsante. O terceiro cara alto é igualmente problemático, mas como não o conheço, não sei o que pensar dele.
     Cubro os olhos novamente e me forço a adormecer. Faz tempo que não durmo bem e parte da razão é meu pai. Ele está em coma no hospital há quase dois meses, sem dar sinal algum de que pode voltar e minha mãe se enterrou no trabalho para esquecer nossos problemas. Minha irmã vive em Moscou e eu não vejo meu irmão desde que ele foi para o colégio militar. Digamos que eu sou a deslocada da família, a desocupada que não faz mais do que ler e estudar – e que ainda assim não vai bem nas matérias da escola.
     Aperto os olhos, tentando não pensar em nada.
E um estrondo ensurdecedor me faz dar um pulo e querer xingar aqueles idiotas que não me deixam dormir em paz. Mas quando olho para eles, vejo que estão tão surpresos quanto eu.
     - O que foi isso? – pergunta a loira.
     Rodrick e o Cara De Morte correm para a porta, seguidos pelos outros três garotos.
     - Ei, você – a voz de Mara chama a minha atenção. É a primeira vez que ela fala comigo. – Foi você quem fez esse barulho pra assustar a gente, bruxa?
     - Mara, cala a boca – grita o garoto negro, acusado injustamente de roubo. Ele parece terrivelmente aterrorizado. – A casa caiu, cara! A merda tá feita, a gente vai morrer!
     Mara revira os olhos e a menina loira ri.
     - Ah, o que é dessa vez, Leo? – pergunta Mara.
     Leo a puxa pelo braço e arrasta a menina lá para fora. Ela grita. A loira e eu nos entreolhamos e corrermos para ver o que está acontecendo. O que quer que seja, não pode ser pior do que o incêndio do mês passado, do qual uma garota foi vítima. Não pode ser. Somos uma instituição cheia de criminosos, mas a coisa não está tão feia assim ao ponto de...
     - Você só pode estar brincando! – Eu grito e depois cubro a boca com as mãos.
     A loira grita também, quase me deixando surda.
     Isso tudo porque o pátio da nossa escola está cheio de cadáveres por todos os lados.
     E eles estão vindo nos pegar.

[PAUSADA] T-vírus: adolescentes num apocalipse zumbiOnde histórias criam vida. Descubra agora