Capítulo 3

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   - Briana – ouço Hector chamar -, suba com Layla para que vocês possam se limpar.     Olho para Layla e ela assente, o rosto vermelho de tanto chorar. Nós subimos para o segundo andar em silêncio e seguimos pelo corredor.     - Os pais de Hector dormem em quartos separados – ela diz, parando diante de uma das portas de madeira branca. – Aqui é o quarto da mãe dele, quarta porta à direita.     Eu a sigo e nós adentramos o cômodo luxuoso. Parece mais um quarto de hotel, pois não há quadros, livros, objetos pessoais ou qualquer coisa que identifique a dona do cômodo. Não há identidade aqui dentro. Layla abre todas as portas do imenso guarda-roupa embutido e começa a revirar as gavetas.     - Preciso de um banho, será que essas roupas me servem? – indaga ela, mas a pergunta me parece retórica.     Vou até a penteadeira e abro as gavetas, curiosa. Sei que mexer nas coisas dos outros sem autorização não é lá uma coisa muito educada, mas mexo assim mesmo. Há escovas de cabelo, toalhas de rosto, frascos de creme para a pele e estojos de maquiagem. De novo, nada que pareça pertencer realmente à mãe de Hector.     - Ei, pega – diz Layla, jogando para mim uma muda de roupas. – É melhor que você arranje um chuveiro também. E jogue fora essas suas roupas.     Baixo os olhos, fazendo careta ao ver as manchas de sangue seco na minha blusa e calça. Layla desaparece porta afora antes que eu possa agradecer.     Uma hora se passa até nos reunirmos de novo, na sala. Todos limpos e alimentados.     - Tudo bem, quanto tempo podemos ficar, Hector? – pergunta Adam, assim que terminamos de comer.     Hector dá de ombros:     - Se limparem e cozinharem para mim, ficam o tempo que quiserem.     - Muito engraçado – Rodrick revira os olhos.     - Idiota – completa Morte.     Estamos sentados em roda no tapete de pele de urso da sala de estar. À minha esquerda está Rodrick e à minha direita, Leo.     - Vamos ficar aqui até quando? – pergunta Layla. E então acrescenta rapidamente: - Não que eu não goste da sua casa, Hec, tudo aqui é incrível. Mas... ainda não tive notícias dos meus pais.     - E o que é que você acha que aconteceu com eles? – Morte pergunta, sarcástico.     - Sei que eles estão bem – Layla responde. – Têm que estar...     Morte ri.     - É mais provável que estejam enterrando os dentes em alguém agora...     - Ei! – grita Hector.     - Não se fala umas coisas dessas pra uma menina, cara – Leo diz a Morte. – Tem que usar umas metáforas pra não traumatizar, sabe? Tipo... Seus pais estão em um lugar melhor agora, Layla, só o corpo deles é que tá rodando por aí atrás das outras pessoas...     Layla fica enfurecida.     - Qual é o problema de vocês?!     - Certo, chega disso – Rodrick sacode a cabeça. – Vamos falar sobre o que realmente importa: o que vamos fazer agora.     - Como assim "o que vamos fazer"? É claro que vamos ficar aqui nessa fortaleza até que venham salvar a gente – Leo dá de ombros, como se sua sugestão fosse a mais óbvia e funcional.     - E quem você acha que vai nos salvar, donzela? - indaga Adam.     - Essa história de esperar por ajuda não vai dar certo – diz Rodrick. – Não vamos durar aqui dentro pra sempre.     - Ah, e qual é a sua sugestão? – Leo ergue o queixo, desafiador.     Rodrick pestaneja.     - Eu... vou pensar em alguma coisa.     - Por que você? – pergunta Layla. – Eu posso ter uma ideia tão boa ou até melhor que as de vocês todos.     - Isso eu pago pra ver – diz Morte.     - Aposto cinquenta que ela não vai pensar em nada – ri Adam.     - Cem – diz Leo.     - Ei, mas vocês nem têm esse dinheiro – protesta Hector.     - Colega, isso é um apocalipse zumbi – Morte sorri, sinistro. - Podemos apostar o que quisermos.     - Isso está mesmo acontecendo? – resmungo, revirando os olhos. – Quantos anos vocês têm? Cinco?     - Quantos anos você tem, cinquenta? – rebate Morte, fazendo uma péssima imitação da minha voz.     - Devíamos ir atrás de umas armas – diz Layla, dando de ombros. – Sabe, para o caso de precisarmos matar as coisas.     Os garotos arregalam os olhos.     - Puxa... É uma ideia razoável – fala Leo, coçando a cabeça.     - Razoável? – repete Layla, ofendida. – É a melhor ideia que vocês ouviram desde que entramos naquele ônibus fedido. É uma ótima ideia, uma excelente ideia. E vocês me devem cento e cinquenta reais por ela.     - Ei, mas não falamos pra valer – diz Leo.     Layla revira os olhos.     - Caloteiros – murmura ela.     - Certo. Onde conseguiríamos essas armas, Layla? – pergunta Rodrick. – Porque é óbvio que você é inteligente o suficiente para pensar nisso também, não é?     - Cara, não provoca a menina... – avisa Leo, contendo um sorriso.     Layla morde o lábio, pensativa.     - Bem... Eu não conheço esses lugares onde se compra armas...     Hector dá uma risadinha irônica e cantarola:     - Ah, mas eu conheço. Eu me lembrei de um lugar. Um lugar onde podemos conseguir armas de verdade, hum, sem ofensas.     - Onde? – pergunta Adam.     - No décimo quinto quartel general da cidade – sorri Rodrick. – Conhecido também como minha segunda casa.     Todos ficam em silêncio por alguns segundos. Até que Hector resmunga:     - Bem, como chegaríamos ao quartel? Deve haver hordas de zumbis espalhando-se pela cidade agora...     - Pegamos um de seus carros – diz Morte.     - É, você disse que tem um monte – acrescenta Leo.Hector faz careta.     - Mas vocês não podem sair pegando os carros dos outros, isso... isso é roubo.     - Não se você é beneficiado, palhaço – rosna Adam. – Eu acho uma boa ideia.     Rodrick coloca-se de pé.     - Não podemos ir todos nós porque é arriscado demais. Só eu sei o caminho, então é óbvio que eu tenho que ir. Quem vai comigo?     Morte e Adam levantam-se ao mesmo tempo.     - Eu vou – diz Adam.     - Que história é essa de "eu vou"? Eu é que tenho que ir com Rodrick e você não vai junto.     - E por que não?     - Simplesmente porque você é o desgraçado que matou minha namorada e eu quero você fora da minha vista – Morte sorri, presunçoso.     Adam cruza os braços e se aproxima dele.     - Quer saber, Cara De Cadáver? Eu mataria a sua namoradinha outra vez e de novo e de novo se fosse preciso. Sabe por quê? Porque ela era um deles, ela já estava morta queira você admitir ou não!     - Bem, bem... – ri Morte. – Acho que matar mulheres é sua especialidade mesmo, não é? Ah, e é de família! Não foi durante o seu nascimento que a sua mãe morreu? Acho que isso faz de você o assassino dela, coitada...     A cena acontece tão rapidamente que mal posso descrever. O punho de Adam acerta em cheio a mandíbula de Morte, fazendo-o cambalear para trás. Apesar do lábio sangrando, Morte esboça um sorriso macabro e avança sobre Adam, devolvendo-lhe o golpe. Tudo acontece em menos de dez segundos e Leo e Hector acabam separando a briga. Rodrick encara Morte e Adam com desprezo, imóvel.     - Eu vou – digo, antes de me dar conta das minhas palavras. Só queria que aquilo terminasse.     Todos me encaram.     - Certo – diz Rodrick. – Adam, você vem também.     Adam e Rodrick trocam um olhar significativo que eu tento interpretar mas não consigo. Fico imaginando se os dois têm algum acordo entre si ou algo do tipo.     - Morte, Adam, vocês deviam se limpar – diz Hector -, não quero que sujem nada de sangue.     - O que faremos até que vocês três voltem? – pergunta Leo.     Layla vai até a estante de madeira branca ao lado ta TV.     - Podemos ver alguns filmes. Ou jogar alguma coisa. Hec, onde está o Banco Imobiliário que sua tia te deu de presente ano passado?     - Junto com outras tralhas lá em cima – resmunga Hector.     Adam, Rodrick e eu nos preparamos para nossa incursão ao quartel enquanto Layla, Morte, Leo e Hector discutem que jogo é melhor para passar o tempo. Como cada um de nós "ganhou" um quarto de hóspedes, guardo meus livros no meu e deixo a bolsa livre para carregar o machado e algumas facas.     Meu coração está quase saindo pela boca quando entramos na SUV prateada de Hector – que não para de fazer recomendações para que cuidemos do carro. Rodrick e Adam vão nos bancos da frente e eu me encolho atrás, tremendo. Onde estava com a cabeça quando disse que iria com eles?      - Certo, o quartel não é muito longe daqui – diz Rodrick, ligando o carro -, mas talvez precisemos... hum... matar algumas daquelas coisas, então...     - Já entendemos – corta Adam.Rodrick olha com severidade para mim pelo espelho retrovisor e diz:     - Tentem não estragar tudo.     E partimos.     As ruas da área onde estamos estão desertas a não ser por alguns pássaros nas árvores e pelo vento. A sensação é muito estranha, pois parece que entramos no cenário de um filme. Está quase anoitecendo, o que não facilita as coisas nem um pouco.     - Ligue o rádio – pede Adam à certa altura.     - Ligar o...? Pra quê? – indaga Rodrick, contrariado.     - Isso tudo tá sinistro demais.     - Concordo – eu digo.     Rodrick liga o rádio no canal de noticiais local e o locutor reporta a situação na Zona Oeste da cidade. Os zumbis já chegaram por lá e a reação da população foi catastrófica: muitos acidentes de carro, mortes causadas por zumbis e por humanos, anarquia e saques em vária lojas. A polícia apareceu por lá, mas não ajudou muito.     - Estão se espalhando muito rápido – diz Rodrick.     - Sério, gênio? – ri Adam.     - O que eu quero dizer é que não podemos ficar na cidade por muito tempo. Uma hora ou outra teremos que sair daqui. Lembre-se do trato.     Engulo em seco. Parece que os dois se esqueceram que estou no banco de trás.     - Eu me lembro. É você que não sabe ser paciente.     - Paciência é pra gente fraca – rosna Rodrick. – Faça o que tiver que ser feito o mais rápido possível. Era o que meu pai sempre dizia.     - Dê um jeito de sobreviver. – Adam ri baixo. – Era o que meu pai sempre dizia.- É bom que eles não estejam aqui para nos ver agora.     - É – concorda Adam.     Rodrick faz uma curva e eu bato a cabeça no vidro, chamando a atenção dos dois.     - Você não fala muito, não é, bruxa? – pergunta Adam.     Franzo a testa.     - Não sei por qual motivo vocês insistem em me chamar assim.     - É como com Morte – explica Rodrick. – Você está sempre rodeada desses livros, como se dependesse deles pra alguma coisa. Como as bruxas, sabe?     - Bruxas usam vassouras e varinhas – rebato. – Já me viu com algo desse tipo?     - Elas também curtem caldeirões e livros de feitiços – diz Adam -, o que é o seu caso.     - De qualquer forma, vamos chamá-la de Bruxa, com B maiúsculo – Rodrick dá de ombros, rindo.     - Sim, porque é legal.     Fico quieta e os ignoro o restante da viagem. É em momentos assim que ser bruxa e transformar esses dois em minhocas não seria nada mau.     - E... chegamos – diz Rodrick, parando o carro. – Estão vendo algum zumbi?     Está quase escuro. Olho por entre os carros estacionados por perto e árvores nas calçadas, mas não vejo nenhuma daquelas coisas. E isso é de certo modo muito bom – quer dizer que não teremos que enfrentá-los agora.     Tiro uma faca de dentro da bolsa assim que descemos do carro. Rodrick está armado e Adam segura uma lança de duas lâminas. Meus braços e pernas tremem e eu tento não pensar no que estamos fazendo.     - Não vai dar problema invadirmos um estabelecimento da polícia? – pergunto, olhando para o portão de ferro diante de nós.     Os dois riem.     - É claro que vai, mas as coisas estão diferentes agora – diz Adam.     - Sim – concorda Rodrick. – Já viu um documentário sobre a vida na selva, Bruxa?     Engulo em seco.     - Já, claro.     - Então pode se preparar... porque vai ser igualzinho.     Antes que eu pudesse piscar, Rodrick atira num alvo que não vejo e o som de um corpo caindo me sobressalta. Adam abre o portão usando uma faca e dois clipes de papel – com muita facilidade. Então eu me lembro de que estou trabalhando com criminosos e que esses dois provavelmente já fizeram coisas piores que saquear um quartel general.     - Você matou o vigia! – exclama Adam para Rodrick, mas não soa crítico. Há certa animação em sua voz.     De fato o corpo de um homem de uniforme jaz no chão, estirado com a marca de uma bala no meio da testa.     - Não se preocupe, Bruxa – diz Rodrick -, ele não sentiu dor.     Finalmente, entramos no quartel. Fico surpresa ao constatar que não há mais policiais e que tudo parece meio jogado e aberto como se todo mundo tivesse saído às pressas.      - Puxa... – digo.      Entramos num grande galpão onde provavelmente ficavam os carros e camburões da polícia, mas que agora está vazio. Rodrick nos conduz a uma porta oculta atrás de uma prateleira de uniformes e puxa uma alavanca que abre uma outra porta que dá para um corredor cinzento. Já me sinto perdida.     - Vamos.     Seguimos pelo corredor fazendo curvas e descendo tantos degraus que perdi as contas. Subir aquilo tudo depois carregando armas não seria nada fácil.      Chegamos a uma porta de ferro e os garotos trocam um olhar rápido.     - O famoso Abastecimento Subterrâneo – diz Adam, com a voz cheia de respeito e entusiasmo enquanto usa a faca e os clipes para abrir a porta novamente.     - Famoso? – resmungo, irônica.     - Famoso pra quem entende das coisas, Bruxa – rebate Rodrick.     - Quer parar de me chamar assim?     Adam abre a porta e a visão que tenho é no mínimo emocionante. Se o Quarto Forte de Hector antes me pareceu um Oásis das armas é porque eu ainda não havia visto isso aqui. Parece surreal. Há armas penduradas nas quatro paredes, guardadas em armários e estojos e até no teto. Rodrick sorri e entra no lugar, seguido por Adam. Fico parada ali por alguns segundos, tentando colocar os pensamentos em coerência.     É só agora, aqui, que percebo o quanto as coisas ainda vão piorar e o que essas armas realmente significam nesse cenário que aos poucos se forma: muita morte.     - Quantas vamos levar? – pergunto, obrigando-me a entrar no lugar.     Adam gargalha:     - Quantas pudermos, é claro! – Ele joga uma das bolsas pretas nos meus braços. – Vai, comece a encher com algumas balas.     De relance, vejo Rodrick abrir uma das gavetas e colocar algo rapidamente nos bolsos de dentro do sobretudo que agora usa. Desvio o olhar quando ele se vira e me concentro em encher uma bolsa enorme com munição. O que quer que ele esteja escondendo tem a ver com o que disse mais cedo, sobre sair da cidade. Será que são passagens? Dinheiro? Garantias de segurança?     Vejo sobre uma prateleira de vidro um revólver preto perfeitamente comum e escondo-o na bolsa rapidamente sem que vejam. Não confio em ninguém agora e é melhor estar preparada para qualquer coisa. Afinal, se Rodrick e Adam podem ter os segredos deles eu também posso ter os meus.Uma eternidade se passa até que estejamos prontos e eu me pergunto que horas são. Meia noite talvez? Duas da manhã? Não dá para saber.     - Todo mundo pronto? – Rodrick pergunta, parecendo cansado.Adam e eu assentimos e nós três jogamos as bolsas nos ombros, prontos para voltar por onde viemos. Rodrick e Adam tomam uma rota diferente, me sobressaltando.     - Venha, Bruxa, vamos sair pelos fundos.     - Mas o carro está lá em cima, do outro lado – argumento.     - Sim, mas é mais fácil subir de elevador, não acha?     - Por que você não disse que havia um elevador? Teríamos chegado mais rápido!     Adam suspira.     - Não podemos simplesmente ir embora logo?     Os dois vão na frente por uma rota alternativa, uma porta dos fundos. E de repente eu sinto que algo está prestes a dar errado. Tipo, muito errado mesmo.     Seguimos por um outro corredor de paredes enferrujadas até toparmos com as portas do elevador. Rodrick dá um soco no botão e as portas se abrem, espalhando poeira e areia. Parece que ninguém usa o elevador há bastante tempo.     Entramos e as portas se fecham. Não sei o motivo, mas fico esperando alguma música de elevador tocar – o que não acontece. Rodrick e Adam permanecem quietos, fitando as portas fechadas do elevador. Eu, entre os dois, tento me esquecer de que tenho pavor de lugares abafados e começo a recitar mentalmente a tabuada do nove. Nove vezes um, nove. Nove vezes dois, dezoito. Nove vezes três...     Então nós três ouvimos ao mesmo tempo um estrondo e todo o elevador sacode, levantando mais poeira ainda. Começo a tossir. Adam abre as portas e a luz de um dos postes de iluminação da rua se torna meu ponto de referência. Saímos do elevador para um pátio cercado por uma grade de ferro, por onde – surpreendentemente – havia zumbis tentando passar.     A cena é nauseante. As criaturas se contorcem por entre os vãos da grade, tentando atravessar e nos alcançar, mas é óbvio que não podem passar – pelo menos não inteiras. Os sons que fazem são basicamente gemidos e ganidos, além do roçar das carnes em decomposição no chão e nas barras da grade. Inclino-me num canto e devolvo os dois sanduíches de frango que comi, tossindo até a garganta arder.     - Precisamos chegar ao carro – diz Adam.      - Vamos abrir caminho no meio deles. Temos armas – sugere Rodrick, sacudindo de leve a bolsa em suas costas.     Limpo a boca na manga do casaco e os encaro.     - Precisamos de uma distração que os atraia para o lado oposto de onde o carro está – digo.     - Mas que tipo de distração? – pergunta Adam. – Eles são atraídos pelo calor de corpos humanos.     - E se não estou louca, há um corpo humano levemente fresco ali – aponto o indicador na direção do corpo do vigia, que mais parece um boneco atirado ao longe.     Os dois rapazes entreolham-se.     - Certo. Mas essa vai ser a última vez que eu mexo com cadáveres – resmunga Adam.     Rodrick olha para ele.     - E onde foi que você já fez isso antes?     Adam desconversa e os dois correm para alcançar o corpo do vigia. Um dos zumbis de repente consegue saltar a certa e se arrasta em nossa direção com apenas uma das pernas.     - Olhem só para ele – diz Rodrick, sorrindo -, dá até pena.     E atira em cheio no crânio exposto do zumbi.     Os dois lançam o corpo do vigia por cima da grade e os zumbis agitam-se, animados com o novo lanchinho.     - Corram – eu digo.     Adam chuta a trava da grade e ela se abre. Rodrick atira nos zumbis mais próximos e nós corremos, contornando a esquina até que avistamos o carro. E mais zumbis. Nos escondemos atrás do carro mais próximo e Rodrick coloca uma pistola nas minhas mãos.     - Sabe atirar? – pergunta.     - É só puxar o gatilho?     Ele revira os olhos.     - É, você vai sobreviver – resmunga. – Agora, tire a gente daqui.     - Mas por que eu? – franzo a testa.     - Por que a ideia da distração foi sua! – exclama Adam, atirando.     O que fazer, o que fazer, o que fazer?, penso.     - Acho... acho que vamos ter que nos arriscar – gaguejo. – Quer dizer... vamos tentar chegar ao carro antes que nos alcancem.     Rodrick rosna.     - Tão óbvio.     Ele e Adam levantam-se ao mesmo tempo, atirando nos zumbis como naquelas cenas clássicas de filmes. Nós corremos. E corremos. E corremos. Eu tropeço, derrubo a arma no chão e ralo os cotovelos, mas Adam me levanta e me empurra para frente. Rodrick fica para trás. Tudo está acontecendo rápido demais.     - Não fica parada! Vai pro carro! – grita Adam, e atira em outro zumbi.     Dou cinco passos desesperados e estou diante do carro. Tento abrir a porta, mas está trancada.     - Onde está a chave? – grito para os dois, que estão de costas para mim, atirando.     - Que chave? – grita Adam.     - A chave do carro, caramba! – respondo.     - Ah, atira na merda da trava e entra! – exclama Rodrick.     Por um segundo me falta ar. Seguro com as duas mãos a arma que quase perdi e miro na trava da porta. Hector não vai gostar nada disso.     Atiro e quase perco um braço, mas a porta abre. Mergulho no banco da frente e vejo a chave na ignição. Ligo o carro e piso no acelerador – meu coração martela em meus ouvidos. Paro onde Rodrick e Adam estão e desço, abrindo a porta do banco de trás. Eles entram e todos conseguimos fugir dali, desesperados.     Eu mal consigo respirar e deixo a arma cair no chão do carro. Meu braço dói e meus cotovelos sangram; fora isso estou inteira.     - Isso foi... – sussurra Rodrick.     - Demais! – gargalha Adam, ao volante.     Os dois então começam a reviver os tiros que deram, tentando contar os alvos para saber quem matou mais zumbis. Recosto-me no banco de trás e fecho os olhos, tentando fazendo meus batimentos cardíacos voltarem ao normal.

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⏰ Última atualização: Nov 25, 2015 ⏰

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[PAUSADA] T-vírus: adolescentes num apocalipse zumbiOnde histórias criam vida. Descubra agora