- Briana – ouço Hector chamar -, suba com Layla para que vocês possam se limpar. Olho para Layla e ela assente, o rosto vermelho de tanto chorar. Nós subimos para o segundo andar em silêncio e seguimos pelo corredor. - Os pais de Hector dormem em quartos separados – ela diz, parando diante de uma das portas de madeira branca. – Aqui é o quarto da mãe dele, quarta porta à direita. Eu a sigo e nós adentramos o cômodo luxuoso. Parece mais um quarto de hotel, pois não há quadros, livros, objetos pessoais ou qualquer coisa que identifique a dona do cômodo. Não há identidade aqui dentro. Layla abre todas as portas do imenso guarda-roupa embutido e começa a revirar as gavetas. - Preciso de um banho, será que essas roupas me servem? – indaga ela, mas a pergunta me parece retórica. Vou até a penteadeira e abro as gavetas, curiosa. Sei que mexer nas coisas dos outros sem autorização não é lá uma coisa muito educada, mas mexo assim mesmo. Há escovas de cabelo, toalhas de rosto, frascos de creme para a pele e estojos de maquiagem. De novo, nada que pareça pertencer realmente à mãe de Hector. - Ei, pega – diz Layla, jogando para mim uma muda de roupas. – É melhor que você arranje um chuveiro também. E jogue fora essas suas roupas. Baixo os olhos, fazendo careta ao ver as manchas de sangue seco na minha blusa e calça. Layla desaparece porta afora antes que eu possa agradecer. Uma hora se passa até nos reunirmos de novo, na sala. Todos limpos e alimentados. - Tudo bem, quanto tempo podemos ficar, Hector? – pergunta Adam, assim que terminamos de comer. Hector dá de ombros: - Se limparem e cozinharem para mim, ficam o tempo que quiserem. - Muito engraçado – Rodrick revira os olhos. - Idiota – completa Morte. Estamos sentados em roda no tapete de pele de urso da sala de estar. À minha esquerda está Rodrick e à minha direita, Leo. - Vamos ficar aqui até quando? – pergunta Layla. E então acrescenta rapidamente: - Não que eu não goste da sua casa, Hec, tudo aqui é incrível. Mas... ainda não tive notícias dos meus pais. - E o que é que você acha que aconteceu com eles? – Morte pergunta, sarcástico. - Sei que eles estão bem – Layla responde. – Têm que estar... Morte ri. - É mais provável que estejam enterrando os dentes em alguém agora... - Ei! – grita Hector. - Não se fala umas coisas dessas pra uma menina, cara – Leo diz a Morte. – Tem que usar umas metáforas pra não traumatizar, sabe? Tipo... Seus pais estão em um lugar melhor agora, Layla, só o corpo deles é que tá rodando por aí atrás das outras pessoas... Layla fica enfurecida. - Qual é o problema de vocês?! - Certo, chega disso – Rodrick sacode a cabeça. – Vamos falar sobre o que realmente importa: o que vamos fazer agora. - Como assim "o que vamos fazer"? É claro que vamos ficar aqui nessa fortaleza até que venham salvar a gente – Leo dá de ombros, como se sua sugestão fosse a mais óbvia e funcional. - E quem você acha que vai nos salvar, donzela? - indaga Adam. - Essa história de esperar por ajuda não vai dar certo – diz Rodrick. – Não vamos durar aqui dentro pra sempre. - Ah, e qual é a sua sugestão? – Leo ergue o queixo, desafiador. Rodrick pestaneja. - Eu... vou pensar em alguma coisa. - Por que você? – pergunta Layla. – Eu posso ter uma ideia tão boa ou até melhor que as de vocês todos. - Isso eu pago pra ver – diz Morte. - Aposto cinquenta que ela não vai pensar em nada – ri Adam. - Cem – diz Leo. - Ei, mas vocês nem têm esse dinheiro – protesta Hector. - Colega, isso é um apocalipse zumbi – Morte sorri, sinistro. - Podemos apostar o que quisermos. - Isso está mesmo acontecendo? – resmungo, revirando os olhos. – Quantos anos vocês têm? Cinco? - Quantos anos você tem, cinquenta? – rebate Morte, fazendo uma péssima imitação da minha voz. - Devíamos ir atrás de umas armas – diz Layla, dando de ombros. – Sabe, para o caso de precisarmos matar as coisas. Os garotos arregalam os olhos. - Puxa... É uma ideia razoável – fala Leo, coçando a cabeça. - Razoável? – repete Layla, ofendida. – É a melhor ideia que vocês ouviram desde que entramos naquele ônibus fedido. É uma ótima ideia, uma excelente ideia. E vocês me devem cento e cinquenta reais por ela. - Ei, mas não falamos pra valer – diz Leo. Layla revira os olhos. - Caloteiros – murmura ela. - Certo. Onde conseguiríamos essas armas, Layla? – pergunta Rodrick. – Porque é óbvio que você é inteligente o suficiente para pensar nisso também, não é? - Cara, não provoca a menina... – avisa Leo, contendo um sorriso. Layla morde o lábio, pensativa. - Bem... Eu não conheço esses lugares onde se compra armas... Hector dá uma risadinha irônica e cantarola: - Ah, mas eu conheço. Eu me lembrei de um lugar. Um lugar onde podemos conseguir armas de verdade, hum, sem ofensas. - Onde? – pergunta Adam. - No décimo quinto quartel general da cidade – sorri Rodrick. – Conhecido também como minha segunda casa. Todos ficam em silêncio por alguns segundos. Até que Hector resmunga: - Bem, como chegaríamos ao quartel? Deve haver hordas de zumbis espalhando-se pela cidade agora... - Pegamos um de seus carros – diz Morte. - É, você disse que tem um monte – acrescenta Leo.Hector faz careta. - Mas vocês não podem sair pegando os carros dos outros, isso... isso é roubo. - Não se você é beneficiado, palhaço – rosna Adam. – Eu acho uma boa ideia. Rodrick coloca-se de pé. - Não podemos ir todos nós porque é arriscado demais. Só eu sei o caminho, então é óbvio que eu tenho que ir. Quem vai comigo? Morte e Adam levantam-se ao mesmo tempo. - Eu vou – diz Adam. - Que história é essa de "eu vou"? Eu é que tenho que ir com Rodrick e você não vai junto. - E por que não? - Simplesmente porque você é o desgraçado que matou minha namorada e eu quero você fora da minha vista – Morte sorri, presunçoso. Adam cruza os braços e se aproxima dele. - Quer saber, Cara De Cadáver? Eu mataria a sua namoradinha outra vez e de novo e de novo se fosse preciso. Sabe por quê? Porque ela era um deles, ela já estava morta queira você admitir ou não! - Bem, bem... – ri Morte. – Acho que matar mulheres é sua especialidade mesmo, não é? Ah, e é de família! Não foi durante o seu nascimento que a sua mãe morreu? Acho que isso faz de você o assassino dela, coitada... A cena acontece tão rapidamente que mal posso descrever. O punho de Adam acerta em cheio a mandíbula de Morte, fazendo-o cambalear para trás. Apesar do lábio sangrando, Morte esboça um sorriso macabro e avança sobre Adam, devolvendo-lhe o golpe. Tudo acontece em menos de dez segundos e Leo e Hector acabam separando a briga. Rodrick encara Morte e Adam com desprezo, imóvel. - Eu vou – digo, antes de me dar conta das minhas palavras. Só queria que aquilo terminasse. Todos me encaram. - Certo – diz Rodrick. – Adam, você vem também. Adam e Rodrick trocam um olhar significativo que eu tento interpretar mas não consigo. Fico imaginando se os dois têm algum acordo entre si ou algo do tipo. - Morte, Adam, vocês deviam se limpar – diz Hector -, não quero que sujem nada de sangue. - O que faremos até que vocês três voltem? – pergunta Leo. Layla vai até a estante de madeira branca ao lado ta TV. - Podemos ver alguns filmes. Ou jogar alguma coisa. Hec, onde está o Banco Imobiliário que sua tia te deu de presente ano passado? - Junto com outras tralhas lá em cima – resmunga Hector. Adam, Rodrick e eu nos preparamos para nossa incursão ao quartel enquanto Layla, Morte, Leo e Hector discutem que jogo é melhor para passar o tempo. Como cada um de nós "ganhou" um quarto de hóspedes, guardo meus livros no meu e deixo a bolsa livre para carregar o machado e algumas facas. Meu coração está quase saindo pela boca quando entramos na SUV prateada de Hector – que não para de fazer recomendações para que cuidemos do carro. Rodrick e Adam vão nos bancos da frente e eu me encolho atrás, tremendo. Onde estava com a cabeça quando disse que iria com eles? - Certo, o quartel não é muito longe daqui – diz Rodrick, ligando o carro -, mas talvez precisemos... hum... matar algumas daquelas coisas, então... - Já entendemos – corta Adam.Rodrick olha com severidade para mim pelo espelho retrovisor e diz: - Tentem não estragar tudo. E partimos. As ruas da área onde estamos estão desertas a não ser por alguns pássaros nas árvores e pelo vento. A sensação é muito estranha, pois parece que entramos no cenário de um filme. Está quase anoitecendo, o que não facilita as coisas nem um pouco. - Ligue o rádio – pede Adam à certa altura. - Ligar o...? Pra quê? – indaga Rodrick, contrariado. - Isso tudo tá sinistro demais. - Concordo – eu digo. Rodrick liga o rádio no canal de noticiais local e o locutor reporta a situação na Zona Oeste da cidade. Os zumbis já chegaram por lá e a reação da população foi catastrófica: muitos acidentes de carro, mortes causadas por zumbis e por humanos, anarquia e saques em vária lojas. A polícia apareceu por lá, mas não ajudou muito. - Estão se espalhando muito rápido – diz Rodrick. - Sério, gênio? – ri Adam. - O que eu quero dizer é que não podemos ficar na cidade por muito tempo. Uma hora ou outra teremos que sair daqui. Lembre-se do trato. Engulo em seco. Parece que os dois se esqueceram que estou no banco de trás. - Eu me lembro. É você que não sabe ser paciente. - Paciência é pra gente fraca – rosna Rodrick. – Faça o que tiver que ser feito o mais rápido possível. Era o que meu pai sempre dizia. - Dê um jeito de sobreviver. – Adam ri baixo. – Era o que meu pai sempre dizia.- É bom que eles não estejam aqui para nos ver agora. - É – concorda Adam. Rodrick faz uma curva e eu bato a cabeça no vidro, chamando a atenção dos dois. - Você não fala muito, não é, bruxa? – pergunta Adam. Franzo a testa. - Não sei por qual motivo vocês insistem em me chamar assim. - É como com Morte – explica Rodrick. – Você está sempre rodeada desses livros, como se dependesse deles pra alguma coisa. Como as bruxas, sabe? - Bruxas usam vassouras e varinhas – rebato. – Já me viu com algo desse tipo? - Elas também curtem caldeirões e livros de feitiços – diz Adam -, o que é o seu caso. - De qualquer forma, vamos chamá-la de Bruxa, com B maiúsculo – Rodrick dá de ombros, rindo. - Sim, porque é legal. Fico quieta e os ignoro o restante da viagem. É em momentos assim que ser bruxa e transformar esses dois em minhocas não seria nada mau. - E... chegamos – diz Rodrick, parando o carro. – Estão vendo algum zumbi? Está quase escuro. Olho por entre os carros estacionados por perto e árvores nas calçadas, mas não vejo nenhuma daquelas coisas. E isso é de certo modo muito bom – quer dizer que não teremos que enfrentá-los agora. Tiro uma faca de dentro da bolsa assim que descemos do carro. Rodrick está armado e Adam segura uma lança de duas lâminas. Meus braços e pernas tremem e eu tento não pensar no que estamos fazendo. - Não vai dar problema invadirmos um estabelecimento da polícia? – pergunto, olhando para o portão de ferro diante de nós. Os dois riem. - É claro que vai, mas as coisas estão diferentes agora – diz Adam. - Sim – concorda Rodrick. – Já viu um documentário sobre a vida na selva, Bruxa? Engulo em seco. - Já, claro. - Então pode se preparar... porque vai ser igualzinho. Antes que eu pudesse piscar, Rodrick atira num alvo que não vejo e o som de um corpo caindo me sobressalta. Adam abre o portão usando uma faca e dois clipes de papel – com muita facilidade. Então eu me lembro de que estou trabalhando com criminosos e que esses dois provavelmente já fizeram coisas piores que saquear um quartel general. - Você matou o vigia! – exclama Adam para Rodrick, mas não soa crítico. Há certa animação em sua voz. De fato o corpo de um homem de uniforme jaz no chão, estirado com a marca de uma bala no meio da testa. - Não se preocupe, Bruxa – diz Rodrick -, ele não sentiu dor. Finalmente, entramos no quartel. Fico surpresa ao constatar que não há mais policiais e que tudo parece meio jogado e aberto como se todo mundo tivesse saído às pressas. - Puxa... – digo. Entramos num grande galpão onde provavelmente ficavam os carros e camburões da polícia, mas que agora está vazio. Rodrick nos conduz a uma porta oculta atrás de uma prateleira de uniformes e puxa uma alavanca que abre uma outra porta que dá para um corredor cinzento. Já me sinto perdida. - Vamos. Seguimos pelo corredor fazendo curvas e descendo tantos degraus que perdi as contas. Subir aquilo tudo depois carregando armas não seria nada fácil. Chegamos a uma porta de ferro e os garotos trocam um olhar rápido. - O famoso Abastecimento Subterrâneo – diz Adam, com a voz cheia de respeito e entusiasmo enquanto usa a faca e os clipes para abrir a porta novamente. - Famoso? – resmungo, irônica. - Famoso pra quem entende das coisas, Bruxa – rebate Rodrick. - Quer parar de me chamar assim? Adam abre a porta e a visão que tenho é no mínimo emocionante. Se o Quarto Forte de Hector antes me pareceu um Oásis das armas é porque eu ainda não havia visto isso aqui. Parece surreal. Há armas penduradas nas quatro paredes, guardadas em armários e estojos e até no teto. Rodrick sorri e entra no lugar, seguido por Adam. Fico parada ali por alguns segundos, tentando colocar os pensamentos em coerência. É só agora, aqui, que percebo o quanto as coisas ainda vão piorar e o que essas armas realmente significam nesse cenário que aos poucos se forma: muita morte. - Quantas vamos levar? – pergunto, obrigando-me a entrar no lugar. Adam gargalha: - Quantas pudermos, é claro! – Ele joga uma das bolsas pretas nos meus braços. – Vai, comece a encher com algumas balas. De relance, vejo Rodrick abrir uma das gavetas e colocar algo rapidamente nos bolsos de dentro do sobretudo que agora usa. Desvio o olhar quando ele se vira e me concentro em encher uma bolsa enorme com munição. O que quer que ele esteja escondendo tem a ver com o que disse mais cedo, sobre sair da cidade. Será que são passagens? Dinheiro? Garantias de segurança? Vejo sobre uma prateleira de vidro um revólver preto perfeitamente comum e escondo-o na bolsa rapidamente sem que vejam. Não confio em ninguém agora e é melhor estar preparada para qualquer coisa. Afinal, se Rodrick e Adam podem ter os segredos deles eu também posso ter os meus.Uma eternidade se passa até que estejamos prontos e eu me pergunto que horas são. Meia noite talvez? Duas da manhã? Não dá para saber. - Todo mundo pronto? – Rodrick pergunta, parecendo cansado.Adam e eu assentimos e nós três jogamos as bolsas nos ombros, prontos para voltar por onde viemos. Rodrick e Adam tomam uma rota diferente, me sobressaltando. - Venha, Bruxa, vamos sair pelos fundos. - Mas o carro está lá em cima, do outro lado – argumento. - Sim, mas é mais fácil subir de elevador, não acha? - Por que você não disse que havia um elevador? Teríamos chegado mais rápido! Adam suspira. - Não podemos simplesmente ir embora logo? Os dois vão na frente por uma rota alternativa, uma porta dos fundos. E de repente eu sinto que algo está prestes a dar errado. Tipo, muito errado mesmo. Seguimos por um outro corredor de paredes enferrujadas até toparmos com as portas do elevador. Rodrick dá um soco no botão e as portas se abrem, espalhando poeira e areia. Parece que ninguém usa o elevador há bastante tempo. Entramos e as portas se fecham. Não sei o motivo, mas fico esperando alguma música de elevador tocar – o que não acontece. Rodrick e Adam permanecem quietos, fitando as portas fechadas do elevador. Eu, entre os dois, tento me esquecer de que tenho pavor de lugares abafados e começo a recitar mentalmente a tabuada do nove. Nove vezes um, nove. Nove vezes dois, dezoito. Nove vezes três... Então nós três ouvimos ao mesmo tempo um estrondo e todo o elevador sacode, levantando mais poeira ainda. Começo a tossir. Adam abre as portas e a luz de um dos postes de iluminação da rua se torna meu ponto de referência. Saímos do elevador para um pátio cercado por uma grade de ferro, por onde – surpreendentemente – havia zumbis tentando passar. A cena é nauseante. As criaturas se contorcem por entre os vãos da grade, tentando atravessar e nos alcançar, mas é óbvio que não podem passar – pelo menos não inteiras. Os sons que fazem são basicamente gemidos e ganidos, além do roçar das carnes em decomposição no chão e nas barras da grade. Inclino-me num canto e devolvo os dois sanduíches de frango que comi, tossindo até a garganta arder. - Precisamos chegar ao carro – diz Adam. - Vamos abrir caminho no meio deles. Temos armas – sugere Rodrick, sacudindo de leve a bolsa em suas costas. Limpo a boca na manga do casaco e os encaro. - Precisamos de uma distração que os atraia para o lado oposto de onde o carro está – digo. - Mas que tipo de distração? – pergunta Adam. – Eles são atraídos pelo calor de corpos humanos. - E se não estou louca, há um corpo humano levemente fresco ali – aponto o indicador na direção do corpo do vigia, que mais parece um boneco atirado ao longe. Os dois rapazes entreolham-se. - Certo. Mas essa vai ser a última vez que eu mexo com cadáveres – resmunga Adam. Rodrick olha para ele. - E onde foi que você já fez isso antes? Adam desconversa e os dois correm para alcançar o corpo do vigia. Um dos zumbis de repente consegue saltar a certa e se arrasta em nossa direção com apenas uma das pernas. - Olhem só para ele – diz Rodrick, sorrindo -, dá até pena. E atira em cheio no crânio exposto do zumbi. Os dois lançam o corpo do vigia por cima da grade e os zumbis agitam-se, animados com o novo lanchinho. - Corram – eu digo. Adam chuta a trava da grade e ela se abre. Rodrick atira nos zumbis mais próximos e nós corremos, contornando a esquina até que avistamos o carro. E mais zumbis. Nos escondemos atrás do carro mais próximo e Rodrick coloca uma pistola nas minhas mãos. - Sabe atirar? – pergunta. - É só puxar o gatilho? Ele revira os olhos. - É, você vai sobreviver – resmunga. – Agora, tire a gente daqui. - Mas por que eu? – franzo a testa. - Por que a ideia da distração foi sua! – exclama Adam, atirando. O que fazer, o que fazer, o que fazer?, penso. - Acho... acho que vamos ter que nos arriscar – gaguejo. – Quer dizer... vamos tentar chegar ao carro antes que nos alcancem. Rodrick rosna. - Tão óbvio. Ele e Adam levantam-se ao mesmo tempo, atirando nos zumbis como naquelas cenas clássicas de filmes. Nós corremos. E corremos. E corremos. Eu tropeço, derrubo a arma no chão e ralo os cotovelos, mas Adam me levanta e me empurra para frente. Rodrick fica para trás. Tudo está acontecendo rápido demais. - Não fica parada! Vai pro carro! – grita Adam, e atira em outro zumbi. Dou cinco passos desesperados e estou diante do carro. Tento abrir a porta, mas está trancada. - Onde está a chave? – grito para os dois, que estão de costas para mim, atirando. - Que chave? – grita Adam. - A chave do carro, caramba! – respondo. - Ah, atira na merda da trava e entra! – exclama Rodrick. Por um segundo me falta ar. Seguro com as duas mãos a arma que quase perdi e miro na trava da porta. Hector não vai gostar nada disso. Atiro e quase perco um braço, mas a porta abre. Mergulho no banco da frente e vejo a chave na ignição. Ligo o carro e piso no acelerador – meu coração martela em meus ouvidos. Paro onde Rodrick e Adam estão e desço, abrindo a porta do banco de trás. Eles entram e todos conseguimos fugir dali, desesperados. Eu mal consigo respirar e deixo a arma cair no chão do carro. Meu braço dói e meus cotovelos sangram; fora isso estou inteira. - Isso foi... – sussurra Rodrick. - Demais! – gargalha Adam, ao volante. Os dois então começam a reviver os tiros que deram, tentando contar os alvos para saber quem matou mais zumbis. Recosto-me no banco de trás e fecho os olhos, tentando fazendo meus batimentos cardíacos voltarem ao normal.
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[PAUSADA] T-vírus: adolescentes num apocalipse zumbi
Ciencia FicciónOs delinquentes juvenis do Colégio Justiça deparam-se com um repentino apocalipse zumbi e precisarão trabalhar em conjunto para sobreviver, mesmo que odeiem uns aos outros. {Baseado em fatos quase reais!}