Dia 3: A mente, uma mentira.

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As luzes, o frio, as vozes, a movimentação. Tudo isso ao meu redor me deixando cada vez mais nauseada. Meu corpo está parado mas minha mente, muito inquieta. Posso ouvir passos, vozes, o toque. Minha vontade de gritar, chorar e as vezes de simplesmente sussurrar, mas não consigo.

Chegando ao Hotel que Margô indicou, de inicio não notei nada de elegante como anunciava. Mas logo ao entrar, pude notar o porque deste em especial. Havia luxo e também um olhar rustico, espaço e comodidade. O Prince Conti guarda o estilo dos anos 1830, o lugar é de estimular a criatividade. Ao entrar no hall, uma senhora simpática estava atrás do balcão, me observando chegar.

- Bom dia! - Digo, colocando minha mala ao lado do balcão. A senhora, antes de mais nada, soou o pequeno sino que ao lado dela ficava. O som típico dos hotéis me fez rir por um segundo. - Tenho uma reserva no nome de Margô Fontura, do jornal Real Life. - A senhora deu um passo para trás, com seu rosto assustado.

- Minha nossa! Como você está ?

- Bem, obrigada.

Tão Jovem...

Posso ouvir como um sussurro.

- Você vai ficar com o 13. Um dos melhores. - Disse, a mulher de cabelos ruivos e nem um pouco sedosos. Sua maquiagem era pouco desnecessária pra uma manhã tão ensolarada. Ela me fitou de cima a baixo e meu corpo a acompanhou com uma onda de calafrios. Ao fim, ela sorriu.

- Tudo bem, eu vou...

- Receberá acompanhantes durante sua hospedagem ? - Perguntou a ruiva.

- Acompanhantes ? - Minha intenção era soar ofendida, mas minha voz saiu como vergonha. Nem a senhora e nem a mulher ruiva me responderam. Apenas sorriram e trocaram olhares. Com dois passos para trás eu me virei e fui direto ao elevador. Que, é claro, estava quebrado.

MANTENHA DISTÂNCIA. Dizia o enorme papel rasgado e colado na parede ao lado.

- Ótimo.- Sussurrei.

- Você se acostuma, querida. - Gritou a ruiva, com sua voz doce. Não. Sua voz não era doce. Mas seduzente. Me deixava deslocada.

Subindo mais degraus do que posso contar, finalmente cheguei ao meu quarto. O carpete vermelho com desenhos dourados, pouco sujos se observar de perto. As portas brancas e com seus números bem polidos como se fossem ouro. A iluminação deixando o ambiente aconchegante. Antes de abrir minha porta, escuro bater a porta ao lado. Não uma, mas duas vezes. Como se alguém de dentro quisesse sair. Com dois passos eu chego até a porta e tento abrir. Trancada. Óbvio. Olhando pela maçaneta, pude ver uma sombra passar de um lado para o outro. Com a ponta do dedo, tento bater na porta. Três minutos sem resposta e eu volto para meu quarto, agora já colorando a mala ao lado da cama.

É terrivelmente frio. A decoração divertida. Tudo bem limpo e rico. Da janela posso ver todo o movimento lá fora. Margô fez uma boa escolha, eu acho. Abro as cortinas para entrar a iluminação da manhã e dar vida ao quarto. A luz do sol aquece o lugar e uma brisa reconfortante, o barulho dos pássaros e das folhagens me fez fechar os olhos e esquecer o real motivo de estar aqui. Mas eu esqueci também da primeira regra ao entrar em um quarto de hotel! Poxa vida como pude esquecer disso.

Regra número um: Pular na cama.

Jogo minha bolsa no balcão ao lado e corro até a cama, viro de costas e me deixo levar. De olhos fechados e o frio na barriga me faz rir. É um colchão de água. Que maravilhoso.

Seja forte...

Continuo ouvindo.

Meu pescoço dói. Devo ter me machucado em algum lugar. Procuro um espelho. O que é muito engraçado de se pensar aqui, está cheio de espelhos. Retiro minha jaqueta e procuro por algo em meu pescoço, por que dói tanto ?

No espelho a minha frente, posso ver logo atrás, na cama, uma garotinha sentada. Me viro rapidamente, mas não havia ninguém ali. Volto para o espelho e tenho a certeza de que não há nada na cama. A dor aumenta, o que me faz desviar a atenção pra onde minha mão está localizada. Acima do ombro esquerdo, era como torcicolo mas muito mais doloroso. Retirando minha mão, pude ver um hematoma, bem acima do longuíssimo do pescoço. Como raios aquilo foi parar ali ?

Observando mais de perto, pude ver que não se tratava de um hematoma comum. Havia inchaço e inflamação, estava roxo e começava a se cobrir de um verde amarelado. Um medo esfriou meu corpo, que começou a ficar tremulo e agitado.

Alguém bate na porta. Desviando minha atenção. Procuro por algum lenço em minha mala, retirando toda a roupa de dentro dela com muita pressa. Iluminado seja o dia que comprei esse echarpe. Jogando-o rapidamente envolta do pescoço, corri até a porta; estava aberta.

Novamente, não havia ninguém. Ao que parece, nunca há ninguém.

- Olá? - Tento chamar pelo corredor. Mas como o esperado, ninguém. Decido sair e começar o trabalho. Já são mais de nove da manhã, melhor começar a conhecer os lugares antes que Margô me cobre.

Com a lista de lugares em mãos, procuro um lugar para tomar café. Poderia ter feito isso no Hotel, mas precisava de ar puro, movimentação. Ver pessoas, pessoas reais. No primeiro lugar que avistei, foi onde parei. Duas quadras acima do Hotel. É tudo muito cheio de história, o local te dá a chave pra querer saber mais sobre tudo isso. É como um convite vivo. Olhar para a decoração, os quadros nas paredes e até as comidas servidas. No café, havia várias turistas tirando fotos, sorrindo, conversando. Movimentação. Me sentia mais aliviada de estar fora, vendo tudo isso. Ao meu lado, sentou-se um casou de idosos. Ambos negros e suas vestes brancas, não conseguia entender metade do que diziam. Eram como sussurros. A voz do senhor era muito rouca e forte. Minha cabeça girava e tudo parecia acompanhar, não me sentia muito bem.

- EI, o que está fazendo ? - Gritou alguém lá de dentro. Me fazendo assustar. Uma dor invadir meu corpo. Todos ao redor pararam suas conversas e voltaram seus olhos... Para mim. Fico ansiosa e minhas mãos começam a soar... Minhas mãos! Estão sangrando! Há pedaços de madeira embaixo das unhas, a mesa está toda... O que eu fiz ?





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⏰ Última atualização: Nov 27, 2015 ⏰

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