Capítulo Quatro

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Meu corpo estava no mesmo local. Não havia me mexido um centímetro, em minha pele não havia marcas de machucados e eu estava confusa. Eu pensei estar caindo, mas não cai. É possível?

Eu senti meu corpo se inclinar para trás, eu senti meu pé doer, como não cai?

Olhei para o chão e o prego estava no mesmo local de antes, franzi o cenho e o encarei por alguns minutos. Eu tenho certeza que alguns segundos atrás eu tinha pisado naquele prego, que meu pé havia ardido e que eu estava prestes a cair.

Continuei subindo as escadas, me certificando de não haver nem um outro prego no caminho. Ao chegar em meu quarto, coloquei as caixas sobre a cômoda, sentei na beirada da cama e dei uma olhada em meu pé. Onde supostamente, eu teria me machucado. Mas não havía nada. Nem uma marca, um furo, um risco. Nada. Era como se nada houvesse acontecido.

E então a sensação de não estar sozinha voltou. É sempre a mesma coisa. Toda vez que essa sensação aparece meu coração treme. Às vezes penso ser de medo. Em outras já não acredito nisso. Olhei em todas as direções e não vi nada, minha respiração ficou ofegante e tentei afastar meus pensamentos. Eles sempre me perturbam.

Kessy... — ouvi alguém sussurrar. Não! Não estou louca. Alguém sussurrou meu nome.

Mas o quarto estava vazio. Aos meus olhos ele estava vazio, porque eu já estava crente, de que havia algo mais nesta casa. Algo que me fazia sentir medo, mas ao mesmo tempo protegida.

Sons de passos no assoalho vindo em minha direção, ecoaram pelo quarto. Fiquei imóvel. Gélida. Apavorada. O que é isso? Um sinal de alerta? De perigo? Ouvir sons no assoalho é novidade.

— Por favor, não me machuque! — implorei fechando meu olhos e levando minhas mãos até meu peito. Meu coração estava em ritmo que parecia escola de samba. Eu poderia ter um ataque cardíaco.

E então o quarto silenciou-se. Observei o local com os olhos arregalados, nenhum ruído, nenhuma voz. Estava novamente sozinha, suspirei e agradeci à Deus pelo barulho ter cessado. Me levantei fui até as caixas e comecei a organizá-las em meu guarda-roupas.

— Oi filha. — minha mãe falou ao abrir a porta. Sempre com seu doce sorriso. Sempre com seu bom humor. — Já toruxeram seu guarda-roupas, que bom! Quer ajuda?

— Não. Está tudo bem. — sorri sem mostrar os dentes. Aí aquela vontade de perguntar. De quere saber se sou a única a ver e ouvir coisas nessa casa, apodera meu peito. — Mãe?

— Sim? — ela aproximou-se um pouco mais.

— A senhora... Não notou nada de estranho na casa, notou? — perguntei receosa. Ela sorriu e beijou minha testa. Esse gesto me confortou. Amenizou meu medo.

— Não se preocupe. É só uma casa velha, não há perigo... — ela se afastou.

— Por quê nunca viemos ver essa casa? Sabe, ela é nossa. Teria sido legal, vir passar uns dias nela em nossas férias. — perguntei o que já estava me incomodando.

— Ah, querida. Entendo que seria legal. E realmente teria sido... Mas seu pai, o emprego. Você sabe! — falou com o semblante triste.

— Sim. Eu sei. Nunca tem tempo pra nada. — voltei a guardar minhas roupas.

— Haverá uma festa na cidade hoje, você e Darah foram convidadas. — ela fala feliz. Mas já? Nem bem chegamos e Darah já foi convidada para uma festa?

— Darah já fez amigos? — perguntei irônicamente. Minha mãe sorriu.

— Seria bom que fosse... Para você fazer amizades... — e cuidar de Darah, devo acresentar? Não, melhor não!

||Ruptura|| DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora