Capítulo Onze

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— Vocês tem uma valiosa propriedade... — Heitor diz colocando sobre a mesa o cardápio.

Olhares curioso e atentos estão sobre nós. O restaurante não entra na lista dos dez mais finos e elegantes em que já estive, mas por ser uma cidadezinha pequena onde todos se conhecem, me senti um pouco desconfortável quando me deparei com todos esses olhares.

Ele está relativamente cheio e movimentado. Os garçons e garçonetes fazem o seu melhor para que nenhum pedido se atrase, para que nenhum cliente reclame, poderiam também avisar à essa gente que olhar de forma curiosa, interessada e fuxiqueira para a mesa dos outros é feio?

— Sim. Mas há muito tempo está parada... — respondo escondendo meu rosto atrás do cardápio. Evitando olhar para os lados, evitando olhar para Heitor.

— Mas ainda assim... está muito bem conservada. Alguém tomou conta da propriedade para vocês? — ele tocou em minha mão. Sorri constrangida colocando sobre a mesa o cardápio.

— Um senhor chamado Benjamin. — respondi corando. Ele retirou a mão de cima da minha. — Na verdade, não sei qual foi o interesse do meu pai em voltar para cá.

— Eu agradeço a qualquer que tenha sido o interesse. — ele sorri amavelmente. Meus músculos relaxam, minha respiração ajusta-se ao ritmo do meu coração. Sorrio para ele.

— Esse restaurante é sempre tão ... movimentado? — questiono olhando ao redor.

— Desculpe, mas meus pais são conhecidos na cidade e ... bem, eu nunca havia saído com alguém antes...

Fiquei encarando-lhe por alguns minutos. Okay, estamos cercados por pessoas que querem uma fofoca quentinha para contar amanhã ao vizinho, na barbearia ou naquele salão mais movimentado da cidade. Mas não é possível que eu seja a primeira moça que ele chame para sair.

Não por ele ser apenas bonito, mas Heitor é simpático e carismático demais. E não sei... É Um pouco estranho que ele nunca tenha saído com alguma garota

— Está tudo bem ... — tranquilizo-o. Mas ainda assim ele se mantém rígido, dou um sorriso compreensível e meigo, o mesmo retribui. —, não posso ser a primeira moça que você chame para sair.

— E por quê não? — ele me fita intrigado. Oras... Porque será né? Ele é bonito, educado, simpático, família bem sucedida e essa cidade está cheia de moças bonitas.

Bonitas e com certeza interesseiras. Mas pelo o pouco que descobri de Heitor, acho que ele sabe diferenciar esse tipo de coisa.

— Heitor, olhe ao nosso redor ... — peço discretamente. Nós dois olhamos em volta, onde muitas famílias jantavam sossegados, algumas crianças brincando com a comida, alguns jovens olhando-nos com curiosidade e algumas moças com raiva. Heitor ri levando a minha atenção até ele. — Elas não parecem felizes ao nos ver juntos.

— Não posso fazer nada, se não houve um interesse da minha parte por elas. — ele diz sério. Ah, mas isso não é possível, o que eu tenho de especial que elas não tem? — Kessy, você tem algo que elas não tem...

— O nome diferente. — respondo rindo. Ele faz o mesmo.

— Não! Tem algo ... — ele me fita em busca de palavras.

— Por exemplo? — o incentivei. Divertida com a situação.

Ele está terrivelmente constrangido, batucando na mesa com seus dedos, buscando pelas palavras. Sorri. Apesar de tudo Heitor é um rapaz legal, tímido para algumas atitudes, mas é isso o que me intriga nele.

Hoje em dia, um rapaz quando convida uma moça para sair não à leva em restaurantes, não puxa assunto sobre quais são seus interesses, não elogia. Nem sequer uma rosa a coitada da moça ganha. Ficam alguns minutos, em silêncio analisando como abrir uma garrafa de tequila ou vodka e então já estão aos amassos. Cadê o amor? O passeio de mãos dadas? Os versos bobos contados a luz do luar? As serenatas românticas?

||Ruptura|| DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora