Guardei o resto que faltava na mochila, colocando-a às costas. Calmamente deslizei as outras duas malas pelo corredor, ignorando completamente a existência da minha 'querida' tia.
Não sei o que ela estava à espera!
Passou dez anos a torturar-me sem motivo. Sempre fui uma criancinha muito quieta. Se me deixassem quieta, eu ficava horas sem incomodar. Mas, mesmo assim, haveria sempre um pretexto para me bater ou deixar que o seu namoradinho fizesse o que quisesse comigo.
Tenho nojo só de pensar nisso.
"Obrigada." Agradeci a ajuda do taxista com as malas e entrei no carro sem delongas. Tirei a mochila colocando-a ao meu lado e observei o bairro que por tantos anos foi a minha 'casa'.
Tenho de admitir que não sentirei falta disto. E como poderia? Como sentir falta de algo que só te fez mal?
"Qual é o destino senhorita Campbell?"
"Leve-me ao aeroporto." Ele sorriu e o carro começou a mover-se.
Observei a paisagem admirada com a vegetação que existia. Era extremamente relaxante. Tirei uma caixa da mala e comecei a remexer no seu conteúdo observando algumas fotografias. Muitas delas eram minhas e dos meus pais em diversos sítios, outras continham eu a brincar com a minha melhor amiga, Sophie. Sorri com as memórias.
"Miami aqui vou eu!" comentei olhando para um postal antigo.
Quando era mais nova, vivia lá com os meus pais, mas pensei que o apartamento tivesse sido vendido. Há cerca de um mês fui contactada por um advogado. Resumidamente ele informou-me que recebi de herança toda a fortuna dos meus pais e parte da dos meus avós, consistia em: um apartamento em Miami, uma casa de férias em Veneza e todas as empresas da família.
Eu amo Miami Beach.
E acho que mereço um recomeço. Todos merecemos um.
Sei que nas próximas semanas teria de visitar todas as empresas da família. Aprender e um dia conseguir desempenhar com excelência as pisadas do meu avô. Pelo que o advogado disse, recebi 2/3 do património dos meus avós, que tinha sido passado para meu nome antes de eles falecerem. O resto (1/3) foi repartido e doado para diversas instituições. Por outras palavras, a minha tia não teve direito a nenhuma fatia dessa herança nem nunca teria.
A viagem até ao aeroporto foi calma, exatamente aquilo que eu precisava.
Após fazer o check in, fiquei mais ou menos uma hora à espera do meu voo. Entrei no avião e sentei-me no lugar indicado no bilhete e comecei a observar as pessoas à minha volta. Na minha frente estava uma rapariga com cerca de 8 anos, super entusiasmada por ir andar de avião e os seus pais riam da sua animação.
"Olá!" a menina disse quando deu pela minha presença. "Eu sou a Emma." sorriu enquanto esticava a sua pequena mãozinha na minha direção e eu aceitei-a prontamente.
"Prazer Emma. Eu sou a Lindsay." sorri.
"Também é a primeira vez que andas de avião?" perguntou curiosa.
"Infelizmente não." sorri triste.
Eu desde os 5 anos que ando de avião. Naquela altura, eu passava muito tempo a viajar para diferentes partes do mundo com os meus pais e com a família da Sophie. Nós sempre estávamos juntas e prometemos que seria assim para sempre.
Porque ela teve de partir?
"Estás triste?" a menina voltou a perguntar.
"Emma deixa a senhora em paz!" a mãe dela comentou envergonhada. "Desculpe!"
"Não faz mal! Sabes Emma às vezes é difícil lembrar do passado e saber que ele não volta." sorri. "Por isso aproveita todos os momentos que a vida te oferece e sê feliz com eles."
Ela sorriu e abanou freneticamente a cabeça em concordância. Reparei que os pais da Emma sorriram e eu sorri para eles.
"Obrigado." comentaram os pais.
A Emma virou-se para a frente e apertou o cinto. É engraçado como esta pequena menina fez-me lembrar eu há alguns anos.
"Posso saber o porquê de estares no meu lugar?"
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Painful Past
FanfictionSe te dessem a oportunidade de mudar o rumo da sua vida, o que farias? Continuarias a viver lado a lado com o sofrimento e a tristeza? Ou escolherias ocultar o teu passado em troca de alguma felicidade? Eu optei pela segunda hipótese. Mas quanto cus...