Eve
Na primeira vez em que encontrei o notório Draco Malfoy, ele me fez chorar.
Eu esperei até ele ter ido embora, é claro, mas eu chorei.
Era o verão anterior ao meu quinto ano escolar; eu estava no Beco Diagonal, dois dias antes do primeiro dia de aula, comprando todo o material que eu iria precisar. Esse iria ser o meu primeiro ano em Hogwarts. Eu havia frequentado Beaubaxtons por toda a minha vida, mas agora que Você-Sabe-Quem tinha retornado, minha tia decidiu que eu iria me misturar melhor em uma escola diferente. Eu tentei dizer não, tentei convencê-la a me deixar ficar em Beaubaxtons, mas ela não cedeu. E, por mais que eu odiasse admitir, ela estava certa. Hogwarts era a melhor opção para eu continuar me escondendo de Você-Sabe-Quem.
Olhando pra trás agora, eu vejo o quão ingênua eu era.
Tudo estava indo bem; minha tia tinha acabado de me deixar na Tomes and Scrolls pra comprar meus livros enquanto ela procurava um caldeirão do tamanho certo para mim.
A livraria estava lotada de estudantes, todos tentando comprar seu material de última hora. Eu segurei a lista bem forte na minha mão, determinada a não deixá-la escapar. Forçando o meu caminho para os fundos da loja, eu comecei uma longa procura pelo primeiro livro da lista dos materiais requeridos.
Eu levei uns bons 30 minutos, mas eventualmente eu tinha certeza de que já possuía tudo o que eu precisava. Eu estava esperando na fila, meus braços cheios de livros com grossas capas duras, quando aconteceu.
Alguém esbarrou nas minhas costas, com força.
Os livros caíram rolando dos meus braços para o chão, aterrissando estranhamente empilhados com alguns livros abertos, as páginas se despedaçando umas contra as outras. Minhas emoções me tomaram, eu me esqueci dos livros e virei-me com raiva para ver quem tinha sido o responsável.
E lá estava ele esperando na fila, bem atrás de mim - Draco Malfoy.
Eu reconheci ele dos jornais, lembrei-me dos artigos que eu tinha lido sobre a família dele ser rica sem motivos e incondicionalmente devota a Você-Sabe-Quem. E lá estava ele, com o seu cabelo bem loiro, terno preto, pele impossivelmente branca e frios olhos azuis... Me encarando de cima com um sorrisinho irritante.
"Tá olhando o quê?", ele disse em um tom rude que, honestamente, causou arrepios em minha coluna. Ele tinha dois amigos, ainda maiores que ele, por suas costas, mas não os reconheci.
Normalmente, se algo como isso acontecesse, eu iria manter minha cabeça baixa, pegar os livros e ficar de boca calada. Mas aquele tinha sido um longo dia, eu estava cansada de ter ficado procurando material e incrivelmente nervosa sobre o primeiro dia de Setembro. Então, ao invés de ficar calada, eu retruquei.
"Olhe por onde você anda."
"Com licença?", ele tinha dado um passo a frente, e eu estava fazendo tudo o que podia para não dar pra trás. Os amigos dele estavam rindo agora, rindo de mim. Draco sorriu pretensiosamente para mim e perguntou, "Quem diabos é você?"
"Eu - eu sou Eve Hawkings", eu respondi, minha voz ficando menor e mais trêmula a cada segundo. Por dentro, eu estava me amaldiçoando por não dar meia volta quando tive a oportunidade. "Quem -"
"Eu acho que você sabe quem eu sou", ele me interrompeu friamente, e eu pude sentir minhas bochechas ardendo enquanto os dois meninos riam mais intensamente. "Dê meia volta, pegue a droga dos seus livros e cuide da sua própria vida."
Eu senti o familiar acúmulo de lágrimas no fundo dos meus olhos, mas eu me recusei a deixá-las cair. Queimando de vergonha e absolutamente me odiando, eu me virei sem mais palavras e fui pegar meus livros. Quando eu me abaixei na frente deles, eu pude ouvi-los rindo e insinuando náuseas.
Endireitando-me o mais rápido que pude, tentei ignorá-los. Eu disse a mim mesma repetidamente para apenas bloquear e não ficar brava - mas o mais importante, não chorar na frente deles.
A fila andou num passo incrivelmente lento, e o tempo todo eu ainda conseguia ouvir Malfoy e seus amigos conversando. Quando eu paguei pelos estúpidos livros e fui em direção à porta, meus olhos começaram a lacrimejar. Eu não sabia se os três tinham olhado pra mim quando eu passei com pressa por eles, mas não parecia ser importante.
Eu saí enfurecida da lotada livraria e entrei no fresco ar da tarde, respirando pesadamente enquanto as lágrimas começavam a escapar. Eu me escondi no beco mais próximo com a visão embaçada, precisando ficar escondida antes que eu pudesse começar a chorar de verdade.
Estava escuro no beco. As lágrimas escorreram pelo meu rosto ao mesmo tempo em que eu deslizava pela parede de tijolos, sentando com as minhas costas apoiadas nela e os livros ao meu lado. Eu enterrei meu rosto em meus braços e chorei o mais silenciosamente possível.
Todos que estavam envolvidos com Você-Sabe-Quem eram sinônimo de confusão, até mesmo os meus falecidos pais. Esse era o porquê da minha tia estar tentando tanto me manter escondida dos Comensais da Morte, para eu nunca ter que me tornar um deles.
Eu disse a mim mesma para esquecer o loiro estúpido que me fez derrubar os livros. Eu nunca mais veria ele ou seus amigos, então eu sabia que o que tinha acontecido não importava. Eu iria para Hogwarts em dois dias, até lá eu já teria esquecido tudo sobre Draco Malfoy.
É, como eu disse antes, eu era ingênua.
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Little Bird [tradução para o português]
Fanfic"É muito mais difícil ficar escondida do Lorde das Trevas quando se está apaixonada por um Comensal." Os pais de Evelyn Hawkings eram conhecidos Comensais da Morte, mas eles morreram quando o Lorde das Trevas caiu e Eve era apenas uma criança. Quinz...