I don't know.

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"Ainda está brava comigo?"
"Vamos tomar um café?"
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Em pouco tempo tínhamos uma amizade incrível. Em minha casa já não possuíam tantas caixas. Tudo estava bem.
"Como você sabe tudo o que eu estou pensando?"
"Eu não sei."
Como sempre, ficamos em silêncio por alguns minutos.
"Eu só acho que te entendo bem."
"Não, é mais do que isso, Harry. Você sabe exatamente o que eu estou pensando."
"Eu sei, você é linda."
"Para."
"Por que está chorando?"
"Você não lê minha mente?"
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Não nos falamos por alguns meses. Harry ligava, mandava mensagens, ia em meu dormitório, mas eu nunca atendi. Provavelmente me achava louca, porque nunca soube o motivo de eu ter o deixado. Era o que eu pensava.
Eu não sabia como, mas havia algo de errado com ele. Ele sabia tudo, tudo e muito mais de quem eu era.
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"Eu não sei quem é esse Harry, mas você tem que conversar com ele. Conte para ele."
"Contar para ele? Ele é um desgraçado, já imagina isso. Ele lê minha mente, não é possível."
"Mas como ele imaginaria uma coisa que ninguém sabe?"
Bem... minha mãe engravidou de mim quando tinha 16 anos, e foi obrigada a se casar com meu pai. Ele a maltratava muito, e sempre chegava bêbado em casa. Quando eu nasci, tudo mudou. Meu pai era um homem sempre presente, parou de beber e cuidava muito bem de mim. Porém, quando eu cresci, ele mudou a visão que tinha de mim, e me tocou aos 9 anos de idade. Eu sabia que meu coração estava quebrando, porque eu ouvi.
Com isso tudo, meu pai voltou a beber e começou a agredir minha mãe. Era um verdadeiro inferno.
Então nunca fui uma criança normal.
"Você precisa emagrecer, menina. Como vou encostar em você assim?"
E então ele passava dias sem me dar comida. Ao sair da escola, eu pegava do lixo, para não morrer de fome.
"Agora sim, está ficando lindinha para o papai."
Quando descobriu que eu comia todos os dias após a escola, me agrediu. Assim, eu fui parar no hospital.
Fui crescendo, e aos 13 anos tentei me suicidar. Eu precisava me livrar de tudo, eu precisava conhecer o outro lado. Sim, era assim que eu pensava.
Peguei uma caixa inteira de remédios de depressão que minha mãe tomava. Antes mesmo que eu pudesse tomar todos, eu morri.
Eu me vi sozinha em um mundo que eu não conhecia. Nunca conseguirei descrever. Nessa lugar eu vi alguém.
"Salve a minha filha!"
Acordei em um hospital, e vi minha mãe chorando, enquanto meu pai estava lá sentado.
Minha vida sempre foi essa, até meus 17 anos, quando minha mãe morreu de câncer. A única coisa que eu pensei foi que minha mãe estaria a salvo.
Até os meus 18 várias coisas aconteceram. Eu era suicida e depressiva. Minha vida era cheia de desgraças.
E em 2015 entrei na faculdade, daquele jeito, acabada, frustrada, triste.
"Como ele imagina isso? Eu não sei."

ElizabethOnde histórias criam vida. Descubra agora