Depois de papai sair para trabalhar, começaram as atividades normais da casa. Eram férias de inverno e o frio era intenso, a neve caía lá fora, e passamos o dia brincando dentro de casa e vendo TV. De tarde, mamãe preparou um delicioso chocolate quente acompanhado dos típicos biscoitinhos de gengibre.
- Quer jogar damas, Gemma? - perguntou Harry, ainda de boca cheia.
Gemma tinha acabado de atender uma ligação e estava ao telefone, conversando animadamente com uma amiga, por isso apenas lhe fez um sinal para que Harry se afastasse. Ele olhou rapidamente para mim e depois baixou os olhos, carrancudo. Fiquei indecisa, se me oferecia para brincar com ele, mas por fim resolvi ser corajosa.
- Sei jogar, se você quiser brincar comigo. Ele me olhou surpreso por um momento e, depois, sacudindo os ombros, respondeu:
- Pode ser.
Sentamos de pernas cruzadas no carpete da sala, de frente um para outro, com o tabuleiro entre nós. Aquela foi uma ótima oportunidade de poder olhá-lo mais de perto, sem parecer literalmente enfeitiçada por ele. Observei seu cabelo liso e cheio, que caía numa franja grossa em sua testa pequena, enquanto as sobrancelhas faziam um arco perfeito sobre seus olhos verdes. Reparei que ele tinha cílios cheios e longos, na verdade os cílios mais compridos que já havia visto em um homem até então - para matar qualquer mulher de inveja. Continuei a observá-lo: suas bochechas eram altas e bem marcadas, traço que tornava seu rosto bem masculino, e continuando minha exploração visual cheguei numa boca rosada e perfeita, que não era nem grande nem pequena demais. Não sei por que, mas achei que o formato de seus lábios lembrava um morango, com aquele lábio inferior ligeiramente mais gordinho e carnudo. Descendo mais o olhar, cheguei ao queixo fino, talvez um pouco fino demais, mas que combinava com o restante de seus traços e criava um equilíbrio nas suas formas.
Sem graça, percebi que tinha parado de jogar, para ficar encarando-o, e tratei logo de voltar a olhar para o tabuleiro, procurando disfarçar e me concentrar na minha primeira jogada. Modéstia à parte, eu jogava bem, porém facilitei para que ele ganhasse a primeira partida. Não achei muito sábio humilhar, logo de cara, alguém que poderia me achar uma possível rival de sua posição na família. Seguiu-se, então, uma sucessão de partidas, e percebi que ele também era bom jogador. Em determinado momento, quando me concentrava num possível movimento, ergui os olhos de repente e peguei-o desprevenido, olhando-me atentamente; ele procurou disfarçar fechando a cara e baixando os olhos para o jogo, mas em seguida disse, baixinho:
- Gosto dos seus olhos.
- Meus olhos? - perguntei surpresa e confusa.
- Sim, são diferentes - ele respondeu, mordendo os lábios.
- Como assim? - quis saber, erguendo uma sobrancelha.
- Ah, todos aqui em casa têm olhos verdes, então é bom ter uma cor diferente para variar - ele respondeu, corando e sacudindo os ombros.
- Acho tão comum, de onde vim à maioria tem olhos Castanhos - comentei, dando de ombros.
Ele ergueu o rosto e olhou pra mim com atenção.
- Abre bem os olhos.
Franzi a testa, achando aquele pedido muito estranho, mas acabei atendendo.
- Mas eles são castanho claro, meio dourados, mais para mel - disse, e enquanto ele analisava, pisquei os olhos, nervosa, não estava acostumada a um menino me olhar tão de perto, ainda mais aquele.
Por fim, resolvi olhar também nos olhos dele e suspirei, ao mergulhar num mar verde. Encaramo-nos, olhos nos olhos, e novamente senti aquela doce emoção que percebi quando nos vimos pela primeira vez, aquela mistura de suave espanto, misteriosa fascinação e magnetismo inexplicável. E, junto com essas emoções, vinha uma sensação de vergonha e culpa. Alguma coisa estava errada, não deveria desenvolver esses sentimentos. Não por ele. Eu o fitava, sem saber se ele poderia estar se sentindo da mesma forma, pois sua expressão era indecifrável, talvez um pouco tensa, pela maneira como ele contraía a mandíbula. De repente, Harry fechou os olhos e declarou, firmemente:
- Cansei de jogar. - E, para minha surpresa, começou a recolher as peças do jogo, levantando- se em seguida.
Pouco depois, nossa mãe apareceu na porta, usando um avental um pouco sujo de farinha, pelo jeito estava fazendo mais alguma receita.
- Harry, por que não chama sua irmã para ver TV no seu quarto com você? - ela sugeriu.
- Por que eu ia querer a Gemma lá? - ele rebateu, mal-humorado.
- Estava me referindo à Camila, afinal vocês têm quase a mesma idade.
- Ah! - exclamou sem graça, dando-se conta do furo.
- Não, mãe - disse apressada, antes que ele respondesse, já me pondo de pé. - Acho que vou para o meu quarto brincar um pouco.
E reparei no alívio evidente no rosto do Harry quando falei aquilo.
- Então, está bem - mamãe disse, saindo em seguida, provavelmente voltando para a cozinha. Corri para o meu quarto, passando direto por Harry, mas evitei olhá-lo. Lá chegando, entrei esbaforida, fechei a porta respirando fundo e coloquei a mão no peito, como se dessa forma pudesse conter aquela estranha sensação de abandono.
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uncontrollably fond // hs
ФанфикE se a semente do amor germinar no mais desafiador dos cenários? Camila foi adotada pelos Styles quando tinha apenas oito anos, após perder seus pais em um terrível acidente de trânsito. Por obra do destino ela e Harry, seu irmão adotivo, tornaram-s...