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- Irmão? - falou, franzindo a testa. - Mas vocês são tão diferentes.

- Não somos irmãos de verdade, sou adotada. - Já estava acostumada com as pessoas fazendo aquela observação.

- Ah, entendi! E eles são legais, sua família?

- São maravilhosos! - respondi sinceramente.

- Que ótimo! - comentou, dando mais uma olhada na direção deles. - Seu irmão então deve ser do tipo bem protetor, não? Já que fica olhando desse jeito para você.

- Ah, meus pais têm essa mania de colocar o Harry tomando conta de mim, particularmente não gosto nem um pouco e acredito que nem ele também, mas acho que esse é o mal de toda filha caçula.

- Nem me fale! - Lexy disse, revirando os olhos. - Sou a mais nova de uma família de quatro filhos e sou a única mulher, então você pode imaginar o que é crescer tendo três irmãos mais velhos! É de enlouquecer!

Comecei a rir, ouvindo-a contar casos engraçados envolvendo seus irmãos. Enquanto isso, acabamos de comer, e reparei que Lexy disfarçadamente olhou novamente em direção à mesa do Harry.

- Nossa, tem um carinha que está conversando com seu irmão que não é nada mal. - Virei-me e dei mais uma olhada.

- Aquele é o Zayn, o melhor amigo dele - falei, desanimada.

- Interessante - ela disse, com os olhos cheios de curiosidade.

Nesse momento, tocou o sinal e nos levantamos, e vários estudantes se amontoavam na porta de saída. Foi quando voltei a me aproximar dos garotos.

- Vejo que ainda está viva, Camila- Zayn disse, tentando fazer piada.

- Mas não graças a você - respondi, cortante.

- Harry, acho que sua irmã me ama! - ele disse, colocando a mão no peito, de maneira teatral. - Confesse, Camila! Confesse que você tem o sonho secreto de me conquistar!

- Isso não seria um sonho, seria um pesadelo! - falei, irritada.

Enquanto eu e Zayn começávamos a travar mais uma de nossas famosas briguinhas clássicas, Lexy e Harry nos observavam. Lexy, visivelmente curiosa e discretamente admirando Zayn , e Harry, bem, era difícil dizer o que ele estava pensando, tinha o rosto impassível, diria talvez levemente aborrecido.

- Tragédia? - perguntou Zayn, gargalhando diante dos meus insultos. - Me beijar seria uma tragédia? Gata, cuidado que um dia desses posso te provar o contrário!

- Chega! Vocês dois! - Harry disse, perdendo a paciência. - Se ainda não notaram, paramos bem no meio do caminho e tem gente querendo passar. Vamos embora, Zayn!

Harry agarrou o amigo pelo braço e conseguiu arrastá-lo dali, não sem antes piscar para nós e jogar um beijinho.

- Eu detesto esse garoto! - disse furiosa para Lexy ao meu lado. - Nunca conheci cara mais convencido!

- Pode ser - disse ela, olhando para eles enquanto sumiam de vista. - Mas você não pode negar, ele é um gato!

Fiz cara de nojo ao ouvir aquele comentário. Felizmente parecia ter sido vacinada contra aquela doença que parecia contaminar todas as garotas que conheciam Zayn Malik e, pelo que pude notar, também já havia contaminado a Lexy. Então, ao voltarmos para a nossa sala de aula, vendo Lexy com o olhar perdido e sonhador, que eram os primeiros sintomas daquela estranha enfermidade, fiz uma anotação mental de avisá-la sobre a chave de cadeia que era o melhor amigo do Harry.

***

Três anos depois, meu desejo tinha se realizado: eu e Lexy nos tornamos amigas inseparáveis, e nossas diferenças, respeitadas de forma natural, formaram uma amizade equilibrada e sólida.

- Isso é tão estúpido - comentou Lexy, sentada na minha cama, em frente ao seu notebook. - Que tipo de tarefa para casa é essa? "Escreva uma prosa ou poesia com tema livre." A professora nem se deu ao trabalho de pensar num tópico! Não é à toa que os professores ganhem tão pouco. Tem alguma sugestão?

Eu estava sentada de frente para meu computador e rodei na cadeira giratória para encará-la. Ri da revolta de Lexy, porém aquilo já era um fato corriqueiro, ela reclamava de todo e qualquer dever que nos era passado, embora nunca deixasse de fazê-los, além de tirar ótimas notas. Ela era esse tipo de estudante que não precisava de muito esforço para entender a matéria, parecia ter algum tipo de memória fotográfica, pois guardava a informação tão logo lhe era explicada. Talvez fosse por isso que detestava tanto tarefas para casa, ela as achava repetitivas.

De fato, aprendi que, por trás de seu suposto comportamento um tanto materialista, Lexy era uma pessoa muito culta, que curtia ler tanto revistas de moda, quanto obras literárias clássicas. Eu admirava muito minha amiga quase gênio, adoraria ter toda aquela capacidade. O jeito era me conformar com minha normalidade.

- Escreva sobre um tema qualquer, alguma coisa que você goste muito de fazer, por exemplo - respondi. Ela mordia a ponta de sua caneta, pensativa.

uncontrollably fond // hs Onde histórias criam vida. Descubra agora