Capítulo 1

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Tudo estava escuro, ele não lembrava onde estava ou como havia chegado ali. Seria um sonho? Na medida em que andava as coisas ficavam mais e mais confusas, objetos cinzentos criavam forma e desapareciam logo em seguida. Começou com coisas simples, uma cadeira, uma mesa... Depois várias construções começaram a se formar ao redor dele, para novamente sumir. Pessoas cinzentas andavam ao redor, em meio às construções, e desapareciam juntos com as mesmas. Com certeza era um pesadelo.

Após andar por vários minutos, ele finalmente desistiu e aceitou o fato de que caminhar não o estava levando a lugar algum. Mas estaria ele em algum lugar? Com várias perguntas em sua mente, ele resolveu sentar-se e esperar, pois seu corpo estava fraco e cansado. Mas afinal, esperar o quê?

Os minutos foram se passando, horas talvez, e ele pensava sobre a sua vida e o que pudesse tê-lo feito chegar ali. Estaria morto? Fosse o caso seria até melhor continuar com a sua consciência nesse nada, onde poderia passar a eternidade em reflexões solitárias, do que voltar para sua vida medíocre.

Mais um tempo havia se passado, quando de repente um corpo formou-se em sua frente, como se vários pedaços surgissem do ar ao redor e se juntassem em um só. Mas tinha um porém, a pessoa que ali estava parecia uma sombra. Era como uma pessoa normal, mesmo semblante, dois braços, duas pernas, duas orelhas... Mas era desprovido de face, e tudo nele era preto, inclusive suas roupas, mas de uma forma como se toda a sua cor tivesse sido sugada, como se fosse um espectro.

O ser suavemente sentou-se ao seu lado, e virou-se como se o estivesse encarando. Imediatamente ele sentiu um calafrio, mas juntou coragem para perguntar:

- O que é você?

- Sou aquilo que você vê. Estou aqui para decidir.

A voz era assustadora, de uma forma que ele nunca havia ouvido, era como se várias vozes aflitas falassem ao mesmo tempo, era uma voz única, inexplicável.

- Decidir o quê?

- O caminho que você irá seguir.

- Não vai me dizer que você é um anjo ou um demônio e eu terei que repassar a minha vida, para que você possa analisar se sou merecedor de passar a minha eternidade alegre e saltitante no céu, ou se terei que queimar eternamente no inferno? Se for isso, prefiro ficar por aqui mesmo.

- Nada tão complexo. Olhe com atenção...

O espectro passou a mão no chão e imediatamente a imagem de um homem em um leito de hospital se formou. Ao seu lado havia uma mulher e uma criança, ambos demonstravam abatimento.

- Esse sou eu...

Ele disse, ainda sem entender muita coisa, mas isso derrubava sua hipótese de que havia morrido.

- Sim, nesse momento você está em coma no hospital, por enquanto você está bem, mas pode piorar.

- Mas afinal, onde estamos? No purgatório?

Ele fez a pergunta, parecendo ignorar o que o espectro havia falado, e este respondeu:

- Na verdade estamos dentro de sua mente, e vamos fazer uma pequena viagem.



Espectros do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora