Espectros do Passado

Capítulo 5

Agora eles passeavam por várias lembranças felizes de sua vida, a maioria envolvia sua esposa. O primeiro encontro deles, o primeiro beijo, quando foram morar juntos, o pedido de casamento, mas o momento mais mágico de todos foi quando ele soube que iria ser pai, e depois o nascimento de sua filha.

- Esse foi o dia mais feliz da minha vida.

Ele disse para o espectro, enquanto pela segunda vez, assistia o nascimento de sua criança.

- Como eu disse, a vida tem seus momentos difíceis, mas momentos como esse que estamos vendo, fazem tudo valer a pena.

Eles viram sua versão passada segurar sua filha nos braços, foi quando ele chorou de felicidade pela primeira vez na vida.

- Minha princesa... Ela merecia um pai melhor.

- Será mesmo? Vamos ver um pouco do presente...

O espectro bateu com o pé no chão, e nele apareceu novamente a visão dele no hospital, com sua esposa e filha ao lado de seu corpo adormecido.

- Ela aparenta estar feliz pra você? Será que nesse momento ela deseja outro pai? Ela só quer seu pai de volta, você, e ninguém mais.

- Eu... Não sei o que dizer. É uma decisão difícil, por mais que eu queira voltar pra elas, esse mundo já me decepcionou demais, por mais que seja complicado, as vezes eu acho que após elas superarem minha morte, poderão ter uma vida bem melhor sem mim.

- Você, mais do que ninguém, deveria saber como é passar a infância sem um dos pais.

- Eu... Não sei... Mas me diga, por que eu tenho que fazer essa escolha? O que é você de verdade? Isso é uma espécie de segunda chance que Deus está me dando? Até agora o que você me disse me fez ter mais perguntas do que respostas.

- Bom, já vimos tudo o que eu queria te mostrar, não tenho mais motivos para me esconder de você.

Após dizer isso, toda a escuridão que envolvia o espectro começou a se dissipar, como se fosse uma fumaça se desfazendo no ar. E finalmente o rosto do espectro apareceu, e ele acabou ficando de boca aberta e sem reação por alguns instantes, até conseguir falar:

- Mas, você sou eu? Não estou entendendo.

- Sim, eu sou você. Na verdade sou sua memória, por isso lhe mostrei tudo isso, para que pudesse se lembrar de tudo antes de escolher o seu destino. Tudo isso, está se passando em sua cabeça, não se trata de nada divino ou sobrenatural, mas de sua vontade de viver. Caso você ainda a tenha, irá acordar no hospital com sua esposa e filha ao lado. Caso contrário, você irá morrer, simples assim.

- Então isso tudo não passou de delírios de um moribundo? Nada disso é real?

- É real o suficiente para selar o seu destino. Mas não adianta ficarmos discutindo, chegou a hora de fazer sua escolha.

Após o que dizia ser sua memória lhe dizer isso, ele pensou, lembrou de tudo o que havia visto nessas últimas horas, das coisas ruins, das boas, de sua filha... E enfim, ele escolheu.