Capítulo 6

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Sabe quando você pensa "Será que pode piorar?". E como se o universo pudesse ouvir, tudo piora da forma mais inesperada possível...

Estou a mais de 3 horas trancada no quarto. Rogério e -para minha surpresa- Juliano vieram aqui algumas vezes mas desistiram quando perceberam que eu não iria falar com ninguém. Minha única reação quando ouvi Fernanda dizer que se demitia foi correr para meu quarto. Acho que só nesse momento perceberam que eu também estava na sala.

Mais uma vez, perdi alguém que é especial para mim.

E com esse pensamento, mergulhei em um sono sem sonhos, molhado com minhas lágrimas.

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O despertador soa, mas meu corpo insiste em continuar na cama.

Vou esperar Fernanda me chamar, penso mas lembro que ela não está aqui para meu segundo dia. Levanto e vou para o banho. Disfarço minha cara de quem chorou com uma maquiagem básica. Visto uma calça jeans, blusa verde soltinha e meu all star. Arrumo minha mochila e meu cabelo. Respiro fundo e desço as escadas. O lugar dela está vazio. É estranho pensar que eu conheci ela a poucos dias, no meu coração, ela tem um espaço enorme, que ficou vazio. É como se eu tivesse perdido uma amiga. De fato, foi isso que aconteceu. Não digo nada, apenas sento e fico remexendo no meu cereal sem fome nenhuma, mesmo que não tenha jantado.

- Você está bem? - Juliano pergunta. Olho para ele demonstrando toda minha surpresa. Ele nunca se importou, então por que está perguntando?

Dou de ombros e volto a atenção para minha tigela.

- Helena... - meu pai começa a falar. Meu estomago se agita com o som da sua voz. Sinto vontade de vomitar. - Hoje... É... Que tal se fossemos fazer alguma coisa juntos?

Olhei para ele? Isso é sério?  Tive vontade de perguntar.

- Não - eu disse. Ele teve anos e agora, que praticamente forçou a única pessoa que gostava de mim (tirando Rogério) a se demitir que fazer isso? É um tipo de compensação?

- Por que não Helena? - Rogério perguntou. Por que não? Quer uma lista? Ele nunca me deu atenção. Nunca se importou. Nunca perguntou como tinha sido meu dia. Nunca conversou comigo sobre... a minha mãe. Por culpa dele Fernanda se demitiu.

Meus olhos se encheram de lágrimas. Droga! Eu não queria chorar na frente dele. Levantei e fui até a porta pegando minha mochila.

- Helena, volte aqui! - o dono do mundo disse com sua voz firme. Meu sangue ferveu

- É tudo culpa sua! - gritei - Sua culpa!

Abri a porta e fui até o carro onde o motorista estava esperando. Entrei e coloquei meus fones de ouvido no volume máximo e fechei os olhos. Quando os abri de novo tínhamos acabado de estacionar na frente da escola. Tirei os fones e acenei para Hugo - meu motorista. Vi Jasmim com um grupo de pessoas junto com Vitor. Eles não me viram e achei melhor assim. Andei e fui até aquele mesmo banco afastado e m sentei lá. Ainda faltavam 10 minutos. Fechei os olhos e senti alguém sentando do meu lado.

- Arthur... - sussurrei para mim mesma.

- Oi - ele disse e mais uma vez senti borboletas dançando.

- Oi - respondi baixinho desviando o olhar para frente.

- Acho que não fomos apresentados direito - ele estendeu a mão. - Sou Arthur.

- Helena - apertei levemente sua mão. Meu corpo se arrepiou com o contato. Ele sorriu. Abaixei a cabeça. Acho que sorrir não estava no meu dicionário. Pelo menos não naquela manhã.

- Você está bem? - perguntou. Eu era tão transparente?

-  Sim - respondi. - Eu estou bem. - Ele endireitou o corpo e sorriu de lado

- Sabia que essa é uma das maiores mentiras que as pessoas contam? - disse.

Eu franzi a testa mais nada saiu da minha boca.

- Se uma pessoa - começou -, está triste o primeiro impulso é guardar esse sentimento dentro dela e dizer "estou bem", até que se torna insuportável, e não se consegue aguentar. O choro é o nível seguinte.

Por um momento fiquei sem palavras. Ele delicadamente afastou uma mecha do meu cabelo colocou atrás da minha orelha. Colocou sua mão por cima da minha, apoiada no banco.

- Seu cabelo é lindo - comentou. - Pensei isso desde que esbarrei em você, naquela livraria.

- Obrigada - disse envergonhada, sentindo um calor invadir meu rosto, tanto pelo elogio quanto pela sua mão que continuava sobre a minha. - Ainda se lembra?

- Uma ruiva de olhos azuis não é algo que se possa esquecer - eu sorri. - Natural?

- Sim. Meu pai tem olhos azuis e minha mãe cabelo ruivo - engoli seco ao falar dela. Acho que ele percebeu.

- Não sei o que aconteceu - disse - mas se quiser conversar com alguém...

- Obrigada - interrompi. - Sabe, acho que você não é tão imbecil como eu pensei - ele gargalhou.

- Agradeço o elogio senhorita - eu ri quando ele tirou um chapéu imaginário da cabeça e fez uma reverência.

Ele conseguiu arrancar um sorriso de mim, pensei com um maior ainda por dentro.

- Bobo!

O sinal bateu.

- Sabe qual é essa aula? - perguntei levantando. Continuávamos de mãos dadas.

- Arte - juro que vi seus olhos brilhando.

- Gosta dessa matéria?

- Na verdade - respondeu - gosto da parte de fotografia.

- Sério?

- Sim - sorriu me olhando. - Gosto de tirar fotos desde os 7 anos. Por falar nisso, quem sabe não tiro algumas fotos suas.

Eu ri

- Nem pensar - disse andando e ele ao meu lado.

- Por que não? Olhos tão lindo merecem ser registrados - pensei que ele iria usar um tom brincalhão mas não, falou tão sério que já estava considerando a ideia.

- Não vai me convencer.

- Isso é o que veremos ruivinha - foi impossível não sorrir. Chegamos em uma sala diferente com quadros, tintas pinceis e um monte de outras coisas.

- Gostou?

- Adorei! - respondi.

Vi uma menina - a mesma que tinha se sentado com Arthur ontem, Tatiana - me fuzilar com os olhos e só aí percebi que ela olhava para nossos dedos que sem eu perceber, tinham se entrelaçado. Olhei para ele sem graça e soltei afastei nossas mãos.

- Vou falar com Jasmim - disse me afastando.

- Pensa no que eu te falei  - disse alto para que eu escutasse. Assenti e olhei para Jasmim que tinhas seus olhos surpresos.

- Já disse que você é muito sortuda?

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Gostaram? Beijos!

Ma







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