Alucinações

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Capítulo 2

Eu já estava acordada mas meus olhos continuavam fechados, por um breve momento tentei imaginar acordar com a luz do Sol exposta em meu rosto, mas a chuva caia como um gelo derretido e a manhã havia começado em um tempo fechado. As nuvens eram acinzentadas e a cidade se encontrava enevoada, meu corpo era coberto por um grande frio gelado e irritante, e com os olhos fechados cobri- me por inteiro debaixo de um edredom grosso e acolchoado, mas na medida que enrolava meus dedos na beira do edredom e o puxava para mais perto de mim, senti alguém o puxar também, e isso já estava me dando nos nervos, remexi-me várias vezes carregada por uma grande preguiça que parecia tomar conta de mim.
E depois de tantas remexidas enquanto me espreguiçava sobre a cama, meu corpo se deparou com o chão duro e mais frio que o normal, eu não pude evitar um grito.
----- Ai!! - gritei, não apenas pelo fato de ter batido a cabeça no chão mas sim, porque o motivo de estar ali congelava-me mais ainda, pois o frio se tornara bem intenso .
Tentei me levantar ainda com os olhos fechados mais puxei todo o cobertor para mim, e meu corpo caiu novamente no chão, abri meus olhos sonolenta e dei uma pequena espiada na cama.
E ele estava lá, apenas com um short de linho fino e suas costas nuas a mostra, não sabia se era apenas impressão, mas seus músculos pareciam estar mais malhados e fortes.
Meu rosto já estava próximo ao seu e era a figura mais linda que se podia imaginar, agarrada ao meu urso de pelúcia favorito, era um rosto de tamanha perfeição e carregado por uma imensa fofura.
Aproximei minha mão de sua testa devagar, dando um peteleco no mesmo que apenas fez uma cara feia.
----- Argh - resmugou esfregando a testa avermelhada, não havia percebido que tinha batido tão forte.
Jung Kook ainda dormia profundamente, pois como sempre era muito trabalhoso acorda-lo, o remexir várias vezes mas de nada adiantou.
Já desistindo da tentativa tentei me levantar, mas suas mãos que antes agarravam um urso estavam em minha cintura e meu corpo caiu por cima do seu, Jung Kook acordou assustado.
----- Bom Dia criança mal criada - levantei da cama com cara de desgosto e irritação e talvez com uma certa ironia na voz.
----- Ah. - suspirou ele. - É você? Isso dói senhorita Yang Minah, - Suas mãos já coçavam seus olhos enfurecido - é com essa cara que vem acordar alguém?
----- Levanta logo, esqueceu que tem aula? - sempre me fazia de autoritária, poderia até me considerar mãe dessa criança.
----- E você? - perguntou ele já sentado na cama encarando o que eu fazia.
----- Estou indo me arrumar - Respondir naturalmente como se nada tivesse acontecendo, talvez eu estivesse com outro problema psicológico na lista, transtorno bipolar . - Levanta logo dessa cama Jung Kook.
Ele tratou de se levantar e enlaçou seu braço em meus ombros enfraquecidos depositando um pequeno beijo em minha bochecha.
----- Bom dia Mana! - Em seguida saiu do meu quarto enquanto coçava a bunda com cara de preguiça.
Entrei no banheiro e encarei aquela imagem monstruosa no espelho, meus cabelos castanhos em tom acobreados, terminava até o meio de minhas costas em um liso andulado, era aterrorizante e parecia despedaçado, meu rosto fino e completamente branco estava cheio de olheiras, e ainda por cima usava uma camisola ridícula que meu irmão havia me dado.
Tratei logo de tomar meu banho e escovar os dentes, e como sou muito desastrada acabei caindo no chão ao sair do banheiro, logo em seguida procurei alguma roupa boa de se vestir e encontrei uma calça jeans preta, blusa branca de mangas longas, e um casaco marrom, tentei amarrar os cadaços do alstar e devido a pressa fiz dois nois que pareciam impossíveis de desamarrar, amarrei meus cabelos em um coke ao qual não fazia questão de pentear e sair correndo de casa quase topando no pequeno degrau a frente da casa.
Encarei rapidamente uma senhora que parecia estar bisbilhotando - me com uma cara um tanto rabujenta e desagradável, ela me era familiar mas resolvi imediatamente entrar no carro, me ajustei ao banco e dei a partida em direção a faculdade de Artes.
                        [...]

Tudo parecia invisível, meus olhos nunca conseguiam se concentrar em algo útil e agradável dessa faculdade, eu não tinha amigos, nada que me chamasse atenção e nem um namorado para variar.
Eu vivia sempre perdida em meu próprio mundo, talvez me considerem uma pessoa idiota e eu sei que sou, mas de que isso valia a pena agora? Eu olhava para os cantos, o refeitório, as salas de aula, e até dava uma espiada de vez em quando no esqueleto do laboratorio, não havia sentido algum ali, e eu poderia dizer que a biblioteca era meu lugar ideal, a única coisa que me dava um por cento de felicidade e conforto.
E agora nesse momento eu encarava aquela capa grossa do Morro dos ventos uivantes, um livro considerado viciante e dito por alguns diabólico, mas que focava meus olhos a cada palavra e trecho daquele livro, me prendia a esse romance fora de todos os limites, uma paixão que chegava a ser doentia.
Tudo naquele momento me pareceu bem até escutar a porta se fechando lentamente, as lâmpadas que iluminavam aquele espaço começaram a se enfraquecer, e em uma batida forte a porta se fechou.
Levantei da cadeira deixando de lado o livro, e andei a passos lentos em direção a maçaneta de madeira e não esperava que a porta estivesse trancada, logo me veio a mente que algum engraçadinho estava querendo me assustar, e havia conseguido pois ouvir ruídos vindo perto de alguns livros logo atrás, eu estava tenebrosa mas com toda coragem caminhei até lá , mas sabe aquele momento em que você tem a impressão de estar sendo seguida? Pois bem, naquele instante senti exatamente isso, e a vontade de correr me envolveu, andei a passos apressados para o outro lado da biblioteca e aquela sensação me atormentou.
Decidi parar meus passos, temendo o que viria a seguir, e meu coração pulsando como se fosse explodir, tão vulnerável e atemorizado, olhei para trás sentindo demasiado alivio ao ver que não havia ninguém ali exceto eu, fez com que soltasse de mim um profundo suspiro, será que tudo isso era só imaginação? Mas nada fazia sentido.
Depois de alguns segundos virei meu corpo para trás e soltei um grito abafado devido o fato de ter imediatamente colocado minhas duas mãos em minha boca, desta vez não era imaginação minha, aquele homem de pele clara, cabelos acobreados, vestido de uma camisa branca ao meio, terminando com mangas longas pretas e ao redor do pescoço uma correte de ouro, ele me encarava naquele instante, eu não sabia se tentava achar ar em algum lugar, ou encontrar palavras para aquele momento.
----- V-Você acha e-engraçado isso? - minhas palavras quase vinham atrapalhadas.
----- Posso saber por quê? - De fato ele era absurdamente familiar mas continha uma voz gutural magnífica de se ouvir.
----- Por que....Fazer aquela coisa com a luz... - Precisava me tranquilizar ou poderia ter um colapso naquele momento. - Trancar a porta, não acha uma atitude muito infantil ? - Era inconformavél sua cara de quem não sabia do que eu falava.
----- Garota, eu não sei do que você estar falando. - Ele parecia não estar com a mínima vontade de me ouvir.
Mas não era certo, poderia ele achar graça do que fazia? Era óbvio, ele estava por trás disso.
----- Você deve se achar muito bom nisso, e pro seu interesse não me assustou. - Se eu estivesse em meu estado normal eu jamais falaria dessa forma.
----- O que ? - Ele realmente não sabia de nada? Pois seus olhos me olharam como se eu estivesse louca.
----- Eu não estou eloquecendo, eu realmente vi. - Minhas palavras saíram deseperadas. - Alguém...- Engoli em seco. - Tinha alguém aqui dentro, mas não era como uma pessoa. - Eu não deveria estar explicando nada, pois pela sua cara o mesmo não compreendia o que eu falava.
----- Garota, você bebeu ? Ou quem sabe ficar tanto tempo aqui dentro deve ter causado algum dano, você está alucinando? - Sua ironia me deixou um tanto irritada.
----- Eu sei o que vi.- falei convicta.
Uma complexidade imensa perturbou minha mente agora, eu estava sozinha na biblioteca ou quem sabe achava que estava, mas uma pilha de bagunças e confusões pareceu rondar meus pensamentos fazendo com que apressa - se meus pés a sair dali.
Retornei a mesa empilhada de materiais e em uma rapidez começei a colocar tudo dentro da bolsa, só que minhas mãos ainda estavam trêmulas e me dificultava cada vez mais.
----- Então deixe-me adivinhar - levei um tremendo susto ao ver novamente aquele sujeito, que neste momento encarava a capa do livro O Morro dos ventos uivantes ao meu lado. -Você é daquelas garotas lunáticos que adora um bom filme de terror e vive dizendo que ver fantasmas, bruxas mortas e outras coisinhas mais. - Encarei aquela face maravilhosa e cheia de beleza que tocava com delicadeza a capa do livro.
Aquele homem me olhou sério e lentamente se sentou na cadeira com uma cara despreocupada, logo em seguida me encarou de cima a baixo em desdém pegando o livro e parecendo brincar com ele enquanto o girava em sua mão mostrando um bico indesejado.
----- Então digamos que eu não estou interessado nisso. - Ele não pôde deixar de lado um sorriso irônico. - Ah, e olha em volta está tudo normal, tenho certeza que do mesmo jeito que você entrou. - Não me parecia claro tudo aquilo, aquela sensação era real de verdade, a porta estava trancada e a luz quase apagada, mas quando olhei tudo em volta se encontrava de modo normal, a porta escancarada, as lâmpadas muito bem iluminadas, entretanto eu simplesmente não entendia, o que na verdade foi tudo aquilo?
                        [...]

Meus braços se encontravam envoltos em meu próprio corpo, o frio era insuportável, as luvas que cobriam meus dedos pareciam não servir para mais nada.
Eu não poderia imaginar que sairia de dentro da minha casa apenas para comprar algo quente no café da cidade, logo a chuva começaria a cair então teria que me apressar um pouco. Já quase na entrada do restaurante vs bar Billy avistei um grupo de garotos que pareciam estar no meio de uma briga próximo ao restaurante atrás de uma cerca , eu deveria não ser tão curiosa mas não foi apenas pelo motivo da briga e sim por causa dele, um primeiro encontro com um sujeito misterioso e arrogante não acontecia todo dia, meus pés pareceram me obrigar a se firmarem no chão e foi o que fiz.
Golpes fortes, chutes, eram vistos por ali, o garoto familiar parecia se divertir vendo que estava ganhando para dois, era de fato engraçado o modo como o mesmo achava graça daquilo, mas ao certo não era tão engraçado assim.
Ele mantinha seu olhar firme, mas seus lábios continham um sorriso totalmente diabólico e sarcástico, capaz de pertubar todos ali, porém seus olhos fitaram os meus e seu sorriso simplesmente desapareceu. Aquele rosto sério e arrogante voltou a tona, eu não compreendia o que de certo havia acontecido na biblioteca, mas algo interiormente afirmava que talvez ele estivesse por trás disso, ou quem sabe eu esteja estupidamente enganada.
Sem entender a partir de então, pude encarar a imensa curiosidade que tive no momento que preguei meus olhos aos dele. Seu rosto me parecia tão familiar, infelismente minha memória não era muito boa, então estava sendo difícil me forçar a tentar lembrar.
Era estranho como no primeiro momento que havia o visto poderia manter minha mente tão cheia, eu sentir uma certa vontade de descobrir algo sobre ele, todavia poderia tudo isso ser um imenso risco embrulhado em um grande perigo, que me impedia de tentar, ou talvez não. E a tempestade de pensamentos em minha mente eram como terríveis e gigantescas ondas que minimisavam as demais menores, ou simplismente um complexo paradoxo.

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