Leia, Porfavor

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A campainha tocou. Atendi.


O menino ricamente vestido disse:

- Adelaide Carraro?

- Sim.

- Meu nome é Roberto. Sou filho do Dr. Rubens Lopes Mascarenhas.


Não sei se a senhora teve conhecimento da grande tragédia que abalou a


minha família.

- Li tudo a respeito, Roberto, e sinceramente senti muito.

- Dona Adelaide, eu...


- Tire o dona, tá?

- Obrigado. Bem, Adelaide, eu preciso muitíssimo de você.

- Então vamos conversar lá dentro.

- Meu chofer também pode entrar?

- Claro.

Ele ali sentado na minha frente, com os olhos brilhantes de lágrimas


e a voz embargada, começou a falar:

- Estou só, me sinto só. Não sei a quem recorrer. Meu Mestre


"está morto, meu irmão está morto, meu pai não sai do quarto de meu


irmão, minha mãe está internada em uma casa de saúde. Sinto-me sufocar.


Não tenho freqüentado o colégio, não vou ao clube, não saio. Juro que a


vida acabou para mim. Acabou aos 15 anos.


O que se dizer a uma criança que soluça desesperada em sua frente,


depois de saber que essa mesma criança assistiu coisas horríveis,


tremendamente horríveis? E as palavras vieram firmes e claras.

- Roberto, você não está só. Deus está com você. Deus, na sua


infinita misericórdia, fortificará seu espírito e o espírito de seus pais. Você


fará todos suportarem essa grande dor. Você me procurou e prometo fazer


tudo para o ajudar. Fale sem acanhamento. Serei sua amiga. Agora deixe-


me enxugar seus olhos. Pronto... Assim... Vou mandar servir um cafezinho.


Ele, mais calmo, Continuou:

- Adelaide, você me fez recordar que existe Deus e em nome dele eu


lhe peco: faça chegar a todas as casas do Brasil esta carta. Juro que eu a


escrevi quase cego de dor, mas, o dia em que eu souber que todos os estudantes do Brasil fazem de minha carta uma arma contra os traficantes


de entorpecentes, voltarei a ser um jovem feliz.

- Roberto Lopes Mascarenhas, esse livro é seu.


Peco-lhe que volte a me procurar, pois desejo encontrar em seu


semblante a felicidade que o envolveu depois de saber que os estudantes já


levantam na mão, a arma contra o tóxico. Arma fabricada pôr você: este livro.

Meu abraço


Adelaide Carraro


São Paulo, Julho, 1975

O EstudanteOnde histórias criam vida. Descubra agora