Capítulo 7 - Meu Mestre

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  Assim que chequei ao colégio, corri para a 1º série e olhei para a mesa doMestre e senti um vácuo no estômago quando vi que o professor era outro. 

― Por favor, onde está o professor Mariano? 

― Está doente. 

― Doente?! 

― É, doente.

 ― O senhor sabe onde ele mora? 

― Na diretoria você encontrará o endereço. 

Assisti às aulas com impaciência, pois não via a hora de chegar à casa doMestre. 

Chamei um táxi e indiquei o endereço. Toquei a campainha num modestosobradinho lá na Casa Verde e na porta apareceu uma moça com os cabelosamarrados para trás e enxugando a mão no avental. Seis cabecinhas de criançassurgiram atrás dela. 

― Pois não... 

― Desejaria ver o professor Mariano. Meu nome é Roberto LopesMascarenhas. Fui seu aluno na 1ºsérie. 

― Entre, ele está no quarto. É por ali. 

Apesar de a porta estar aberta, dei umas pancadinhas e o Mestre abriu efechou os olhos até que me reconheceu. 

― Roberto, meu rapaz, entre, entre. Mas, que prazer me causa a sua visita.Como você cresceu. Sente aí nos pés da cama, meu rapaz. Aí mesmo. 

Depois olhando as carinhas que espiavam na porta: 

― Vá todo mundo brincar, vamos! 

Senti um nó na garganta, quando vi que o meu Mestre, tão grande em suasabedoria, vivia tão pobremente. O colchão era duro que parecia pedra, asroupas da cama velhas, os móveis descascando, o tapetinho gasto, mas sua voz eas coisas que dizia valiam todo o dinheiro do mundo. 

― Mestre, eu preciso do senhor, mas, gostaria de lhe falar a sós. 

Olhei para as crianças que já estavam com meio corpo dentro do quarto. 

― Então, feche a porta, filho. 

Empurrei delicadamente a porta. As crianças se afastaram. 

― Sabe, Mestre, o caso é que... bem, o senhor... 

Não conseguia entrar no assunto. Sentia-me como se fosse desaparecendoaos poucos. Tinha vergonha de falar ao Mestre sobre entorpecentes, mas eleparecia adivinhar, o meu querido Mestre, que eu estava me sentindo só eamedrontado. 

― Olhe, Roberto, aí atrás de você tem um prato cheio de maçãs. Ganhei de um aluno, que veio me visitar ontem. Pegue uma para você. Estão bemdocinhas. 

― Não professor, obrigado, eu... eu... 

― Prefiro que me chame de Mestre, Roberto. Assim me lembro do nossovalente Renato, que considero um dos melhores alunos que passou pelo RioNegro. E por falar em Renato, como está o nosso pequeno herói? 

Acho que fiquei branco como um defunto, pois, o Mestre falou assustado,apertando a garganta: 

― Aconteceu alguma coisa ao Renato? Ele está doente? 

Escondi o rosto nas mãos e chorei.O Mestre tentava levantar-se com grande dificuldade, quando corri paraele e pedi:

 ― Não, por favor, Mestre, não se levante. Eu estava um bocado nervosoporque vi meu pai chorar ontem. Não sei o que fazer, por isso vim pedir suaajuda.

 ― Alegro-me de todo coração por um ex-discípulo lembrar-se de mim.Há bastante tempo que não via nenhum aluno da 1ª série e tudo farei para ajudá-lo, Roberto, seja lá o que for, estaremos juntos. 

O EstudanteOnde histórias criam vida. Descubra agora