Assim que chequei ao colégio, corri para a 1º série e olhei para a mesa doMestre e senti um vácuo no estômago quando vi que o professor era outro.
― Por favor, onde está o professor Mariano?
― Está doente.
― Doente?!
― É, doente.
― O senhor sabe onde ele mora?
― Na diretoria você encontrará o endereço.
Assisti às aulas com impaciência, pois não via a hora de chegar à casa doMestre.
Chamei um táxi e indiquei o endereço. Toquei a campainha num modestosobradinho lá na Casa Verde e na porta apareceu uma moça com os cabelosamarrados para trás e enxugando a mão no avental. Seis cabecinhas de criançassurgiram atrás dela.
― Pois não...
― Desejaria ver o professor Mariano. Meu nome é Roberto LopesMascarenhas. Fui seu aluno na 1ºsérie.
― Entre, ele está no quarto. É por ali.
Apesar de a porta estar aberta, dei umas pancadinhas e o Mestre abriu efechou os olhos até que me reconheceu.
― Roberto, meu rapaz, entre, entre. Mas, que prazer me causa a sua visita.Como você cresceu. Sente aí nos pés da cama, meu rapaz. Aí mesmo.
Depois olhando as carinhas que espiavam na porta:
― Vá todo mundo brincar, vamos!
Senti um nó na garganta, quando vi que o meu Mestre, tão grande em suasabedoria, vivia tão pobremente. O colchão era duro que parecia pedra, asroupas da cama velhas, os móveis descascando, o tapetinho gasto, mas sua voz eas coisas que dizia valiam todo o dinheiro do mundo.
― Mestre, eu preciso do senhor, mas, gostaria de lhe falar a sós.
Olhei para as crianças que já estavam com meio corpo dentro do quarto.
― Então, feche a porta, filho.
Empurrei delicadamente a porta. As crianças se afastaram.
― Sabe, Mestre, o caso é que... bem, o senhor...
Não conseguia entrar no assunto. Sentia-me como se fosse desaparecendoaos poucos. Tinha vergonha de falar ao Mestre sobre entorpecentes, mas eleparecia adivinhar, o meu querido Mestre, que eu estava me sentindo só eamedrontado.
― Olhe, Roberto, aí atrás de você tem um prato cheio de maçãs. Ganhei de um aluno, que veio me visitar ontem. Pegue uma para você. Estão bemdocinhas.
― Não professor, obrigado, eu... eu...
― Prefiro que me chame de Mestre, Roberto. Assim me lembro do nossovalente Renato, que considero um dos melhores alunos que passou pelo RioNegro. E por falar em Renato, como está o nosso pequeno herói?
Acho que fiquei branco como um defunto, pois, o Mestre falou assustado,apertando a garganta:
― Aconteceu alguma coisa ao Renato? Ele está doente?
Escondi o rosto nas mãos e chorei.O Mestre tentava levantar-se com grande dificuldade, quando corri paraele e pedi:
― Não, por favor, Mestre, não se levante. Eu estava um bocado nervosoporque vi meu pai chorar ontem. Não sei o que fazer, por isso vim pedir suaajuda.
― Alegro-me de todo coração por um ex-discípulo lembrar-se de mim.Há bastante tempo que não via nenhum aluno da 1ª série e tudo farei para ajudá-lo, Roberto, seja lá o que for, estaremos juntos.
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O Estudante
Não FicçãoO Estudante é um livro escrito por Adelaide Carraro, que conta a história de dois irmãos, Roberto e Renato. A 1ª edição data de 1975. Dois irmãos, sempre muito unidos e amigos, entram na escola juntos. Renato sempre fora o melhor aluno da classe e s...