Capítulo VI - Altruísta

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Sentada em sua cama vestindo roupas folgadas, Mina forçou os lábios um contra o outro, tentando bloquear a colher estendida a sua frente. Ela já havia se banhado contra a sua vontade e bebido o chá caseiro feito por ele, mas tomar sopa daquela forma, como se fosse uma criança, era demais. Na realidade, não era sequer para Nathaniel estar em seu quarto, quanto mais cuidando dela como se fosse um bebê.

— É sério, pare com isso. — contestou afastando a colher. — É melhor vo- —enfiou a colher em sua boca. — Nathaniel! — esbravejou assim que engoliu.

— Vamos, seja boazinha e coopere. — pediu ajeitando o corpo para frente, pronto para lhe dar outra colherada.

— Cooperaria se você fosse embora e me deixasse em paz. — respondeu emburrada.

Ela encostou o corpo na parede, encolheu os pés e apoiou o rosto no joelho, mas manteve seu olhar feroz. Tudo aquilo era desnecessário, aquelas atitudes não combinavam com a personalidade que conhecia dele, era extremamente suspeito.

Nathaniel se divertindo com a sua reação, colocou o prato em cima da cômoda e sorriu de forma divertida.

— Acho que está tendo uma ideia errada sobre mim. Não estou cuidando de você por motivos altruístas, simplesmente, estou usando-a como passa tempo, um mero capricho para suprir o meu tédio.

Pausou sua explicação prepotente para ajeitar a postura; apoiou os cotovelos no joelho e entrelaçou uma mão na outra. Ainda sorrindo, continuou:

— Acha mesmo que comprar vitamina ou uma simples revista eram castigos? Estava apenas brincando com você, não se iluda e muito menos queira me irritar. — ele relaxou a postura e sorriu de uma forma gentil que Mina sabia que era falsa. — Agora entre comigo no jogo.

— Eu odeio você. — a voz baixa e grossa expunha todo o ódio, o rancor, a ira que sentia pelo garoto a sua frente.

— Tenho certeza que sim. — Nathaniel confirmou sorrindo e levou a colher até a boca da garota que, desta vez, engoliu sem resistir.

A sopa deveria estar doce e saborosa, mas Mina apenas sentiu o gosto amargo descendo por sua garganta. Era o sabor da humilhação de se submeter aos caprichos de Nathaniel. Como pôde permitir ter seu o orgulho ferido com tanta facilidade? Ser humilhada desta maneira, ainda mais por ele? Como?

Uma lágrima escorreu de seu olho direito, ela limpou rapidamente com força. Estava cansada de sua raiva que sempre se transformava em lágrimas, ainda mais na frente de Nathaniel, precisava ao menos manter a dignidade que lhe restava, mas era quase impossível.

Ao olhar para ele, ela se deparou novamente com o sorriso que tanto odiava.

— Tão orgulhosa... — ele segurou uma mecha do cabelo de Mina, fechou os olhos e levou ao rosto, fez um gesto parecido com um beijo. — Mas não se preocupe, eu, pessoalmente, lidarei com este detalhe. Todo esse orgulho, eu o dizimarei até não restar nada. — falou calmo, mas sombrio, fazendo com que Mina tremesse.

Pela primeira vez, ela sentiu o medo a cercando e penetrando completamente o seu corpo, não conseguiu se mexer, estava paralisada. Fechou os olhos e esperou, esperou que Nathaniel se afastasse e com isso, todo o pesadelo fosse embora e desaparecesse, mas nada aconteceu. Em vez disso, o medo se intensificou.

Nathaniel acariciou seu rosto levemente, contornando os seus lábios com o polegar. A respiração de Mina pesou e, apesar do frio que sentiu há pouco tempo, o calor dominou todo o seu corpo, estava confusa com as novas emoções que se intensificavam cada vez mais, não compreendeu o que estava acontecendo.

Apenas uma dívidaOnde histórias criam vida. Descubra agora