Capítulo VIII - Frágil e exposta

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Trinta minutos se passaram e as luzes da sala permaneciam apagadas. Era sua deixa, o caminho estava livre. Mina checou a cama pela última vez para ter certeza que o lençol estava bem posicionado, caso o contrário, na hipótese de sua mãe acordar e ir até seu quarto, os travesseiros, por baixo do lençol, poderiam denunciá-la. Ao confirmar, abriu com cautela a porta, saiu e fechou com o mesmo cuidado.

Para seu alívio, a luz do quarto de seus pais também estava apagada, o que indicava que eles realmente estavam dormindo. Como conhecia cada canto de sua casa, não teve qualquer dificuldade em se deslocar na escuridão para chegar a saída. Usou novamente a cautela tanto ao destrancar a porta quanto para abri-la, mas o rangir do objeto foi extremamente alto.

Extintivamente, Mina fechou os olhos e mordeu os lábios. Estava tudo acabado, seu plano fracassou antes mesmo de começar. Mas, para sua sorte, a casa permaneceu em silêncio. Soltou um suspiro de alívio, recompondo-se, e voltou a ativa. Passou pela porta e a fechou depressa na tentativa de não fazê-la ranger. Funcionou, trancou satisfeita e saiu determinada.

Iria ao show e ninguém a impediria.

O evento estava acontecendo no estacionamento do shopping a algumas quadras de sua casa. Olhou para o ponto de ônibus vazio e, em seguida, para o relógio em seu pulso. Naquela altura, o show já havia começado, chegaria tarde, precisava pensar: a rua estava sombria, andar não parecia ser a melhor opção, entretanto, não fazia ideia de quanto tempo o ônibus demoraria a passar e poderia ser vista pela janela de algum vizinho durante a espera.

O melhor a ser feito era evitar o risco. Respirou fundo e começou a andar. Meia hora depois, Mina já conseguia escutar as batidas altas e o coro da plateia, entre gritos, acompanhando a música que tocava. Pouco tempo depois sorriu ao avistar a entrada. Ainda havia uma pequena fila com as pessoas sendo revistadas pelo segurança para que pudessem entrar.

Parou de andar e tateou o bolso verificando se ainda continha o ingresso. Ao confirmar, ajeitou o cabelo deixando-o por cima dos ombros e também ajeitou sua blusa, de alça da cor vinho, deixando-a mais solta, pois estava presa propositalmente na cintura de sua calça jeans preta. Sorriu, contente por ter escolhido seu vans vermelho escuro, extremamente confortável. Após a breve reparada em seu look, Mina se aproximou do local e esperou na fila como os demais.

Olhou novamente para o relógio, estava realmente tarde, torcia para que Rosy não tivesse ido para casa. A espera estava consumindo-a, era a primeira vez que havia feito algo tão imprudente. A adrenalina se fora e o medo permaneceu, temia ser pega. Olhava sempre para os lados para verificar se não havia alguém conhecido, afinal, qualquer uma pessoa de seu bairro poderia estar por ali, mesmo que praticamente todos fossem idosos e, o restante, pais ocupados demais com suas crianças para saírem de seus lares aquela hora.

Por um momento, a imagem de sua mãe descobrindo a verdade, que o que estava na cama de sua filha era travesseiros e não ela, assustou-a. Seu corpo estava praticamente se movendo sozinho, para fora da fila, no intuito de ir para a casa, mas Mina segurou na grade impedindo a si mesma.

A escolha já estava feita e ela iria até o fim.

— Ingresso, por favor. — o segurança pediu.

Ela demorou um pouco para desligar de seus pensamentos, mas logo se recompôs e puxou o ingresso dourado. O segurança verificou duas vezes o bilhete e sussurrou algo no ouvido de seu parceiro que assentiu e disse:

— Venha comigo, por favor.

Mina o seguiu sem contestar e entraram no estacionamento. O local estava lotado de pessoas pulando e cantando no ritmo da música e bebidas eram jogadas de um lado para o outro. Tentou ver quem era os artistas da vez, mas conseguia enxergar apenas borrões distantes. O cheiro doce de droga pairava pelo ar misturando com os de cigarro e essência. Mina fungou o nariz algumas vezes sentindo-o irritado, esbarrou em um casal e, em seguida, pisou em alguém deitado no chão.

Apenas uma dívidaOnde histórias criam vida. Descubra agora