Era um dia comum, como esses depois do trabalho, após um bom banho, um pijama branco confortável de algodão, bem fresquinho e macio, e o corpo resolve se sentar na frente do computador acompanhado de uma bela taça de vinho tinto, à meia luz no quarto, com o abajur ligado, à procura de algo interessante a se fazer na internet. Meus dias têm sido previsíveis, eu buscava por algo sem saber ao certo o nome que daria para o que queria, sentia e negava por medo de mudar o que eu já conhecia.
Eu lia os e-mails recebidos, respondia-os, e ria das mensagens instantâneas das amigas do Facebook. E, de repente me sentiu enjoada e entediada por não ter mais nada para fazer, e percebi que o sono estava longe de vir, assim como os sonhos ocultos de minha própria consciência. Viver é muito mais que preciso. Já era tarde, resolvi ler reportagens do mundo, coisas triviais sobre moda, política e festas de arromba dos artistas. Dentre as informações e janelas abertas, cliquei em uma que me chamou a atenção, a campeã de maior acesso do mês, um site de relacionamentos. Fiquei tentada em me cadastrar, bati ritmicamente meus dedos com unhas pintadas de vermelho sobre a mesa branca de madeira do seu quarto, não sabia por que, mas me senti envergonhada por estar diante daquele site. Sentei-me como uma lady em puro devaneio, e prendi os cabelos em um coque bem despojado e relaxado e olhei fixamente para a tecla enter. A tecla a causava uma espécie de vigor, como se pudesse me dar asas acima do que um dia consegui imaginar, e mesmo assim... Não me aventuraria... Não naquele instante. Soltei uma risada alta e desliguei o monitor, zombando daquela situação. Joguei meus óculos de grau na cabeceira da cama, e me deitei no travesseiro, enrolada aos lençóis. Fiquei pensando em como seria se tivesse apertado aquela tecla... Um simples toque poderia mudar o mundo a minha volta, ou transformar o inimaginável. Um simples toque poderia também ser mais um dos atos sem importância em mina vida, eu não sabia dizer o que poderia ser mais significativo do que meu passado. Talvez se tivesse clicado, estaria dando uma chance para mim mesma de conhecer novas pessoas, teria pretendentes novos, amigos, talvez até fosse convidada para festas e viagens, mas resolvi não apertá-la, seria uma avalanche de emoções desconhecidas das quais não sabia se estaria pronta a me descobrir nelas. Soltei um suspiro demorado, estava pensativa... Acreditar em minhas vontades poderia ser apenas um capricho, nada que pudesse me deixar melhor ou pior. Por um momento, me senti segura em fazer meu cadastro, mas por outro lado, achei uma grande perda de tempo, uma verdadeira bobagem... Virei-me para o outro lado, balancei a cabeça negativamente, e fechei meus olhos.
Eu me chamo Eva, sou uma mulher que já sofreu na vida, conhece as vantagens de ser quem sou depois de tudo que consegui sobreviver, mas conheço o preço que paguei por ser forte. Perdi pessoas que amava ao longo dos anos, começando por meus pais, que morreram quando eu ainda era uma menina. Ser uma mulher bonita me trouxe sofrimento, e não é convencimento, eu sempre escuto isso de todo mundo que me conhece, e até mesmo dos desconhecidos. Considere-me sim, alguém interessante, aprendi a me ver inteiramente, sobretudo, aceitar que posso hoje me olhar no espelho e gostar do que vejo. Considero-me engajada no mercado de trabalho, e me destaco no quesito que exigiu de mim para eu estar onde estou, pois trabalho em uma Multinacional, a qual sou secretária sênior, falo fluentemente o inglês e francês, e arranho no espanhol. Mas tenho um enorme defeito que me prejudica em tudo que faço, principalmente no amor, sou uma eterna medrosa. Eu penso muito antes de agir e de me aproximar de alguém, e na maioria das vezes, quando me decido, ou já perdi a oportunidade ou nunca terei de fato o direito a uma escolha... Eu considero meus medos um inferno astral, e terei de carregá-los comigo para sempre. O medo me domina, e nunca vivi a vida prazerosa como tinha de ser, confesso que isso não mudou com o tempo, só piorou. – pensou.
Há quem diga que o amor morreu. Talvez seja isso a acontecer dia após dia... Todavia sua percepção muitas vezes invisível. Mas a incredulidade já não pode mais falar ou ser ouvida sem denunciar o próprio desfecho da ilusão quotidiana, a isso se dá o codinome, vida. Eu não me arriscava rotineiramente, sempre preferi os caminhos certos, sutis e com resultados óbvios com condão à perfeição. Se não me sinto confortável, e acredito que o caminho é duvidoso, simplesmente não sigo por este. Por seguir sempre por caminhos corretos, sofri muito. Perdi meu marido no segundo ano de casamento, uma união na qual fora feliz e apaixonada. Daniel me conheceu numa ocasião em que eu viajava a trabalho, e ele também. Esperávamos no aeroporto o mesmo voo para Chicago – Estados Unidos. Ele estava sentado lendo seu jornal, e me olhou assim que me sentei ao seu lado, foi amor à primeira vista, passamos a viagem inteira conversando e marcarmos um encontro quando voltássemos da viagem. Trocamos telefones e se falamos todos os dias seguintes, eu sorria muito, e era adorável para ele me ver sorrindo. Não nos desgrudamos mais depois do encontro, e seis meses depois, ele me pediu em casamento.
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Namour
RomanceA vida não para, é uma constante diante da magia e desencontros... O sentimento verdadeiro e puro, não transcorre por obstáculos, eternamente... As barreiras são vencidas. Neste amor virtual, em que a distância é a maior inimiga, os desencontros são...