Os sonhos se realizam.

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— Alice, acorde! – gritou a Sra. King, a mãe de Alice do andar de baixo. – Não vou permitir que você chegue atrasada.

— Já estou indo, mãe! – berrou Alice de volta.

Eram 06:15 da manhã, e aquele horário era considerado muito em cima da hora para uma garota solteira de Salem, cuja vida não tinha filhos e também não tinha nenhuma preocupação na cabeça, o que significava que ela também não tinha motivos para chegar na escola atrasada logo no primeiro dia de aula, pelo menos era assim que os pais de Alice pensavam.

Mas naquela manhã, ela acordara bem mais cedo do que de costume. Ela estava debruçada sobre o computador quando sua mãe lhe gritara pela milésima vez durante aquela manhã. Na semana passada, ou melhor, desde que ela se mudara para cá, a cena do mesmo sonho que ela tivera começara a se repetir várias vezes em sua mente. Até uma semana atrás, ela era uma garota comum dos Estados Unidos. Agora ela se sentia uma lunática devido aos repetitivos sonhos. Será que isso era um sinal? Será que sonhos podiam mesmo se realizar após eles se repetirem tantas vezes?

Sobre a mesa, ao lado do teclado, uma latinha vazia de Coca-Cola light. Ela descera as escadas assim que acordara e roubou uma latinha dos fundos da geladeira para impedir que seu sono viesse enquanto ela fazia sua pesquisa.

Alice acordara mais cedo naquela manhã para investigar seu sonho na internet. Se ele não se repetisse durante uma semana, ela até poderia ter se esquecido dele, mas desde da quarta-feira passada ela passou a dormir sentindo que aquele sonho voltaria outra vez. Ele começara na segunda, que foi o dia em que ela voltou para Salem, e se repetiu na terça. Então, era sensato pensar que talvez no dia seguinte ele se repetisse outra vez. E, ela estava certa.

Então, Alice pensou: se ele se repetir novamente na quinta-feira, então eu começo a investigar na sexta. Ela tinha todos os seus métodos armados para a investigação, porém tantos preparativos e tantas coisas aconteceram naquela semana que o sonho passou a se tornar uma coisa chata como um filme que passava diariamente na sessão da tarde. Mas hoje, no primeiro dia de aula, ela sentia que coisas poderiam acontecer, então nada melhor do que se prevenir. Tudo o que Alice sabia ou sentia era que talvez seu sonho tivesse algo a ver com a escola. Embora, por outro lado, parecia que não. Ela se via presa dentro de um cemitério com vários feixes de luzes que pareciam serem patronos de animais multicoloridos (a cidade era a antiga Salem). Eles voavam e dançavam perto dela. Alice se lembrava de ter visto um coelho, um porco, um macaco e até um enorme dragão sobrevoando os céus. Havia também vários jovens ao redor de cada túmulo, jovens que ela não fazia a mínima ideia de quem eram. Mas havia um rosto que lhe chamou a atenção, um rosto severo de um rapaz que parecia estar tão perdido quanto ela. O ruim era que ela não conseguia se aproximar dele; ela não conseguia se aproximar de ninguém.

Logo, nada mais inteligente do que começar a procurar pelas origens desses animais. Pesquisou tudo o que sabia sobre eles na internet, até as coisas que ela considerava desnecessárias para esse tipo de assunto, como cadeia alimentar e o que acontecia quando eles morriam e outras besteiras. Nada. Era a mais simples pesquisa que ela já havia feito na vida. Nada disso podia significar alguma relação com seu sonho.

Alice, o tipo de garota que não vestia calça jeans e camiseta, estava de calça cáqui e uma blusinha regata mais velha que ela tinha. Sua pele reluzia conforme os raios de sol penetravam na janela de vidro fechado, e seus cabelos dourados e lisos cheiravam a lavanda. Digamos que ela era o tipo de garota que atraía os homens mais velhos, mas isso não significava que ela sentia prazer por eles. Quando morava em Salem ela até havia conhecido alguns caras interessantes, mas era tudo uma aventura. Nada sério.

— Alice Ewan King! – a Sra. King gritou mais uma vez. A próxima ela invadiria o quarto da filha e a tiraria a força.

Ela desligou o computador e se sentou na cama, afastando

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