A vida é feita de lembranças

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Cinco minutos antes das aulas começarem, Rachel Diaz olhou para a bolsa vintage da Louis Vuitton aberto sobre a cama queen size. Estava cheio de materiais escolares que ela levaria para a Trinity que na maioria das vezes, a própria escola acabava cedendo aos caprichos dos alunos – uma combinação de colaboração entre ambas as partes. Aquela bolsa fazia parte de uma longa tradição de boa sorte da família: ela pertencera a Regina Diaz, a tetravó de Rachel. Regina usava aquela bolsa para todos os lugares chiques que ia desde a escola até seus últimos dias em Nova York.

Enquanto Rachel jogava um terceiro kit de canetas multicoloridas no topo da pilha de cadernos, seu celular fez um bipe. Um balão de mensagem verde apareceu na tela: era de Matt Fredericks. Oi, gatinha, onde você está?, dizia.

Rachel procurou pelo número de Matt em sua lista de contatos e ligou para ele.

— Estou arrumando meu material para amanhã – disse ela, quando o rapaz atendeu ao primeiro toque. – E você?

— Fazendo o mesmo – contou Matt. – Mas estou arrasado. Não consigo encontrar minha camiseta do Firebird.

— Ah, tenha dó! – zombou Rachel, enrolando uma mecha do seu cabelo castanho claro em torno do dedo. – Você não é um jogador oficial do time.

— Acertou. – Matt riu. – Mas realmente não consigo encontrá-la.

O coração de Rachel bateu um pouquinho mais rápido ao imaginar Matt correndo pelo estágio da escola sem camisa – mesmo se ele tivesse uma, ela torcia para ele não encontrar. A maioria dos meninos da turma dele, nesse ano, teriam idade o suficiente para entrar no time dos Firebirds ou em qualquer outro time que aceitariam novatos como ele.

Conhecera Matt algumas semanas antes, na reunião de pais oferecida pela Trinity para os novos alunos aceitos antecipadamente. Embora estranhasse o estilo rockeiro e descolado de Matt, ficar amiga dele acabou sendo a melhor coisa que acontecera naquele tedioso fim de semana de pré-calouros no campus.

Desde que Rachel voltara para Veridiana, ela e Matt mantiveram contato, mandando mensagens (principalmente a noite), e ligando um para o outro... quase o tempo todo. Durante uma temporada de True Blood, telefonaram um para o outro durante os intervalos para discutir sobre os bizarros poderes da bruxa Marni e a sua fixação para acabar com os vampiros de vez. Rachel apresentou Matt à banda Marina and the Diamonds, e ele ensinou-a a curtir o som de U2, Beatles e outras bandas do gênero. Antes que percebesse, Rachel estava totalmente a fim dele. O rapaz era divertido, inteligente e, mais do que isso, não parecia se abalar com qualquer coisa. Matt era o equivalente humano a uma massagem com pedras quentes e sais minerais – justamente o tipo de cara de quem precisava naquele momento.

Rachel meio que esperava que alguma coisa rolasse entre eles durante os próximos bailes que viesse durante o ano letivo da Trinity. O pátio de intervalo da escola parecia o cenário perfeito para um primeiro beijo emoldurado por um crepúsculo alaranjado e brilhante, sentados no chafariz da grama verde. Ou talvez o beijo pudesse acontecer durante a aula de álgebra – era a única matéria que eles estudariam juntos. Poderia ser enquanto estivessem fazendo trabalho juntos ou quando ele fosse a sua casa para lhe ensinar o dever de matemática; suas mãos, de repente, se encontrariam ao tocar o mesmo lápis. Eles se olhariam, largariam a droga do lápis e então...

Matt deu uma grunhida no outro lado da linha, e Rachel corou como se estivesse expressado suas fantasias em voz alta. A verdade é que não sabia exatamente como ele encarava o relacionamento dos dois – ele havia flertado com ela na Trinity, mas pelo que podia perceber, Matt se comportava assim com todas as garotas.

No mesmo instante, uma reportagem na televisão chamou sua atenção.

Acidente de carro:

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