Estou em um jardim, mas aqui não há flores, apenas uma grama enorme. Há uma imensa estrutura à esquerda, e portões, que com certeza foram feitos para ninguém escapar, à direita. Está de noite, e parece não ter ninguém do lado de fora, apenas seguranças que parecem não notar minha presença. Há uma grande placa escrita "Clínica Psiquiátrica de Londres" , e logo sei onde estou. Não literalmente, mas sei que estou num hospício. Avisto uns bancos e vou cuidadosamente para lá, para não notarem minha presença. Os seguranças estão conversando e não conseguem perceber que estou aqui. Estou bem perto da enorme estrutura, e avisto um jovem de cabelos encaracolados pela janela do hospício. Consigo perceber que estão torturando o jovem, e ele está gritando. Também consigo ver a fúria em seu rosto. Ele se levanta da cadeira onde estava amarrado e empurra os funcionários do hospício. Cinco minutos depois, consigo ver o local pegar fogo. Os seguranças de fora rapidamente correm para tentar sair do local, mas o fogo se espalha rápido demais. O fogo vem para cima de mim, e consigo sentir minha pele queimar. Levanto da minha cama no quarto do hospital, suando e com a respiração acelerada.
Quem é aquele rapaz? A pergunta que não sai da minha mente.
Ele parecia furioso, e tenho certeza que o incêndio do local foi causado por ele.
Pego meu celular na mesa em que horas atrás vi os papéis que me provaram que as minhas tentativas de suicídios foram reais. Vou cuidadosamente para não acordar Sophie, e depois de pegar meu celular, volto para minha cama. Assim que o desbloqueio, reparo as inúmeras mensagens e ligações perdidas, mas não me importo. Vou direto ao Google e pesquiso 'acidente na clínica psiquiátrica de Londres' . Segundos depois, acho os resultados. De todos, me interesso por uma imagem de um jornal bem antigo em que dizia:" "Um acidente abala toda a Inglaterra."
"Hoje,
12 de novembro de 1882, na cidade de Londres, uma casa psiquiátrica pegou fogo."
"Segundo informantes, aparentemente, um próprio paciente da clínica pôs fogo no local."
"O rapaz, de apenas 21 anos, morava aqui, na clínica e pôs fogo nela, matando todos, incluindo ele.""Leio umas dez vezes. Não pode ser coincidência. Reparo no ano que o acidente aconteceu. Com certeza, não é coincidência. Os outros resultados, falam o mesmo. Abro um em que fala mais sobre o rapaz.
"Harry Styles"
"21 anos"
"Um psicopata"
"Tinha problemas mentais desde pequeno, e aos quase 19 anos, seus pais colocaram o jovem na clínica"
"Fugiu 572 vezes em 2 anos de hospício"
"Matou os pais dois meses depois que foi internado"
"Dizia para suas vítimas ao ser perguntado quem era ele : sou o seu pior pesadelo"
Derrubei meu celular no chão. Olhei para Sophie, e ela ainda estava dormindo, apenas se mexeu ao ouvir o barulho. Começo a chorar e a tapar minha boca com as mãos. Não pode ser. Não pode ser ele. Não pode ser. Estou tremendo, em prantos, soluçando, suando frio.
Esse é o demônio que está me atormentando? O que ele realmente quer comigo? O que ele quer dizer que ele quer com "o que todo o inferno quer" ? Será que ele também dizia isso para todas as suas vítimas, ou o inferno me quer de verdade? Só quero entender o que está acontecendo. O porquê que ele me observa desde pequena, que ele me quer, que o inferno me quer.
Depois de meia hora, ainda estou chorando. Tiro o soro da minha veia e vou ao banheiro. Ainda estou chorando muito, e decido lavar meu rosto. Chego a pia, que tem um espelho acima. Estou péssima. Olheiras, cortes na bochecha, e no rosto inteiro, hematomas, e ainda por cima com os olhos inchados de tanto chorar. Um rosto realmente péssimo. Fecho meus olhos e junto minhas mãos para jogar a água que escorre da torneira em meu rosto. A imagem do rapaz empurrando os funcionários e com o rosto furioso surge em minha mente, e o fogo queimando em minha pele. Jogo mais água para afastar meus pensamentos.
"Tola, tola Samantha"
É ele. Meu coração acelera, estou trêmula.
"A garota mais tola que já conheci em toda minha vida... E na minha morte também"
"Pensa que me conhece mas não sabe quem eu sou"
"Se põe no seu lugar, e é melhor você ficar com medo"
Sinto uma mão apertando meu pescoço. Estou sem ar.
"Tentar se matar não foi o bastante por hoje? Acho que não. Você merece queimar no inferno."
Estou tentando retirar suas "mãos" do meu pescoço, mas ele não está literalmente aqui, então minha reação é insignificante.
"Não aguenta isso? Acha mesmo que irei soltar você? Você é tão tola! Mais do que eu tinha imaginado."
"É melhor você ficar quieta. Se não, eu te enforco de novo"
Choro, choro muito. Sento no chão, colocando minha cabeça entre meus joelhos, chorando.
-O que você quer comigo?
"Eu já disse, o que todo o inferno quer"
-E o que... O que o inferno quer?
Ele ri alto.
Fico sentada no banheiro por um bom tempo, olhando para o nada.
Já eram quase quatro horas da manhã, e volto para cama. Dez minutos depois que estou deitada, a enfermeira simpática de ontem entra no quarto. Eu finjo acabar de acordar com o barulho da porta.
-Me desculpe, não quis te acordar. Sei que teve dias péssimos, mas preciso olhar seus medicamentos.
-Sem problemas.
A enfermeira pega os medicamentos e repara que o soro não está mais ligado na minha veia.
-Você tirou seu acesso?
-Sim, me desculpe. Fui ao banheiro e não sabia como levar o soro sozinha.
-Pelo menos o medicamento tinha acabado.
Ela fura minha veia novamente e coloca o acesso.
-Você vai ficar apenas no soro para se hidratar.
Ela tira suas luvas e pega o recipiente que o soro estava e vai em direção à lixeira. Ela volta e para na metade do caminho.
-É seu celular?
Ela se abaixa e pega o iPhone do chão.
-Hum... Sim.
Ela me entrega e reparo que a tela rachou.
-Droga.
Murmuro.
-Bom, vou indo. Qualquer coisa, me chame.
-Ok.
Ela segue em direção à porta.
-Enfermeira?
-Pode me chamar de Susan.
-Ok, Susan. Você sabe quando eu vou poder sair daqui?
Ela segue até a mesa e pega nos papéis.
-De acordo com o formulário, você terá alta amanhã... Hoje à tarde.
-Ok. Obrigada, Susan.
-Por nada, descanse!
Ela sai do quarto e me deixa com a minha amiga adormecida.
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Depois de tempos, eu apareci.
❤️